O NEGÓCIO DA MORTE
VAI DE VENTO EM POPA
O comércio mundial de armas cresceu 16 por cento nos últimos
cinco anos, concluiu o SIPRI, Stockholm International Peace Research Institute
na mais recente edição dos seus relatórios anuais.
Este crescimento, porém, não passa de uma amostra, porque
não inclui o tráfico e o contrabando de armas, as transacções associadas a
acordos políticos, tão pouco os negócios desenvolvidos dentro de cada país. Os
Estados Unidos da América, por exemplo, além de serem os maiores exportadores e
um dos maiores importadores, estabeleceram no seu orçamento uma rubrica de 95 mil
milhões de dólares que passarão, via cofres do Estado, dos bolsos dos
contribuintes para as contas dos mais destacados expoentes da indústria da
morte, com Lokheed e Boeing à cabeça.
Se existe sector por onde a crise não passa, antes pelo
contrário, é o do negócio da morte. O relatório do SIPRI relativo a 2014, agora
divulgado, revela que os Estados Unidos são responsáveis pela exportação de
quase um terço (31 por cento) das armas mundiais, seguidos pela Rússia, com 27
por cento, e a China, que subiu de sexto para terceiro lugar, com cinco por
cento. Nos primeiros sete exportadores estão quatro países da União Europeia –
França, Reino Unido, Espanha e Itália, seguidos pela Ucrânia, imagine-se – não sendo
segredo que algumas das armas recebidas pelo aparelho militar e de segurança
neonazi deste país seguem directamente para grupos terroristas tipo Estado
Islâmico e Al Qaida.
Por falar destes, o relatório do SIPRI revela que o volume
de armas importadas pelas petroditaduras do Golfo, com destaque para a Arábia
Saudita e os Emirados Árabes Unidos, cresceu 71 por cento nos últimos anos,
contribuindo, juntamente com Israel, para que a subida global em todo o Médio
Oriente tenha atingido os 54 por cento. Olhando estes números e sabendo que os
grupos de mercenários islâmicos são armados sobretudo pelas monarquias
terroristas da Península Arábica, percebe-se a pujança revelada pelo Estado
islâmico e afins. Repare-se, por exemplo, neste verdadeiro fenómeno: os
Emirados Árabes Unidos, que têm uma população da ordem dos oito milhões de
pessoas, a maioria das quais imigrantes pobres, são o quarto maior importador
mundial de armas, a seguir à Índia (mil milhões de habitantes), Arábia Saudita (30
milhões) e China (1300 milhões). Os países do Conselho de Cooperação do Golfo,
braço da NATO na região, juntamento com o Egipto, Iraque, Israel e Turquia
continuarão a ser alguns dos principais importadores de armas nos próximos anos,
de acordo com os especialistas do SIPRI.
De notar ainda que os Emirados Árabes Unidos, tão bem
cotados neste mercado sangrento, incarnam o “milagre” económico adulado por
dirigentes europeus muito na berra como são os casos do italiano Matteo Renzi e
do francês François Hollande, que não hesitam em perseguir trabalhadores e
sindicatos invocando os êxitos desse regime ditatorial.
De acordo
com os dados do SIPRI, estes ainda relativos a 2013, as 100 mais importantes
empresas do sector da morte movimentam 400 mil milhões de dólares anuais, com a
particularidade de as responsáveis por 80 por cento destas verbas se situarem na
América do Norte e Europa Ocidental, por sinal as regiões onde mais se apregoa
a defesa dos direitos humanos e também de onde partem as operações subordinadas
ao novíssimo conceito de “guerra humanitária”.
Numa
sociedade global onde os números são mais importantes que as pessoas, e na qual
todos os direitos humanos se subordinam a um deles, o direito à grande
propriedade entendido como a liberdade do mercado, as estatísticas do negócio
da morte são tão reveladoras como esmagadoras. E prometem não se ficar por aqui, como
muito bem sabemos.
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