Os grupos declaradamente racistas e xenófobos do Reino
Unido, como por exemplo o UKIP, não conseguiram transformar os seus milhões de
votos em deputados, mas a mensagem segregacionista não se perdeu e foi tomada
em mãos pelo primeiro-ministro David Cameron e respectivo governo. Reeleito de
fresco, Cameron soltou a língua e escancarou o que lhe vai na alma a propósito
da “ameaça” que a “praga” da emigração representa para a loira pureza britânica.
“Praga” foi a palavra escolhida pelo chefe do governo de Sua
Majestade para citar o movimento de refugiados desejando entrar no Reino Unido,
onde muitos têm familiares, a partir do porto francês de Calais. Autorizado
pela franqueza do discurso do seu chefe, o ministro dos Negócios Estrangeiros,
Philip Hammond, assumiu essa preocupação de maneira mais abrangente, em nome de
toda a Europa, durante uma entrevista à BBC. “A Europa não conseguirá
proteger-se e preservar o seu estilo de vida e a sua estrutura social se
absorver os milhões de imigrantes vindos de África”, disse. E logo a
comunicação social tablóide e não só se sentiu encorajada a soltar os
impropérios racistas, até agora tão dificilmente recalcados, para associar os
refugiados e imigrantes a “pilhagens”, “marés de desordeiros”, “correntes de malfeitores”
– enfim, a escalada verbal corresponde a uma desbragada perda de compostura, à
libertação da natureza autêntica de quem nela participa e, por este andar, não
tardará a passar à fase da acção repressiva e punitiva.
O reaparecimento da insolência racista através da Europa,
observável em comportamentos como estes, da construção de vedações, redis e
muros anti refugiados e também da instauração de governos de índole fascista, é
inquietante.
O que torna ainda mais assustadora a proliferação destas
manifestações de desassombro racista é a sua conjugação com a
irresponsabilidade política dos dirigentes que as proferem. Enquanto se queixa
da “praga” de refugiados, David Cameron defende como uma das panaceias para o
problema a restauração da estabilidade política em países de onde chegam os
imigrantes, citando explicitamente a Líbia, a Síria, o Iraque e o Afeganistão.
Precisamente as nações onde ele mesmo, parceiros, antecessores e aliados
instauraram o caos de onde fogem aqueles tudo arriscam, inclusive a vida, para
chegarem à Europa. Isto é, queixam-se da “praga” e barricam-se contra ela os
mesmos que a criaram. Os mais cegos dos cegos são os que não querem ver.
No caso de David Cameron e respectivo ministro dos Negócios
Estrangeiros – que por sinal foi conselheiro avençado do governo do Malawi
antes de se dedicar a altas cavalarias políticas – registe-se que tinham o
racismo à flor da pele, de tal modo que nem precisaram que o problema assumisse
dimensões exasperantes para gritarem o que lhes vai na alma. Os pedidos de
entrada no Reino Unido nos primeiros meses deste ano foram da ordem dos 7500,
cerca de quatro por cento dos registados em toda a União Europeia, número muito
inferior ao de países como a Áustria, Suécia, França, Itália, Alemanha e da
própria Grécia, onde o pedido de entradas foi 16 vezes superior. Um valor que
representa, aliás, uma ínfima gota de água quando comparado com os refugiados
sírios no Líbano (1,1 milhões, um quarto da população do país), na Turquia (1,8
milhões) ou na Jordânia (630 mil), países assim atingidos devido à
irresponsabilidade de um governo fazedor de guerras como é o do Reino Unido –
entre alguns outros aliados, claro.
Se a Europa “não consegue preservar o seu estilo de vida e a
sua estrutura social”, como se queixa o ministro britânico dos Negócios
Estrangeiros, então os principais responsáveis são os dirigentes políticos que
tomaram conta dos países e instituições da União Europeia.
Um texto muito bom, porque aponta claramente a responsabilidade directa dos Políticos Europeus no caos em que se encontra o Médio Oriente, Os Povos fogem, quando não morrem no local, da PRAGA que foi planeada e executada a partir da Cimeira dos Açores. Lembram-se?
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