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sábado, 20 de junho de 2015

KOSOVO, ESPELHO DA “NOVA ORDEM”


A chamada independência do Kosovo, isto é, a transformação de parte do território histórico da Sérvia num protectorado da NATO com múltiplas utilidades, é um exemplo da “nova ordem” instaurada no mundo, guerra após guerra, no pós-guerra fria e na sequência da tão festejada queda do muro de Berlim.
Do Kosovo actual fala-se pouco, e com muito cuidado, porque situações como a existente neste território impõem uma censura cuidadosa, sistemática, metódica para que o mundo não se aperceba dos objectivos e dos resultados já apurados em consequência de tão vergonhosa operação, a propósito da qual não basta recordar os criminosos bombardeamentos da NATO sobre Belgrado em 1999. Crimes contra a humanidade que a lei to mais forte manterá impunes, pelo menos por enquanto.
Através de canais que conseguem ir sobrevivendo à sanha censória é possível ter conhecimento dos êxitos somados pelo governo do Kosovo, “provisório” desde 2008 e sob protecção da NATO – escrever tutela era pouco – em domínios como o tráfico de estupefacientes, o contrabando de órgãos humanos arrancados a prisioneiros sérvios (relatado num relatório do Conselho da Europa e que o Conselho da Europa continua a enjeitar), a transformação do território numa imensa base militar ao serviço das agressões internacionais da NATO.
Para todos os efeitos, de acordo com a prodigiosa comunicação social global que mistura a informação com a ficção de modo a que os cidadãos de todo o mundo ignorem a realidade que os cerca, o Kosovo está agora na sua fase de “desenvolvimento” que se segue à guerra.
Desse “desenvolvimento” são testemunhas, entre milhares de outros, os cidadãos de Hade, uma aldeia a uma dúzia de quilómetros da estátua de Bill Clinton, o “libertador”, erguida na capital do protectorado, Pristina.
Os habitantes de Hade acabaram há pouco de reconstruir a sua aldeia a duras penas, depois do exílio a que foram sujeitos durante a guerra que fez deles refugiados e arrasou os seus lares, os seus bens. Agora que voltaram a dedicar-se a apascentar as suas vacas, a cuidar das suas hortas, o governo do Kosovo “livre”, de mãos dadas com o Banco Mundial, está a expulsá-los para onde calha porque exactamente ali em Hade, com repercussões em aldeias vizinhas, se constrói uma central eléctrica que usa os recursos de carvão da região, cuja exploração já está em curso. Por causa das minas e da central eléctrica cerca de mil aldeões de Hade já foram expulsos das suas renovadas habitações. Outros milhares, da mesma aldeia e outras vizinhas, aguardam sorte idêntica. O Banco Mundial, cujos estatutos escritos em letra morta exigem que cuide das populações afectadas pelos projectos que “apoia”, diz que os seus investimentos ainda estão em curso, que não tem nada com o assunto e que até já pediu ao governo de Pristina a adopção de “boas práticas”. O governo da NATO que chefia o Kosovo assegura que os cidadãos expulsos das suas casas “foram compensados de maneira muito favorável”.
“Isto é pior que a guerra”, lamenta um habitante de Hade citado numa reportagem publicada pelo jornal norte-americano Huffington Post. “Na guerra”, acrescenta, “sabíamos de que lado estávamos; agora, onde quer que nos dirijamos ninguém quer saber de nós”.


Chegou a hora de os habitantes do Kosovo, sérvios ou albaneses, começarem a conhecer o conteúdo dos “direitos humanos” que lhes prometeram aquando da libertadora cruzada atlantista. 

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