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sábado, 2 de maio de 2015


 
DIA DO TRABALHADOR É TODOS OS DIAS

No próximo ano passam 130 anos sobre o sacrifício dos mártires de Chicago em Haymarket Square, no primeiro de Maio de 1886. O que pensaria a maioria dos jovens de hoje – e dos não jovens, já agora – se por um improvável acaso passassem os olhos por estas linhas introdutórias?

Dia do Trabalhador? Isso não é um feriado inventado com o 25 de Abril? E se mataram os tais americanos é porque alguma coisa estavam a fazer, talvez uma greve, reivindicações nocivas para o mercado, de certeza era mais uma conspiração contra a saúde da economia. Num tempo em que se sucedem os dias das mentiras rivalizando, com vantagem, sobre o 1 de Abril – dia da paz, dia da Terra, dia do ambiente, dia da criança, dia do reformado, dia da Europa, dia do jornalista, enfim tantos dias de um calendário a fazer de conta – dia do trabalhador é apenas mais um, ainda com a agravante de juntar um feriado contra uma pobre economia que já sofre de tantos, por isso é que não arriba.

Não será antes dia do colaborador? Isso sim. Não teria que ser feriado, estaria muito mais de acordo com o espírito dos tempos, soa a bendita concertação, pronuncia-se em língua que todos percebem e poderia juntar patrões e empregados em clima de fraternidade empresarial num curto intervalo, uma happy hour – descontada nos salários, é claro – onde se serviriam papas e bolos, nada desses anacronismos de desfilar nas ruas gritando coisas disparatadas que as autoridades não escutam, e muito bem, que o Senhor lhes reconheça a virtude…

Parece haver quem não goste que se use a palavra colaborador e chegue ao descaramento provocatório de dizer que soa a corporativismo, e afinal que mal tem isso, não devem os patrões e os empregados agir para o mesmo fim, numa corrente produtiva capaz de retirar a economia do estado vegetativo em que se encontra muito por culpa dos que se acham trabalhadores e não colaboradores? Nos tempos em que o trabalho já não é sequer o principal produtor de riqueza, graças a Deus substituído pela imparável dinâmica financeira – a que só por irredentismo incurável alguns, os mesmos de sempre, chamam especulação – que sentido faz celebrar, pior que isso, fazer um feriado num dia do trabalhador que tresanda a 25 de Abril, morto e enterrado, para lembrar uns contestatários anarquistas mortos há muito mais de um século por não querem trabalhar o tempo que os patrões ordenavam?

Nas altas esferas, contudo, alertaram que pode não cair muito bem usar a expressão dia do colaborador agora que lá pela Ucrânia e adjacências há pessoas que, sob as bandeiras pacíficas da NATO e da União Europeia, pretendem restaurar e retomar a herança de tantos heróis aviltados que colaboraram com Hitler e limparam os seus países e outros de uma data de energúmenos, por certo do mesmo jaez dos abatidos em Chicago. Há quem ainda lhes chame colaboradores, colaboracionistas e por causa das ressonâncias das raízes das palavras recomenda-se alguma prudência no recurso a vocábulos e celebrações susceptíveis de alimentar reflexões e teorias da conspiração para as quais há sempre mentes maléficas disponíveis.

Soou-vos de modo absurdo este monólogo? Afinal o absurdo anda por aí feito regime, e não apenas na espuma dos dias, reparem como até elites laborais escolhem provocatoriamente o 1º de Maio para lançar greves que mais parecem lock-outs porque fazem o governo esfregar as mãos, já de si ávidas por destruir um bem que é de todos – a TAP – para o entregar a alguns empreendedores, melhor dito especuladores.

Por tudo isto, é importante que Dia do Trabalhador não seja apenas o 1 de Maio e consiga ir substituindo todos e cada um dos dias das mentiras que tomaram conta do calendário de todos nós.

  

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