DIA
DO TRABALHADOR É TODOS OS DIAS
No próximo ano passam 130
anos sobre o sacrifício dos mártires de Chicago em Haymarket Square, no
primeiro de Maio de 1886. O que pensaria a maioria dos jovens de hoje – e dos
não jovens, já agora – se por um improvável acaso passassem os olhos por estas
linhas introdutórias?
Dia do Trabalhador? Isso
não é um feriado inventado com o 25 de Abril? E se mataram os tais americanos é
porque alguma coisa estavam a fazer, talvez uma greve, reivindicações nocivas
para o mercado, de certeza era mais uma conspiração contra a saúde da economia.
Num tempo em que se sucedem os dias das mentiras rivalizando, com vantagem,
sobre o 1 de Abril – dia da paz, dia da Terra, dia do ambiente, dia da criança,
dia do reformado, dia da Europa, dia do jornalista, enfim tantos dias de um
calendário a fazer de conta – dia do trabalhador é apenas mais um, ainda com a
agravante de juntar um feriado contra uma pobre economia que já sofre de
tantos, por isso é que não arriba.
Não será antes dia do
colaborador? Isso sim. Não teria que ser feriado, estaria muito mais de acordo
com o espírito dos tempos, soa a bendita concertação, pronuncia-se em língua
que todos percebem e poderia juntar patrões e empregados em clima de fraternidade
empresarial num curto intervalo, uma happy hour – descontada nos salários, é
claro – onde se serviriam papas e bolos, nada desses anacronismos de desfilar
nas ruas gritando coisas disparatadas que as autoridades não escutam, e muito
bem, que o Senhor lhes reconheça a virtude…
Parece haver quem não
goste que se use a palavra colaborador e chegue ao descaramento provocatório de
dizer que soa a corporativismo, e afinal que mal tem isso, não devem os patrões
e os empregados agir para o mesmo fim, numa corrente produtiva capaz de retirar
a economia do estado vegetativo em que se encontra muito por culpa dos que se
acham trabalhadores e não colaboradores? Nos tempos em que o trabalho já não é
sequer o principal produtor de riqueza, graças a Deus substituído pela
imparável dinâmica financeira – a que só por irredentismo incurável alguns, os
mesmos de sempre, chamam especulação – que sentido faz celebrar, pior que isso,
fazer um feriado num dia do trabalhador que tresanda a 25 de Abril, morto e
enterrado, para lembrar uns contestatários anarquistas mortos há muito mais de
um século por não querem trabalhar o tempo que os patrões ordenavam?
Nas altas esferas,
contudo, alertaram que pode não cair muito bem usar a expressão dia do
colaborador agora que lá pela Ucrânia e adjacências há pessoas que, sob as
bandeiras pacíficas da NATO e da União Europeia, pretendem restaurar e retomar
a herança de tantos heróis aviltados que colaboraram com Hitler e limparam os
seus países e outros de uma data de energúmenos, por certo do mesmo jaez dos
abatidos em Chicago. Há quem ainda lhes chame colaboradores, colaboracionistas
e por causa das ressonâncias das raízes das palavras recomenda-se alguma
prudência no recurso a vocábulos e celebrações susceptíveis de alimentar
reflexões e teorias da conspiração para as quais há sempre mentes maléficas
disponíveis.
Soou-vos de modo absurdo
este monólogo? Afinal o absurdo anda por aí feito regime, e não apenas na
espuma dos dias, reparem como até elites laborais escolhem provocatoriamente o
1º de Maio para lançar greves que mais parecem lock-outs porque fazem o governo
esfregar as mãos, já de si ávidas por destruir um bem que é de todos – a TAP –
para o entregar a alguns empreendedores, melhor dito especuladores.
Por tudo isto, é
importante que Dia do Trabalhador não seja apenas o 1 de Maio e consiga ir
substituindo todos e cada um dos dias das mentiras que tomaram conta do
calendário de todos nós.
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