A estação de TV gerida por um misto de executivo de
Bilderberg e lobby Marinho saudoso de um Brasil governado a partir de
Washington começou a apregoar o seu próximo atentado ao direito dos portugueses
à informação, recorrendo ao inconfundível paleio de banha de cobra do
nacional-bacoquismo lusitano que se acha iluminado.
Podia ser qualquer das outras TV’s existentes no menu
disponível, porque não há quem as diferencie em vocação, conteúdos e espírito
censório já que devem todas elas obediência ao arco da governação e, como muito
bem sabemos, nem a censura escapou à fúria privatizadora dos governos das
últimas décadas, mesmo quando exercida por entidades nominalmente públicas.
É verdade que as leis eleitorais estabelecem um tratamento
igual para todas as forças políticas que se apresentam a eleições. Porém, como
também sabemos, as leis fizeram-se para ser violadas, e quando não existem alçapões
para tal inventam-se. O Estado, é certo, deveria travar estas manobras para que,
pelo menos, o espírito da lei que rege as escolhas dos cidadãos, a lei eleitoral,
prevalecesse perante o desrespeito ostensivo praticado pelos órgãos de
propaganda. Mas o Estado, helas!... O Estado são eles mesmos.
Pois a dita estação apregoa importantes e sem dúvida muito esclarecedoras
entrevistas a dois cabeças de lista às próximas eleições gerais. Não sabemos
ainda quantos se apresentarão às urnas, mas a TV em causa já decidiu: um destes
dois vai ganhar, aos portugueses cabe escolher ou um ou outro, o resto é
paisagem para fazer de conta que os votos contam para alguma coisa ou, como se
diz no jargão futebolístico, joga-se para cumprir o calendário.
Assim sendo, num canto do ringue teremos o campeão em
título, um dos caniches favoritos com que a senhora Merkel se passeia nas
cimeiras europeias e que se alguma vez consegue arreganhar a taxa é contra o
malfadado homólogo grego; no outro canto o candidato ao título, um retrato
robot desenhado com inspiração nas caricaturas do senhor Hollande, do senhor
Blair e do senhor Soares, de preferência ainda com os contornos que usou para
nos encafuar à viva força no monte de trabalhos com que nos debatemos. Existe
um pequeno challenger, que em última análise será o emplastro sempre ao lado do
vencedor, esse resultante de uma manipulação genética aleatória conseguida
metendo numa moulinex os genes de figuras como as senhoras Le Pen e Lagarde e
de outros valerosos democratas nacionalistas e/ou neofascistas entre os quais
se citam apenas, para não enfastiar, nomes como os de Farage, Viktor Orban e
Poroshenko. Este pequeno challanger não será entrevistado, mas conhecendo nós o
que a casa gasta, é como se fosse.
Vale este critério por dizer que, para felicidade dos
portugueses garantida pela prestimosa estação, não precisam de matar a cabeça a
escolher o seu futuro no próximo quinquénio. Podem decidir se querem mais
austeridade ou mais austeridade, mais dívida ou mais dívida, mais despedimentos
ou mais despedimentos, ainda mais miséria ou ainda mais miséria, mais troika ou
mais troika, menos salários ou menos salários, mais impostos ou mais impostos,
arco da governação ou arco da governação. Entre Coelho ou Costa, tal como quer
a TV de Bilderberg, e as outras quererão também, os portugueses poderão
escolher o neoliberalismo à moda de Centeno ou de Loureiro/Cavaco/Nogueira. É assim como
escolher entre decapitação ou fuzilamento, forca ou injecção letal.
Pode dize-ser: as televisões apenas se limitam a seguir o
que é dado como certo. Tal como o que é dado como certo foi ajudado a fabricar
pelas práticas censórias das televisões e afins. No fundo um ciclo tão vicioso
como o próprio arco da governação, não funcionassem eles em harmonia perfeita.
Seja como for, mesmo envolvidos por tais manobras – sem contar
as que a NATO virá para cá fazer nesses dias - os portugueses terão no segredo
do voto uma oportunidade única de, em liberdade e sem medos, pregarem uma
enorme partida a esta clique corrupta que nos governa através de todos os
mecanismos podres do arco da governação, incluindo os principais meios de
comunicação social.
Se cada um pensar pela sua cabeça, se fizer cego e surdo
perante a censura e não aceitar a canga que insistem em por-lhe, Portugal
ganhará um novo alento. O único voto útil é o que nos pode livrar do arco da
governação. E assim poderá chegar, mais uma vez, o dia das surpresas.
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