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quarta-feira, 13 de maio de 2015

AS SONDAGENS NUNCA SE ENGANAM


 
 
É oficial. Analisados ao mais ínfimo pormenor os dados das últimas eleições britânicas, por sua vez cruzados com actos eleitorais anteriores, por sua vez lidos em conjunto com previsões em desenvolvimento sobre as próximas consultas no espaço europeu, surgiu um axioma, digamos mesmo um dogma: as sondagens nunca se enganam. São mais ou menos como as estatísticas do crescimento económico, do desemprego, da confiança dos consumidores, do clima empresarial, do barómetro das famílias, do número de espirros por pessoa por minuto, mas ainda mais firmes, mais absolutas. Fixem bem: as sondagens nunca se enganam.
Quem pode enganar-se são os eleitores, o que é, no fim das contas, o mais natural. Errar é humano, não é? Já as sondagens, ancoradas no que há de mais avançado na ciência, na sociologia, na tecnologia, na politologia, na geopolítica, nos ciclos de humores comportamentais do arco da governação, não erram. Pura e simplesmente porque não existe hipótese de erro. Por isso são comentadas, interpretadas, expurgadas, analisadas como se representassem a vontade dos eleitores, o que, como se percebe, tem um efeito pedagógico e cívico insubstituível, porque os eleitores ficam a saber não apenas como se comportam mas como devem comportar-se quando forem chamados às urnas.
Acresce, para quem não está ao corrente destes delicados circuitos da moderna democracia, que os ciclos virtuosos formados pelas entidades sondadoras, as agremiações com vocação governativa e os deuses manes da comunicação traduzem como nenhuma outra conjugação o sentir, o pulsar da sociedade, os seus interesses e comportamentos, detectando e eliminando à nascença a margem de erro induzida pelo factor humano.
Poderá argumentar-se que neste ciclo virtuoso podem surgir conflitos de interesses, ou até comportamentos pouco recomendáveis, nada que seja inquietante. Por um lado, porque uma andorinha não faz a Primavera e, embora não se sabendo se a proposição é extensiva aos abutres – é provável que seja, por maioria de razão – a estrutura tem em si mesma, como atrás se explicitou, a capacidade para erradicar o defeito inerente à essência humana.
As sondagens são, portanto, infalíveis. Por isso, no interior da entidade com inquestionável autoridade que é o arco da governação, se prevê uma concertação de vontades no sentido de transformar as sondagens no barómetro único do poder, substituindo as eleições com vantagens para todos. As sondagens permitem conhecer, sem margem de erro, as tendências da sociedade à semana, ao dia, quiçá ao minuto, ao instante, garantindo que os governos terão ao seu dispor, a cada momento, as indicações de como devem agir em proveito de todos.
Já deduziram, por certo, que se é possível fazer sondagens ao minuto tal não é exequível com as eleições, processo moroso, anacrónico, poluente até. Evitando eleições poupa-se o trabalho e a sujidade suscitados pelos milhões de votos que vão directamente para o lixo, eleição após eleição – veja-se como tal fenómeno foi exemplar na recente consulta britânica – porque os eleitores se enganaram não apenas tentando iludir as sondagens como também ousando desestabilizar o próprio arco da governação.
No entanto, os factos provaram que as sondagens resistiram ao erro humano, o arco da governação soube aguentar o desafio e assegurou a estabilidade. Como se não houvesse eleições, apenas sondagens, assim se demonstrando, para memória futura, a inutilidade das primeiras.
E a vida continua. Austera, é certo, porque assim são os fados estipulados pelo insigne arco da governação para que um dia – esse dia virá, não tenham dúvidas – a bonança que agora pertence a uns poucos seja por todos repartida. Haja fé, as sondagens nunca se enganam.
 

 

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