pub

quarta-feira, 18 de março de 2015


Colonizador e fora-de-lei
 

NETANYAHU GANHOU, ONDE ESTÁ A SURPRESA?

Netanyahu ganhou as eleições gerais israelitas. Por incrível que pareça, os doutos sábios da propaganda cultivada como comunicação social confessam-se surpreendidos. Todos sabemos que o mundo em que vive tal gente funciona numa realidade paralela, mas escusavam de exagerar.
Netanyahu ganhou e vai formar governo contando com o apoio da extremíssima direita onde se unem os fundamentalistas religiosos e as seitas criminosas de colonos e também, muito provavelmente, com os dissidentes do seu próprio partido Likud, a quem já prometeu a pasta das Finanças. É a ordem natural das coisas desde que a estratégia do sionismo extremista começou a alimentar a lenda da bomba atómica iraniana, com a cumplicidade dos suspeitos do costume, e arrastou meio mundo para a tarefa de redesenhar o mapa do Médio Oriente com recurso ao Estado Islâmico e similares, aniquilando, ao mesmo tempo, a possibilidade de criação de um Estado Palestiniano. No bojo está o Grande Israel e, por enquanto, Netanyahu vai sendo o “messias” de tal tarefa.
A lista árabe unida foi a terceira mais votada nas eleições sionistas e alcançou 13 lugares em 60. Tal resultado revela como a sociedade israelita confessional se polarizou através da segregação dos árabes com bilhete de identidade de Israel, a pontos de estes terem ignorado por completo nas urnas os partidos sionistas seculares, o que acontece pela primeira vez de modo tão ostensivo

 

 

O NEGÓCIO DA MORTE VAI DE VENTO EM POPA

O comércio mundial de armas cresceu 16 por cento nos últimos cinco anos, concluiu o SIPRI, Stockholm International Peace Research Institute na mais recente edição dos seus relatórios anuais.
Este crescimento, porém, não passa de uma amostra, porque não inclui o tráfico e o contrabando de armas, as transacções associadas a acordos políticos, tão pouco os negócios desenvolvidos dentro de cada país. Os Estados Unidos da América, por exemplo, além de serem os maiores exportadores e um dos maiores importadores, estabeleceram no seu orçamento uma rubrica de 95 mil milhões de dólares que passarão, via cofres do Estado, dos bolsos dos contribuintes para as contas dos mais destacados expoentes da indústria da morte, com Lokheed e Boeing à cabeça.
Se existe sector por onde a crise não passa, antes pelo contrário, é o do negócio da morte. O relatório do SIPRI relativo a 2014, agora divulgado, revela que os Estados Unidos são responsáveis pela exportação de quase um terço (31 por cento) das armas mundiais, seguidos pela Rússia, com 27 por cento, e a China, que subiu de sexto para terceiro lugar, com cinco por cento. Nos primeiros sete exportadores estão quatro países da União Europeia – França, Reino Unido, Espanha e Itália, seguidos pela Ucrânia, imagine-se – não sendo segredo que algumas das armas recebidas pelo aparelho militar e de segurança neonazi deste país seguem directamente para grupos terroristas tipo Estado Islâmico e Al Qaida.
Por falar destes, o relatório do SIPRI revela que o volume de armas importadas pelas petroditaduras do Golfo, com destaque para a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, cresceu 71 por cento nos últimos anos, contribuindo, juntamente com Israel, para que a subida global em todo o Médio Oriente tenha atingido os 54 por cento. Olhando estes números e sabendo que os grupos de mercenários islâmicos são armados sobretudo pelas monarquias terroristas da Península Arábica, percebe-se a pujança revelada pelo Estado islâmico e afins. Repare-se, por exemplo, neste verdadeiro fenómeno: os Emirados Árabes Unidos, que têm uma população da ordem dos oito milhões de pessoas, a maioria das quais imigrantes pobres, são o quarto maior importador mundial de armas, a seguir à Índia (mil milhões de habitantes), Arábia Saudita (30 milhões) e China (1300 milhões). Os países do Conselho de Cooperação do Golfo, braço da NATO na região, juntamento com o Egipto, Iraque, Israel e Turquia continuarão a ser alguns dos principais importadores de armas nos próximos anos, de acordo com os especialistas do SIPRI.
De notar ainda que os Emirados Árabes Unidos, tão bem cotados neste mercado sangrento, incarnam o “milagre” económico adulado por dirigentes europeus muito na berra como são os casos do italiano Matteo Renzi e do francês François Hollande, que não hesitam em perseguir trabalhadores e sindicatos invocando os êxitos desse regime ditatorial.
De acordo com os dados do SIPRI, estes ainda relativos a 2013, as 100 mais importantes empresas do sector da morte movimentam 400 mil milhões de dólares anuais, com a particularidade de as responsáveis por 80 por cento destas verbas se situarem na América do Norte e Europa Ocidental, por sinal as regiões onde mais se apregoa a defesa dos direitos humanos e também de onde partem as operações subordinadas ao novíssimo conceito de “guerra humanitária”.
Numa sociedade global onde os números são mais importantes que as pessoas, e na qual todos os direitos humanos se subordinam a um deles, o direito à grande propriedade entendido como a liberdade do mercado, as estatísticas do negócio da morte são tão reveladoras como esmagadoras. E prometem não se ficar por aqui, como muito bem sabemos.

