ÁFRICA,
UM “CAMPO DE BATALHA” DA NATO
África vive o
colonialismo de terceira geração, se quiserem, o pós-neocolonialismo, desta
feita através do expansionismo militar norte-americano levando atrás o aparelho
da NATO para garantir a devastação neoliberal do continente a pretexto de –
quanto a isso, nada de novo – da “segurança colectiva” e da guerra contra o terrorismo.
Nos gabinetes do Quartel-General
da NATO, em Bruxelas, dizer que a África “é um campo de batalha” não é cometer
uma inconfidência ou um exagero do discurso. A frase corresponde à realidade do
terreno e limita-se a reproduzir os ecos dos jogos de guerra delineados na
pátria do império, seja em Washington, na Florida, onde quer que o Pentágono
decida renuir os representantes aliados, melhor seria dizer os subordinados.
Desde que em 2008 os
Estados Unidos deram asas ao AFRICOM, o seu comando operacional para África, as
intervenções militares norte-americanas transformaram-se num dos quotidianos do
continente.
Só durante o ano passado,
tropas norte-americanas participaram em 674 operações, quase duas por dia, um
aumento de 300 por cento em comparação com a situação que se vivia antes de
2008 – isto de acordo com números oficiais.
As razões invocadas no
discurso dos chefes militares são as ameaças representadas pelo radicalismo
islâmico, sobretudo na África do Norte e Central, sem esquecer o Corno de
África e toda a costa do Índico. Organizações como o Boko Haram da Nigéria, o
Al Shabab da Somália, a Al Qaida do Magrebe, no Mali e outros países e,
principalmente, o reforço do Estado Islâmico (Isis ou Daesh) e a respectiva
aliança com o Boko Haram, recentemente anunciada, alimentam a verborreia
militarista e securitária.
Atrás dos aliados ou
subordinados da NATO, os Estados Unidos arrastam tropas de países como a
Argélia, Senegal, Mali, República Centro Africana, Marrocos, Líbia (ou o que
resta do país), Camarões, Turquia, Tunísia e Egipto – por aqui se percebe como as “primaveras árabes
foram rapidamente adaptadas ao novo espírito colonial.
Os comportamentos
repugnantes de entidades como o Estado Islâmico, o Boko Haram e aparentados
justificam o inflamado militarismo? À primeira vista, sim. Pelo menos, é quanto
basta para alimentar as confortáveis teses de articulistas, observadores,
analistas, politólogos e outros papagaios da propaganda. A observação do
fenómeno, porém, não ficará completa se não lhes juntarmos alguns elementos
relevantes. Grupos aliados da NATO na Líbia, por exemplo milícias radicais
islâmicas ligadas às redes da Al Qaida e do Estado Islâmico, abastecem com
mercenários e armas uma miríade de unidades terroristas que espalham a barbárie
desde a Síria à Nigéria. Esconder esta realidade não a apaga do mapa.
À boleia desse pretexto,
Washington estendeu até 2044 a presença na base estratégica de Lemmonier, no
Djibuti, e instalou postos avançados, pequenas bases e aeródromos em toda a
margem Sul do Mediterrâneo e também no Senegal, Mali, República Centro
Africana, Burkina Faso, Níger, Chade, Sudão do Sul, Uganda, Quénia e Etiópia.
Sem esquecer o constante patrulhamento marítimo do Mediterrâneo e das costas
africanas por navios militares dos Estados Unidos e outros países da NATO.
“Onde os interesses
nacionais nos impelem a inclinar os pratos da balança para o nosso lado e a
aumentar a segurança colectiva teremos de dar o nosso melhor, seja em conjunto
com os aliados seja de modo unilateral”, confessa David Rodriguez, o comandante
do AFRICOM. Como em qualquer discurso colonial dos séculos XVII ou XIX, não é
difícil perceber, nas linhas e entrelinhas das palavras deste falcão
norte-americano do tempo da guerra das estrelas, os mesmos objectivos de sempre
em relação a África e aos africanos: saque, rapina, exploração.
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