E
SE MANUEL VALLS SE OLHASSE AO ESPELHO?
O primeiro-ministro da
administração de François Hollande é aquilo que um chefe de governo de um país
como a França nunca deveria ser. O seu comportamento ajuda a compreender porque
está a União Europeia no estado em que se encontra, embora a maior das
responsabilidades não lhe pertença, mais culpado é quem o escolheu e nele
confia.
Manuel Valls é dos tais
que acha que o seu Partido Socialista deveria mudar de nome, na verdade a única
das suas opiniões coerente e bem fundamentada - era um favor que faria à
palavra socialismo.
O maior problema de Manuel
Valls não é sequer a truculência de uma pose mal estudada e pior maquilhada de “enfant
terrible” e de irreverência quando, de facto, ele é “terrible” apenas para os
trabalhadores e a inteligência dos cidadãos em geral; e de uma reverência
asinina para com os patrões.
Numa das suas mais
recentes declarações públicas, Manuel Valls comprovou o quanto é também
irresponsável, razão mais do que suficiente, repete-se, para não ser chefe de
governo em França ou em mais parte alguma. Verdade se diga que muitos há como ele
por essa União Europeia, mas façamos aqui um juízo qualificativo dizendo que os
efeitos do caso francês são ainda mais nocivos tratando-se de um país que forma
com a vizinha Alemanha o eixo governante da comunidade dos 28.
Valls declarou-se
preocupado com o crescimento exponencial da xenofobia e dos crimes de raiz
xenófoba, étnica e racista depois do atentado supostamente islamita – e quanto
à sua vertente religiosa haveria ainda muito a dissecar – contra o Charlie
Hebdo.
É verdade, ele disse isto
e, como suporte da tese, brandiu números aterradores de actos de violência anti
hebraicos e antimuçulmanos. Sendo dramáticos os números exibidos, igualmente trágica
é a admiração do primeiro ministro de Hollande.
Senão recordemos. Como
ministro do Interior e já como primeiro-ministro, Valls lançou hordas policiais
contra acampamentos de ciganos e procedeu expulsões arbitrárias de imigrantes desta
etnia para os seus alegados países de origem, violando normas elementares dos
tratados europeus. As explicações xenófobas em que assentou essas práticas
brutais fariam corar de inveja a senhora Le Pen, coisa que não aconteceu porque
a chefe neofascista percebeu que tem quem lhe faça o trabalho sem sujar as mãos
enquanto vai capitalizando apoios graças à deriva governamental.
As atitudes de Valls
denunciam-no como um ente intrinsecamente xenófobo. De tal modo que isso lhe
entorpece a actuação política, o que ficou ainda mais claramente exposto nos
acontecimentos relacionados com o atentado contra o Charlie Hebdo. Nas suas
declarações foi difícil traçarr fronteiras entre os conceitos de muçulmano e
terrorista; as encenações montadas por ele e o seu presidente tendentes a
demonstrar a revolta internacional com os atentados privilegiaram um Estado e
um primeiro-ministro – Israel e Benjamin Netanyahu – com mãos bem sujas de terrorismo.
Agora admira-se que na sociedade francesa por tudo e por nada se façam ajustes
de contas entre comunidades de imigrantes e núcleos habitacionais com raízes e
origens distintas, lançados umas contra os outros pela prática e o discurso
oficial.
O Manuel Valls que se
queixa do recrudescimento da xenofobia deveria olhar-se ao espelho e fugir. Que
grande favor faria a todos os que vivem em França e, já agora, em toda a
Europa.
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