terça-feira, 17 de março de 2015


 
 

VOIVODINA, A PRÓXIMA GUERRA


A balcanização dos Balcãs ainda não acabou, o desmantelamento da antiga Jugoslávia continua em desenvolvimento, a expensas da Sérvia, prestes a sofrer nova amputação. Depois do Kosovo, chega a vez da província da Voivodina.
A recente eleição da cidadã norte-americana e neo-ustachista Kolinda Grabar-Kitarovic como presidenta da Croácia, posto para a qual transitou a partir do cargo de secretária geral adjunta da NATO, e a colaboração estreita que mantém com Victoria Nuland, a subsecretária de Obama que tutelou o golpe de Estado na Ucrânia, tornam praticamente certo que a próxima frente de guerra na Europa será a da Voivodina.
Esta dedução não surge do nada, nem sequer apenas da associação entre as duas citadas pontas de lança do complexo militar industrial norte-americano em terras europeias. Uma das primeiras declarações da nova presidenta croata depois de eleita, aliás por uma unha negra, foi a de que apoiará a autonomia dos croatas na província sérvia da Voivodina, o que vale por dizer, tratando-se de quem é e representando os interesses que representa, que se envolverá na secessão da região.
A Voivodina, região fértil na bacia do Danúbio, é das regiões europeias com maior diversidade étnica e linguística, embora a maioria da população, cerca de 66 por cento, seja sérvia. Na província, que tem como capital a cidade de Novi Sad, a comunidade de origem húngara representa 13 por cento, os croatas não passam de 2,7 por cento, os habitantes de origem eslovaca 2,5 por cento, os roms (etnia cigana) 2,1 por cento e os romenos 1,3 por cento. Uma tal estratificação permite aos demógrafos de serviço em Washington proclamar que a Voivodina é o “Kosovo húngaro”, deixando clara a intenção de trabalhar pela secessão do território.
A Croácia aguarda apenas novas eleições gerais para se lançar abertamente no processo. Se os neo-ustachistas do HDZ da nova presidenta formarem governo esta já tem primeira-ministra na manga, a também cidadã norte-americana Jadranka Juresko-Kero, profundamente associada a interesses israelitas e também aos negócios agro-alimentares. O neo-ustachismo é a versão moderna das milícias nacionalistas que colaboraram com Hitler na perseguição às comunidades balcânicas carecidas da “pureza” croata. Nada há de surpreendente na compatibilidade entre as tendências fascistas da senhora Grabar-Kitarovic e o facto de ter sido secretária geral adjunta da NATO. Olhe-se para a Ucrânia, para as nações bálticas, para a Hungria, onde as milícias nazis guiadas pelo saudosismo do Terceiro Reich rebentam como cogumelos e são inseridas, sem escândalo, nos objectivos estratégicos definidos pela Aliança Atlântica.
Enquanto as eleições croatas não chegam, a nova chefe de Estado  não perde tempo e combina a nova função com a cessante ao serviço da NATO. A Croácia começou a enviar mercenários para os corpos neonazis que servem o governo da Ucrânia saído do golpe de Estado de há um ano e estão envolvidos na balcanização gradual do território ucraniano.
O argumento das tendências secessionistas da Voivodina é elementar: a província não pertencia à Sérvia nos tempos do Império Austro-Húngaro, logo essa situação deve ser restaurada. As verdadeiras razões, claro, são outras e não se limitam ao interesse da NATO e da União Europeia em reduzirem a pó a Sérvia, encarada como uma espécie de cavalo de Tróia da Rússia. A multinacional norte-americana Monsanto olha com cobiça o potencial da bacia do Danúbio como território apropriado para a expansão das suas sementes transgénicas; e as insaciáveis multinacionais petrolíferas pretendem deitar mão às reservas de hidrocarbonetos do Banato, região oriental da Voivodina.
Para que nada fique ao acaso, o fundo financeiro especulativo norte-americano KKR comprou em Janeiro os principais meios de comunicação da Sérvia, incluindo as televisões, assegurando a vertente propagandística da operação. Ao leme do centro estratégico do KKR (Kohlberg Kravis Roberts) está o general David Petraeus, que dispensa apresentações depois dos cargos desempenhados à cabeça da CIA e nas chefias militares envolvidas nas invasões do Iraque e do Afeganistão.

