Hoje é um dia especial, um dia capaz de relançar a esperança
das pessoas em Portugal. Não lhe chamemos histórico, não toquemos trombetas
como é usual e burocrático fazer quando alguma coisa de importante acontece e
ainda está apenas em estado de embrião – forte, é certo – mas submetido a uma
gestação sob tempestades de calúnias e mentiras, a um nascimento ameaçado por
golpes de malfeitores, a um crescimento à mercê de anunciadas barragens de fogo
sem quartel.
O edifício político inovador em Portugal resultante do
acordo entre o Partido Socialista, o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista
Português, ao qual está agregado o Partido Ecologista Os Verdes, é uma
afirmação de vitalidade democrática num país onde a democracia tem estado
sequestrada pelos que se olham como seus eternos proprietários. Os partidos
citados têm maioria absoluta na Assembleia da República, um programa de governo
que promete estabilidade durante a legislatura, o que significa legitimidade
total e absoluta para governar nos termos da fórmula por eles acordada.
O processo beneficia de uma transparência onde se reflectem
a vontade e a soberania populares. Portanto, qualquer outra solução governativa
que venha a ser sugerida ou forçada pelo ainda chefe de Estado será ilegítima,
corresponderá a um golpe contra a democracia. Sobre isto não resta qualquer
dúvida, por muito que a mafia ainda governante se desmultiplique em manobras e
mensagens inspiradas pelo terrorismo político e também sopradas pelos círculos
autoritários e austeritários de Bruxelas ao serviço das quadrilhas económicas e
financeiras internacionais.
A nova realidade política em Portugal é dominada por gente
séria, que sabe o que quer para o país, que põe os portugueses acima dos
negócios, que finalmente privilegia o que a une sobre o que a divide, que preza
a soberania nacional. Toda uma situação que tem um potencial único para travar
e começar a inverter as consequências trágicas da política de caos,
desmantelamento e parasitismo a que os portugueses, com excepção das minorias
servidas pelo governo cessante, têm estado submetidos.
O acordo político de governo agora estabelecido em Portugal
é um marco na história dos últimos anos na União Europeia: uma machadada na
imposição do regime de arco da governação, uma negação do bipartidarismo que
passo-a-passo, baseado em manipulações também através de sistemas eleitorais,
tem vindo a ser imposto como um disfarce mal-amanhado de um sistema de partido
único pan-união. A nova realidade portuguesa é um exemplo de genuinidade
democrática, uma afirmação livre da vontade popular que enfrenta corajosamente
um sistema que se entreteve a destruir paulatinamente os mecanismos
democráticos, procurando eternizar-se sem jamais ser questionado, qual ditadura
light.
Hoje é um dia especial em Portugal. Abre-se uma porta que
parecia irremediavelmente fechada. Honra às forças políticas e aos dirigentes
que tiveram a ousadia – num ambiente de propaganda intimidatória interna e
externa – de pensar em primeiro lugar nos portugueses, na restauração da
dignidade do seu trabalho, dos seus salários e pensões, de direitos antes
adquiridos e entretanto roubados, na reactivação do tecido económico nacional. De
ousarem, em suma, travar o passo à austeridade, tenebroso sistema organizado para
violação dos direitos humanos. O que surge, para muitos ilusionistas da
política, como uma “aberração” ou uma opção “fora do tempo” pode ser, afinal,
um tempo novo para Portugal, uma declaração de dignidade perante a indignidade
europeia reinante.
A reacção está a ser e será ainda muito mais tremenda,
intimidatória, avassaladora em termos de chantagens europeias e de propaganda,
porque conhecemos o estado de sabujice e de manobrismo censório a que o sistema
até agora reinante reduziu a comunicação social.
É importante ter a noção disso e de que a democracia, para o
ser de facto, só pode ser fruto do combate diário e solidário dos democratas
que se revêem nesta solução. A mudança potenciada pela nova realidade não
poderá consumar-se apenas no hemiciclo e nos gabinetes de São Bento. Tem de ser
tecida por todos nós, sobrepondo sempre, dia-a-dia, o que nos une ao que nos
divide, formando uma barreira sólida, ombro-com-ombro e em todo o país, contra
os interesses poderosos que manipulam e instrumentalizam a direita política.
O objectivo de devolver aos portugueses muita da dignidade
perdida não foi atingido nem cabe unicamente ao governo fruto do entendimento
entre PS, Bloco, PCP e Verdes. Apenas se concretizará com o empenho de todos
nós, com muita coragem e toda a determinação frente aos que querem travar a mudança.
Hoje é um dia especial, um dia de partida para tempos melhores
que estão apenas prometidos e que só o serão se formos capazes de lutar e agir
unidos, unidos como os dedos da mão…
O impossível é tão só e apenas aquilo que ainda não aconteceu
ResponderEliminare na próxima terça-feira vai acontecer
Esse, desculpa lá, vai ser mesmo um dia histórico
... Verifica-se uma mudança quando a gente deixa de crer naquilo que em outro tempo pode ser verdadeiro, mas agora se converteu em falso, quando retira seu apoio a instituições que em outro tempo lhe podem ter servido, mas que agora já não servem; Quando se nega submeter-se ao que uma vez pareceu ser um jogo limpo, mas que agora já não é. Tais mudanças, quando se verificam, são o resultado de uma verdadeira educação.
ResponderEliminar"Martin Luther King"... e com este discurso , expresso o meu sentir pela mudança que se avizinha e que se faz necessária.