Passam 21 anos e alguns meses entre o assassínio da
jornalista italiana Ilaria Alpi e do seu câmera Milan Hrovatin na Somália e o
aparecimento de uma cruz suástica desenhada no relvado de um estádio croata
para um jogo à porta fechada, punição devida à singela explicação de que “os
adeptos croatas entoam cânticos racistas”.
O que tem uma coisa a ver com a outra? Nada, pensarão os consumidores
militantes de telejornais; que ideia absurda, exclamarão alguns grandes
editores, que provavelmente não sabem quem foi a sua corajosa colega Ilaria
Alpi.
Ora uma coisa tem a ver com a outra, e muito, porque faz
parte da ordem natural das coisas no mundo que nos governa.
O nazismo na sua versão croata, agora o “neo-ustachismo”,
está vivo e recomenda-se. É a ideologia do “pai fundador” da “Croácia moderna”
- garboso membro União Europeia, pois claro - Franjo Tudjman, que tem na actual
presidenta, Kalinda Grabar Kitarovic, uma digna sucessora. Outrora com a
Alemanha de Hitler, hoje com a Alemanha de Merkel, a Croácia, ora uma província
económica alemã, sofre de uma vocação supremacista dentro dos Balcãs. Os
neo-ustachis estão para a Croácia como os banderistas para a Ucrânia, são os
herdeiros dos colaboradores de Hitler chegados ao poder. A senhora Kalinda
Grabar Kitarovic saltou para a presidência croata a partir do cargo de secretária
geral adjunta da NATO e pode dizer-se que é unha e carne com a senhora
Victoria Nuland, a subsecretária de Estado norte-americana que foi a
operacional golpista na Ucrânia. Por isso, quando a presidente croata, numa
indignação ridícula, diz que manda investigar o aparecimento de uma suástica
num relvado croata para um jogo com a Itália a notícia seria para rir se tal
desplante não tivesse a gravidade que tem.
Nada é mais simbólico que a exibição do nazismo croata num
jogo logo com a Itália.
Ilaria Alpi, jornalista italiana, foi assassinada na Somália
com o seu câmera Milan Hrovatin (por sinal de origem croata) em 20 de Março de
1994. Um corajoso documentário de Luigi Grimaldi visível na Rai 3, demonstra que
os jornalistas foram assassinados pela CIA, em colaboração com a Gladio, seita
terrorista nazi dentro da NATO, e com os serviços secretos italianos, por terem
descoberto que a Somália era um entreposto de passagem de armas
norte-americanas para a Croácia, então sustentada pela NATO na guerra para
destruir a Jugoslávia. Uma guerra da qual o neo-ustachi Franjo Tudjman emergiu
para a presidência do novo país. Segundo Ilaria Alpi, a CIA usava barcos da
empresa Schifco, que a Itália oferecera oficialmente para desenvolvimento da
pesca na Somália. Esta frota, segundo as investigações de Ilaria Alpi, era
também usada para despejar resíduos tóxicos radioactivos nas águas somalis. Na altura,
recorda-se, estava em curso a primeira “guerra humanitária” promovida pela NATO
e os Estados Unidos, a que se seguiram Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria…
Sempre em nome dos direitos humanos e da missão de salvar vidas. A justiça e os
parlamentares italianos descobriram um único culpado pela morte de Ilaria Alpi,
um cidadão somali que os pais da jornalista asseguram estar inocente.
Por falar em Síria, a Croácia é agora um dos países que,
além de fornecer armas aos nazis ucranianos, contribui para abastecer os
mercenários do tipo Al Qaida e Estado Islâmico que alimentam a guerra civil
síria a soldo da NATO, Estados Unidos e amigos, pois quem havia de ser? A
Croácia presidida por uma neo-ustachi devolve hoje, através da Turquia, os
favores que há 20 anos lhe foram prestados, como demonstrou a jornalista Ilaria
Alpi, sendo por isso silenciada.
Porque em silêncio e para silenciar quem descobre
incomodidades deste tipo existe o Team 6, um super secreto sistema
norte-americano de comandos denunciado pelo New York Times que pratica pelo
mundo fora, onde quer que o poder global o exija, a chamada “queima de arquivo”
através de assassínios selectivos.
A relação entre uma suástica num relvado croata e o
assassínio de Ilaria Alpi faz todo o sentido. São sinais do mundo que temos.
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