segunda-feira, 16 de março de 2015


Um terrorista numa manifestação
 pretensamente anti-terrorista

 

A CULPA NÃO É DE NETANYAHU


Citado pelo jornal israelita Haaretz, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, prometeu aos seus compatriotas que se for eleito não haverá Estado Palestiniano.
 
A declaração é interpretada, pelos adeptos da politiquice barata, como um esforço do chefe do governo para captar os votos da extremíssima direita e dos colonos a quem ele tem feito favores com uma generosidade que antecessor algum ousara atingir, tratando-se de crimes contra o direito internacional.
 
O que Netanyahu disse, porém, é a simples constatação do que ele tem vindo a fazer sem o confessar, mas com pleno êxito. Os avanços na colonização conseguidos pelo governo israelita durante os últimos anos criaram uma situação tal que não existem condições para instalar um Estado Palestiniano viável.
 
Ou seja, Netanyahu mentiu sempre desde que, em 2009, admitiu a solução de dois Estados na Palestina. Mentiu quando atribuiu aos palestinianos as culpas pelos sucessivos fracassos das negociações; mentiu em todas as instâncias internacionais perante as quais garantiu que pretendia negociar, a outra parte é que sabotava o processo.
 
O problema não é que Netanyahu tenha mentido. Há muito que existiam provas de este político israelita que que esteve por detrás das manifestações culminadas com o assassínio de Isaac Rabin é um mentiroso compulsivo.
 
O problema é de quem fingiu acreditar nele, desde os presidentes dos Estados Unidos aos dirigentes dos principais países europeus e da União Europeia.
 
Estes dirigentes são tanto ou mais responsáveis que Benjamin Netanyahu por não haver um Estado Palestiniano – e será dificílimo que o haja mesmo que o chefe do governo israelita não seja reeleito. Todos os agentes influentes na chamada Comunidade Internacional sabiam que Netanyahu mentia quando admitia a existência de um Estado Palestiniano. Bastava que comparassem as palavras com os actos e não poderiam chegar a outra conclusão.
 
Em Washington, Paris, Londres, Bruxelas ou Berlim não faltarão agora as vozes de dirigentes declarando-se surpreendidos com a confissão de Netanyahu. Preparemo-nos para o circo da hipocrisia política montado por acrobatas que, em boa verdade, têm as mãos tão sujas de sangue palestiniano como as do primeiro-ministro israelita. Podiam tê-lo travado de mil e uma maneiras, mas não recorreram a uma única, não mexeram uma palha.
 
E quando, dentro de poucas semanas, nova hecatombe desabar sobre Gaza poupem-nos aos discursos baratos e às lágrimas de crocodilo; cada novo inocente palestiniano assassinado deveria pesar na consciência desses dirigentes, mas para isso era preciso que a tivessem.
 
