A NATO iniciou no Mar Egeu a primeira guerra
declaradamente contra civis desarmados, indefesos, buscando apenas a
sobrevivência. Sob comando alemão, forças navais do Reino Unido, Turquia,
Grécia e Canadá juntam-se no Mar Egeu para realizar uma operação conjunta
contra os refugiados das guerras do Médio Oriente, com o objectivo de
interceptar as barcaças onde procuram manter-se vivos, para os devolver aos países
de origem.
O primeiro-ministro Britânico, David Cameron, confirmou a
operação, “de importância vital”, anunciando o envio de um navio anfíbio
equipado com um helicóptero Wildcat. Tudo isto acontece, segundo o
primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, “no meio de uma crise de nervos
provocada principalmente por razões de fraqueza política”. Ficando então a
saber-se que os dirigentes europeus não acham melhor remédio para tal
debilidade, que é congénita, do que deitar mãos às armas para combater os
fugitivos de guerras que eles criaram, e a quem sobra a alternativa de morrerem
afogados. Chama-se a isto “guerra humanitária”, preservar “o nosso civilizado
modo de vida” e consolidar “os padrões democráticos, depois de se terem
multiplicado conflitos para “instaurar a democracia”
A primeira acção partiu da Alemanha, que passou do
acolhimento festivo ao envio de três navios de guerra com destino ao Mar Egeu, dotados
de meios de intervenção rápida, para agora combater os refugiados como
criminosos. Nas mesmas águas estão igualmente navios de patrulha fronteiriça,
aos quais se vão juntar meios militares gregos, turcos e canadianos. A Turquia
será municiada com dados obtidos pela espionagem da NATO sobre os movimentos
das massas em fuga.
O pretexto oficial para esta declaração de guerra contra um
exército de seres humanos desesperados é o combate aos traficantes de pessoas,
que montaram redes mafiosas à caça de lucros que, segundo dados de organizações
de socorro aos refugiados, superam os gerados pelos tráficos de droga e de
armas.
Entretanto, os dirigentes da União Europeia voltam a
reunir-se para discutir o problema e a sua “crise de nervos”. Sejam quais forem
os resultados, conhecemos já o espírito dominante: resolver a crise dos
refugiados pela força, com recurso à guerra.
Não é difícil concluir, aliás, que não conhecem outro
caminho. Em primeiro lugar, os dirigentes europeus são cúmplices dos comportamentos
que desencadearam guerras e a completa desarticulação de países como o
Afeganistão, o Iraque, a Síria e a Líbia – aos quais podemos acrescentar as
consequentes situações caóticas existentes no Líbano e na Jordânia. Para que
tal acontecesse, os dirigentes europeus, tal como os norte-americanos,
convergindo na NATO, não hesitaram em fomentar e em articular-se com grupos
terroristas sem excepção, o que significa terem as mãos sujas do sangue que a
Al-Qaida e o Estado Islâmico fazem correr. Depois, aterrados com a vaga humana
de fugitivos gerados por essas guerras, os dirigentes europeus toleraram que,
através de toda a Europa, fossem levantadas barricadas em forma de muros,
valas, cercas de arame farpado, grupos de assalto e milícias nazis. A seguir,
respeitando a incontestada liderança alemã, consentiram que a União Europeia
fosse aos cofres, trancados aos europeus mais necessitados, para deles sacarem
milhões para o islamismo turco, cuidando que ele – que tanto ajuda as guerras
na Síria e no Iraque – travaria os refugiados. Até que – fase em que agora
entrámos – os dirigentes europeus organizam uma guerra que, em última análise,
atinge as vítimas inocentes das guerras que eles próprios contribuíram para
desencadear.
Sendo que a NATO, entidade que, directamente ou por
interpostos aliados é parte original e activa nos conflitos no Iraque, na
Líbia, no Afeganistão e na Líbia, conduz agora a guerra contra os que fogem desesperadamente
dessas tragédias.
Fecha-se o ciclo através da fórmula mágica de lançar uma
guerra contra as consequências de outras guerras? Certamente que não. Porque
nada no comportamento dos dirigentes europeus denota o senso comum que
aconselharia a tentar resolver, com seriedade e respeito pelos direitos
humanos, as causas do problema, as guerras que em tempos ajudaram a
desencadear. Preferem acolher-se à patranha cultivada pela NATO, que mais
parece retirada dos confins da mais negra propaganda goebeliana, de que a
Rússia e o regime sírio de Assad se mancomunaram para inundar a Europa de
refugiados, tentando assim acabar com a União Europeia.
Não será preciso isso: a União Europeia é inimiga de si
própria. O pior é que todos nós, refugiados ou não, sofremos as consequências;
as quais, por este andar, ameaçam tomar proporções catastróficas.