Depois de Barack Obama, chega a vez de o regime neonazi
vigente na Ucrânia poder vir a ser agraciado com o Prémio Nobel da Paz através
da figura do seu presidente, o oligarca Piotr Poroshenko, entronizado através
de eleições parciais e manipuladas.
Uma carta enviada pelo presidente do Parlamento de Kiev,
Vladimir Groysman, à encarregada de negócios da Embaixada dos Estados Unidos em
Oslo, Julie Furuta-Toy, agradece as pressões já realizadas sobre o Comité Nobel
a favor do chefe da junta ucraniana mas adverte que a acção tem de continuar
uma vez que, até agora, apenas dois dos cinco membros acataram as instruções
norte-americanas para a escolha de Poroshenko. De acordo com a mesma carta, “aguardamos
mais esforços no sentido de alterar as posições de Beirit Reiss-Anderssen, Inger-Marie
Ytterhorn e especialmente do presidente do Comité Nobel, Kaci Kullmann Five”.
Nos termos da carta, que cita o envolvimento pessoal da
subsecretária de Estado Victoria Nuland na operação, a atribuição do Nobel da
Paz a Poroshenko será muito importante para garantir a “integridade da Ucrânia”,
incluindo a reintegração da Crimeia, e também para a “democracia e a liberdade
de expressão em todo o mundo”.
É verdade que o Nobel da Paz anda pelas ruas da amargura, de
tal modo que o Parlamento Norueguês se viu forçado a destituir o anterior
presidente do Comité, o ex-primeiro ministro Thorbjørn Jagland, por comprovada
corrupção. Jagland, presidente do Conselho da Europa e um dos notáveis trabalhistas
(sociais-democratas) noruegueses, foi relegado para a posição de membro do
Comité e nessa qualidade – mostrando uma notável coerência e uma desafiadora
contumácia – é agora um dos dois elementos que já se manifestaram pela
atribuição do prémio a Poroshenko. O outro nessa situação é o conservador
Kenrik Syse, do mesmo partido que Kulmann Five, o actual presidente do Comité,
pelo que a formação da necessária maioria não é assim tão imprevisível.
É importante salientar que a intensificação das pressões
no sentido de o Nobel ser atribuído a Poroshenko está associada a jogos
internos de poder nos Estados Unidos da América desencadeados depois de o
secretário de Estado, John Kerry, se ter encontrado em 11 de Maio com o
presidente russo pedindo-lhe o envolvimento numa solução negociada da questão
ucraniana.
Esta iniciativa de Kerry e Obama causou a ira dos
neoconservadores, dos quais Victoria Nuland é a ponta de lança na Ucrânia,
empenhados não apenas na sabotagem dos acordos de Minsk como no reforço das
operações militares contra as populações do Leste e Sudeste do país. A carta
contem uma sibilina insinuação segundo a qual a entrega do Nobel a Poroshenko
poderá criar condições susceptíveis de evitar as manifestações de força que o
regime de Kiev está pronto a desencadear contra as regiões de maioria
russófona.
Poroshenko encabeça um regime instaurado por golpe de
Estado, institucionalizado através de eleições fraudulentas e parciais,
chefiado por uma junta de poder no qual os aparelhos militar e de segurança
foram entregues a grupos nazis que se declaram herdeiros das correntes
fascistas que colaboraram com as tropas de Hitler nas chacinas praticadas durante
a ocupação alemã. O silêncio em torno dos resultados dos prometidos inquéritos
reforça as suspeitas de envolvimento da junta de Kiev no derrube do avião
malaio que fazia o voo MH17 com 300 pessoas a bordo, em 17 de Julho do ano
passado. As operações repressivas realizadas pelas tropas ao serviço da junta
no Leste e Sudeste da Ucrânia têm sido denunciadas como limpezas étnicas, em
consonância, aliás, com os ideólogos nazis no poder que reclamam uma
purificação da população do país. Além disso, a junta e o parlamento têm vindo
a decretar a ilegalização de forças políticas da oposição, começando pelos
comunistas, e a forçar o encerramento de numerosos meios de comunicação social.
O presidente ucraniano assinou recentemente um decreto segundo o qual as
organizações que colaboraram com Hitler são reconhecidas como “combatentes da
liberdade”.
De descrédito em descrédito, o Nobel da Paz baterá, sem
dúvida, no fundo se as pressões em curso sobre o Comité de Oslo resultarem e
Piotr Poroshenko, um senhor da guerra, for o escolhido de 2015.
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