 



O senador McCain, controleiro norte-americano para o terrorismo,
 escutado pelo chefe do Estado Islâmico, Al-Baghdadi
 

O ANIVERSÁRIO


Diz-se que a História é escrita pelos vencedores, mas nos tempos que correm ela é igualmente obra de imbecis e mentirosos amestrados no obscurantismo da propaganda. No caso da guerra civil síria, como ainda não há vencedores, apenas centenas de milhares de vencidos cujas vidas foram sacrificadas aos riscos de sangue com que se redesenha o mapa do Médio Oriente, prevalecem as sentenças tão delirantes, como idiotas e mistificadoras dos papagaios de serviço às ordens dos que alimentam o conflito enquanto apregoam a democracia e os direitos humanos.
Vamos então a factos, agora que se completaram quatro anos sobre a data do início da guerra estabelecida pelos que a relatam torta e por linhas tortas.
É mentira que a guerra tenha começado porque o regime da família Assad reprimiu manifestações inseridas naquilo a que convencionou chamar-se “primavera árabe”, e que aliás deu excelentes resultados como sabemos pelos exemplos do Egipto, da Líbia, do Bahrein, do Iémen e fiquemos por aqui para não termos de nos alongar sobre países que vivem sob esplendorosas primaveras como a Arábia Saudita, Qatar, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Iraque. Por muito que estas palavras possam vir a ofender os olhos de quem anda a ver demasiados telejornais, as acções das tropas de Damasco foram provocadas pelo facto de grupos terroristas injectados no território sírio ao serviço de países estrangeiros, os suspeitos do costume, terem cavalgado sobre as intenções genuínas dos manifestantes, adulterando-as, a exemplo do que aconteceu na Líbia, com os resultados conhecidos. Não é por acaso que um dos terroristas favoritos da NATO em território líbio, Abdelhakim Belhadj, se transformou num dos angariadores de mercenários islâmicos para a guerra civil síria.
Leitores medianamente informados não ignoram que o ovo da pestilenta organização que dá pelos nomes de Isis, ou Daesh, ou Estado Islâmico foi chocado na guerra civil síria pelos chamados “amigos da Síria” e da senhora Clinton a rogo do senhor Obama e do complexo militar industrial que governa os Estados Unidos e o mundo. Eles, esses tais amigos, insistem em dizer que os dinheiros, as armas, o recrutamento e as facilidades de treino por eles providenciados aos terroristas infiltrados na Síria, “libertadores”, como lhes chamam”, se destinavam aos “moderados”, mas a História – não a recitada pelos papagaios travestidos de jornalistas – revela que entre esses “moderados” e a Al Qaida ou Al-Nusra, ou Daesh, ou Estado islâmico ou Isis não existem diferenças porque os primeiros não passam de uma capa ténue incapaz de cobrir o resto, resumindo-se tudo numa palavra: terrorismo.
É de terrorismo que trata a guerra civil síria, essa é a verdade que se tenta esconder em mais este aniversário de uma operação criminosa alimentada pelos que proclamam a paz e a democracia sob as insígnias dos Estados Unidos da América e da União Europeia recorrendo aos prestáveis serviços do terrorismo israelita e dos seus aliados de reconhecidas virtudes democráticas como a Arábia Saudita, o Qatar e a Turquia, imprescindível pilar da NATO. Há poucos dias, um oficial israelita, dito Johnny entre os confrades, foi abatido pelo exército sírio nos Montes Golã quando prestava apoio a uma unidade dos “moderados” do Exército Livre da Síria directamente controlada pelo exército israelita. Para que não se pense, porém, que a generosidade israelita se esgota nesses tais “moderados” recordem-se as informações divulgadas pela própria imprensa israelita dando conta de que o primeiro-ministro Netanyahu não hesita em visitar terroristas do Isis, Daesh, Al Qaida, Al Nusra, o que for, nos hospitais israelitas onde são tratados aos ferimentos sofridos durante as operações contra o povo sírio montadas a partir dos Montes Golã, ilegalmente ocupados por Israel. Notem bem que isto se passa com um chefe de um governo que “não dialoga com terroristas” – na verdade apenas os cumprimenta e lhes estima as melhoras.
Histórias como estas não fazem parte das montagens oficiais sobre o aniversário da guerra civil síria distribuídas pelas centrais terroristas de propaganda e recitadas por mentirosos amestrados. E, contudo, elas existem.