A
TRISTE FIGURA DA COLIGAÇÃO EUA-ARÁBIA SAUDITA
Deserções aos milhares
das bases e dos quartéis, que alguns serviços europeus de informações avaliam
na ordem dos 10 mil efectivos, obrigaram a Arábia Saudita a cancelar, ou mesmo
a desistir, da invasão terrestre do Iémen. A medida foi tomada não tanto pelo
elevado número de militares que abandonaram os seus postos, ainda assim cerca
de 10 por cento do contingente previsto para a invasão, mas porque a debandada
revela a falta de ânimo das forças armadas da ditadura para se envolveram em
batalhas terrestres, depois do falhanço das operações aéreas, que não atingiram
nenhum dos objectivos proclamados e alcançaram o único não anunciado: chacinar
dezenas de milhares de civis numa repugnante campanha de terror.
Reparem agora como
Washington e Riade explicam a pretensa suspensão dos ataques – a Arábia Saudita
anunciou o fim dos bombardeamentos aéreos, embora prossigam – através dos seus
órgãos de propaganda, na tentativa de limpar a face da carnificina civil e do
fracasso militar. Seriam argumentos dignos dos Monty Piton, ou da guerra de
Solnado, não se desse o caso de a campanha de terror ter vitimado um número
incontável de civis, incluindo mulheres e crianças, que pagaram com a vida mais
estes jogos de guerra imperiais.
Washington, pela voz do
impagável e servil New York Times, garante que os bombardeamentos aéreos
sauditas pararam (o que, por enquanto, é mentira) devido às intensas pressões
da Administração Obama, na verdade incomodada pelas repercussões negativas
geradas através do mundo pela sangrenta operação terrorista contra a população
civil iemenita.
A Arábia Saudita, a
contas com as deserções em massa e perante o silêncio cúmplice – eventualmente aliviado
– de uma dezenas de aliados, entre os quais a junta do Egipto, garante que
cancela a invasão e suspende os bombardeamentos porque atingiu os objectivos
militares.
Atingiu? Vamos ver.
Riade diz que destruiu a
força aérea inimiga. É verdade: o pouco que havia estava no chão e às ordens do
presidente Abu Mandour Habi, refugiado na capital saudita.
Riade afirma que destruiu
as capacidades do inimigo em mísseis balísticos. É uma verdade de Monsieur de
La Palisse: não havia mísseis balísticos no Iémen.
Riade assegura que
destruiu o controlo de comando inimigo. Não se sabe é qual, porque havia tantos
controlos de comando como os grupos coligados com os rebeldes xiitas houthis,
entre eles a Al-Qaida e os sunitas urbanos do ex-presidente Saleh.
Riade jura que limitou os
movimentos dos rebeldes houthis. Ora os houthis mantêm em seu poder a capital
Sanaa e as regiões meridionais petrolíferas, incluindo o porto estratégico de
Adem; por isso, não necessitam de se mover para controlar o país.
Riade revela que, através
das acções já realizadas, garantiu a segurança do seu território e a protecção
do governo “legítimo” do presidente Habi. Também é verdade. O Iémen jamais
ameaçou o território saudita; e o presidente Habi não pode estar mais
protegido, uma vez que se encontra em Riade, no colo da família real, uma vez
que as operações realizadas não o devolveram ao posto em Sanaa a que diz ter
direito.
Um glorioso êxito
militar, como se percebe, da não menos gloriosa aliança entre o farol da
democracia planetária e um dos faróis do terrorismo planetário. Enquanto isso,
a mal afamada Al Qaida reforçou a presença no Iémen, pois ficou incólume nas
posições que detinha entre os grupos que repartem o poder no país; e o esforço
militar no Iémen aliviou a pressão sobre o não menos mal afamado Estado
Islâmico, mais incólume ainda do que já estava antes, apesar da apregoada
campanha de bombardeamentos aéreos norte-americanos.
Quanto a isto, duas
deduções podem fazer-se. Dificilmente os bombardeamentos aéreos resultam quando
não se pretende liquidar o que se ataca; e perante os resultados dos ataques de
aviação no Iémen e contra o Estado Islâmico há que dar razão aos militares,
incluindo comandos da NATO, segundo os quais as guerras aéreas não ganham conflitos
e o império sofre de graves lacunas em termos de guerras convencionais.
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