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terça-feira, 1 de março de 2016

DESCARAMENTO E BOMBAS NUCLEARES



A ditadura fundamentalista e terrorista da Arábia Saudita está a comprar bombas nucleares ao Paquistão, país a quem financia mais de metade do programa militar atómico; e não se escutou, até ao momento, uma única palavra dos dirigentes mundiais, usualmente tão zelosos a denunciar ocorrências que os incomodam, mesmo que algumas não passem de pretensas ocorrências.
Da Arábia Saudita sabemos, por exemplo, que nas últimas semanas tem multiplicado ameaças de invadir a Síria, juntamente com a Turquia – país da NATO – em socorro dos grupos terroristas que ambos os países armam e financiam.
Ficámos a saber agora, pela voz de Daham al-Anzi, comentador político saudita, que a Arábia Saudita possui bombas nucleares. A declaração, peremptória, foi feita em entrevista ao Rússia Today, embora continue a ser um segredo para grande parte dos que habitam o planeta.
A Arábia Saudita é signatária do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, o que parece não ser um estorvo. O importante, de acordo com o pretexto invocado pelos magnatas sauditas, é conter a ameaça iraniana que eles dizem estender-se através do Iraque, da Síria e do Iémen.
Ainda temos lembrança do sururu mundial que foi a suposta estratégia do Irão para se dotar de um programa nuclear militar, coisa que, a bem dizer, nunca chegou a ser provada. Levantaram-se sanções, proferiram-se ameaças de vários azimutes, de Washington à subserviente Bruxelas, expediram-se flotilhas de drones, assassinaram-se cientistas iranianos em série; Israel, pela voz de Benjamin Netanyahu, ainda hoje clama contra essa provável efabulação, mas da sua boca não se ouviu ainda qualquer reparo ante a notícia da nuclearização militar do mais belicista dos regimes árabes. Nem a Netanyahu, nem a Obama, Juncker, Merkel, Hollande, Cameron… etc, etc.
Ouviram-se algumas palavras, sim, sejamos justos. De Itália, da ministra da Defesa Roberta Pinotti, representante do governamental Partido Democrático. Interrogada sobre o facto de o seu país ser um dos principais fornecedores de armas ao governo terrorista saudita, e tal facto poder violar o Tratado sobre Comércio de Armamentos, de 2013, respondeu que “seria um grave erro transformar os nossos aliados contra o Estado Islâmico em nossos inimigos”. Nunca é excessivo lembrar quem são os “nossos aliados”, e a ministra italiana teve esse cuidado: a Arábia Saudita é um deles e, por acaso, ajuda-nos a combater o terrorismo ao mesmo tempo que o arma e financia. Enquanto isso, pode armazenar as armas nucleares que quiser.
Para tirar proveito efectivo de tais armas é necessário ter os meios adequados. Não seja por isso. A Arábia Saudita é o principal cliente do consórcio europeu (Itália, Alemanha, Reino Unido e Espanha) que produz os caças-bombardeiros Tornado. Nessa qualidade, passou a integrar a agência da NATO que gere os caças europeus, a Nato Eurofighter and Tornado Management Agency. E por maioria de razão, uma vez que o regime saudita possui agora o dobro desses aparelhos em comparação com a Royal Air Force (RAF). São já 250 em poder dos senhores da guerra de Riade, vendidos pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido. Além disso, a generosa família real saudita acaba de pagar mais oito mil milhões de euros ao mesmo consórcio europeu por conta de 28 aparelhos Eurofighter Typhoon que vai oferecer ao Koweit, ignorando-se se esta outra ditadura islâmica virá a receber também bombas nucleares. Do que não há dúvida é que os aviões de guerra envolvidos em tais transacções possuem, entre as suas inegáveis capacidades mortíferas, a de poder lançar armas essas armas de extermínio.
Estamos agora aptos a entender o silêncio mundial perante a entrada da Arábia Saudita no selecto clube nuclear, que se estende à comunicação social dominante, tão diligente no caso do Irão e que agora deixou passar sob os narizes a inquietante confissão do analista saudita.
A omissão de Israel nada tem de anormal. Há muito que se conhece a aliança tácita entre os regimes fundamentalista hebraico e islâmico, levado operacionalmente à prática nas chacinas cometidas no Iémen por pilotos israelitas aos comandos de caças sauditas, e também no apoio a grupos terroristas infiltrados na Síria.
Dos Estados Unidos e da União Europeia seria importante conhecer a opinião sobre o assunto. De Itália veio a versão da ministra Pinotti, segundo a qual, em matéria humanitária, o país “é enormemente credível e respeitado”. Porém, isso não chega: gostaríamos de saber se Washington e Bruxelas, Berlim, Londres e Paris, pelo menos esses, levam assim tão longe o descaramento.
 

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