UM
BOM EXEMPLO GREGO A SEGUIR
O Parlamento grego parece
ter finalmente uma maioria com a coragem suficiente para encarar de frente duas
situações históricas brutalmente lesivas do país, de maneira a encontrar as
recompensas que são devidas a todos os gregos.
Ao contrário do
revisionismo histórico que grassa pelo leste da Europa e através dos
republicanos dos Estados Unidos da América, empenhados em restaurar as versões
nazis dos acontecimentos das décadas de trinta e quarenta do século passado, a
Grécia, através do seu Parlamento, procura pura e simplesmente recuperar aquilo
que crê ser-lhe devido.
A estratégia adoptada
parte da criação de duas comissões parlamentares extraordinárias: uma para
obter da Alemanha o pagamento das indemnizações de guerra que são devidas à
Grécia pelos prejuízos e os saques do tesouro cometidos durante a ocupação nazi
de 1941-1944; e outra, sem dúvida com bastantes afinidades, que procura fazer
luz sobre o processo que conduziu ao amontoar da dívida grega nas últimas décadas
e culminou na colonização do país pela troika, imposta nos últimos seis anos.
Consideram o Parlamento e o Governo grego que o êxito destas duas diligências
libertarão o povo do país das amarras que lhe foram impostas mais recentemente
através do suplício da austeridade, também sofrido por outros povos da União
Europeia.
Os cálculos do Parlamento
grego sobre as dívidas nazis a Atenas revelam que estas verbas chegariam para
liquidar todos os compromissos financeiros da Grécia com a União Europeia e
ainda sobraria dinheiro. Conhecendo a barbárie nazi e a devastação que as
tropas alemãs praticaram nos bens públicos, privados e individuais dos gregos,
a que devem somar-se “empréstimos” sem juros saídos do tesouro de Atenas para
os cofres de Hitler, não será difícil acreditar nas razões invocadas pela
comissão parlamentar e pelo governo de Tsipras.
O que diz a isto a parte
alemã? Que tudo não passa de um comportamento “estúpido” da Grécia, nas
palavras do ministro da Economia, Sigmar Gabriel, por sinal o chefe
social-democrata (para os que ainda têm dúvidas…). Chama-se a isto alta
política, discutir ideias e argumentos? Ou não passa de arrogância pura, a
versão moderna, neoliberal e economicista do tique militarista que guiou o
imperialismo de Hitler há três quartos de século?
Em boa verdade, as duas
frentes de acção do Parlamento grego fundem-se numa só, porque é impossível separar
a mentalidade expansionista alemã que levou ao desmantelamento da Grécia pela
guerra da arrogante, fria, metódica e implacável destruição do mesmo país
através da austeridade. O objectivo é único: sugar países e povos em proveito
próprio, não do próprio povo, como se sabe, mas de interesses sem pátria que se
acoitam cobardemente na invocação dos direitos humanos para os violar sem
qualquer pudor.
É do interesse dos povos
de todo o mundo que as comissões parlamentares gregas tenham êxito nas suas
tarefas, porque não é apenas do expansionismo alemão que se trata; é o
imperialismo financeiro global (com o seu braço armado, a NATO) que está em
causa. Esse imperialismo que se acha no direito de acoimar de “estúpidos” os
que invocam direitos.
Mesmo sem esperar pelos
resultados das diligências gregas, o tiro de partida está dado. Em Portugal,
por exemplo, seria da máxima importância que o próximo Parlamento tivesse
também a coragem de criar uma comissão para inventariar tim-tim-por-tim-tim
todo o processo da dívida, dos PEC’s, da troika, da austeridade, em suma. É uma
questão de dignidade.
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