Os Estados
Unidos da América e os dirigentes da União Europeia, conhecidos estes pelo seu
comportamento pavloviano salivando às sinetas Washington, decidiram reforçar as
sanções económicas contra a Rússia. Só porque sim, por causa das coisas na Ucrânia,
da reintegração da Crimeia na Rússia, da resistência das populações russófonas
às limpezas étnicas em curso no Leste do país, enfim mais sanções por nada de
novo.
Por isso,
quando, por exemplo, os agricultores da União Europeia, portugueses incluídos,
decidirem protestar contra a crise agravada pelas restrições impostas à
importação dos seus produtos pela Rússia, deverão antes virar-se contra as decisões
canhestras e anti económicas adoptadas pelos seus próprios governos.
Retomando o
fio à meada das novas sanções à Rússia, observemos o contexto temporal e
factual em que foram agravadas. Por exemplo, a multinacional norte-americana de
sondagens Gallup dedicou-se a auscultar as opiniões dos ucranianos sobre o
governo criado em Kiev, e as conclusões não poderiam ser mais incómodas para os
adeptos da “revolução da Praça Maidan”, entre os quais se encontram mui
progressistas eurodeputados e eurodeputadas. Nove em cada dez dos ucranianos
ouvidos consideram que os níveis governamentais de corrupção são hoje muito
mais elevados; e a popularidade do “rei do chocolate” Poroshenko, que usurpou a
chefia do Estado, fica-se pelos 17%. Yakunovich, o presidente deposto pelo
golpe, teve um mínimo de popularidade de 23%, e foi no auge da campanha de
propaganda visando denegri-lo e afastá-lo.
Reconhece a
Gallup que poucos são os ucranianos que ainda chamam “revolução” ao que se
passou – assim o ordena a propaganda oficial - preferindo qualificá-lo como o
que realmente foi: um golpe. A empresa de sondagens não incluiu perguntas sobre
a crescente influência nazi no governo do país – a tanto não se atreveu – mas quanto
a isso basta a realidade conhecida, é desnecessário produzir inquéritos. A
realidade integra também uma temível bomba de relógio para a humanidade, que são
as diligências de Obama e da NATO para instalar armas nucleares na Ucrânia,
isto é, na fronteira com a Rússia. Quando qualquer coisa de semelhante aconteceu
– o dirigente soviético Krustchev procurou instalar mísseis nucleares nas
imediações dos Estados Unidos, em Cuba, em 1962 – o mundo esteve a beira de uma
guerra entre as duas grandes potências.
Alarguemos um
pouco mais o contexto das novas sanções norte-americanas e europeias à Rússia.
Foram decididas durante uma das mais eficazes semanas da guerra da Rússia e do
exército sírio contra o chamado Estado Islâmico, ou Isis, ou Daesh. Nos últimos
sete dias a aviação russa na Síria fez 302 saídas, destruiu 1093 alvos
terroristas em províncias estratégicas como Alepo e Hama, um extenso campo de
treino de mercenários oriundos principalmente da Turquia e de Estados da antiga
União Soviética, duas refinarias de petróleo, três áreas de extracção e dezenas
de estações de abastecimento de combustíveis, além de veículos transportando terroristas
e armas pesadas. As acções da aviação russa permitiram ao exército sírio
reconquistar território e um aeroporto militar. As notícias do mesmo período
são omissas quanto a danos provocados aos terroristas pela famosa “coligação
militar” norte-americana, europeia e saudita. Porventura a eficácia terá sido
zero: há períodos assim…
Em boa
verdade, o tempo não chega para tudo: ou se fazem operações anti terroristas ou
se organizam laboriosos conclaves sobre sanções a aplicar aos que fazem o favor
ao mundo de combater o terrorismo. A famosa “coligação das democracias” deu
prioridade às sanções. Ela lá sabe: o combate ao terrorismo pode esperar.
Sem comentários:
Enviar um comentário