UMA
CHACINA “HUMANITÁRIA” DE 5 MILHÕES
Cálculos elaborados com
base em modelos científicos aceites pela ONU, governos e organizações não-governamentais
permitem apurar que o número de mortos provocados pela chamada guerra contra o
terrorismo é, no mínimo, de cinco milhões, entre eles seguramente mais de um
milhão de crianças.
Não estamos a falar dos
resultados de uma desparasitação de baratas, melgas ou percevejos, de uma
desratização, sequer de uma epidemia provocada por um vírus ou bactéria
desconhecidos. Trata-se de seres humanos, isto é, de uma chacina praticada em
seres humanos e em nome dos mais altos valores humanos.
Os cálculos dizem
respeito apenas aos resultados das invasões do Iraque e do Afeganistão,
acrescidos das extensões ou “danos colaterais” no Paquistão.
A organização Physicians for Social Responsability (PSR), que integra personalidades destacadas do campo
da saúde pública, entre os quais laureados com o Nobel da Paz, apurou que os
conflitos do Iraque e do Afeganistão provocaram, desde 2001, pelo menos 1,3
milhões de mortos - um milhão no Iraque, 220 mil no Afeganistão e 80 mil no
Paquistão – números “que podem chegar aos dois milhões”. Antes que algumas boas
consciências se inquietem, registe-se que a PSR não nasceu algures no tempo da
União Soviética, nem resulta de uma maquinação do terrível Putin. Tem sede nos
Estados Unidos da América e algumas das suas figuras mais destacadas integram o
Centro Médico da Universidade da Califórnia, em S. Francisco.
A Physicians for Social
Responsability reconhece que os dados que possui em relação ao Afeganistão
estão ainda muito longe da realidade. No entanto, o professor australiano
Gydeon Polya considera, a partir dos elementos sobre mortalidade da Divisão de
População da ONU, que o número de mortes evitáveis no Afeganistão desde 2001,
ano em que se iniciou a invasão da NATO, é da ordem dos 3 milhões, incluindo
900 mil crianças.
No Iraque, porém, a
guerra não se iniciou em 2003 com George Bush filho. A primeira operação
militar contra o país começou em 1990, a mando de George Bush pai, e provocou
pelo menos 200 mil mortos directos, na sua maioria civis. É este o número
apurado por Beth Daponte, demógrafa do Gabinete de Recenseamento do governo dos
Estados Unidos. Os dados devem ser fiáveis, uma vez que o estudo foi censurado
pelas autoridades norte-americanas.
Como se sabe, a matança
não ficou por aqui. À guerra sucederam o embargo e as sanções atingindo a
importação de produtos de primeira necessidade. E por causa de quê? Das
terríveis armas de extermínio massivo em poder de Saddam Hussein, que nunca
apareceram e suscitaram a segunda invasão. Números divulgados pela ONU, e nunca
postos em causa, avaliam em 1,7 milhões as vidas ceifadas pelo embargo, entre
as quais as de um elevadíssimo número de crianças, vítimas da falta de
medicamentos.
Ora a guerra contra o
terrorismo não se cinge a estes países. Há os casos dramáticos da Líbia, da
Síria, do Mali, da República Centro Africana, da Ucrânia, da Palestina, do
Iémen, do Egipto. Sem contar as atrocidades cometidas pelo Estado Islâmico e
pela Al Qaida, entidades cujos patronos são bem conhecidos… Caso haja dúvidas
consulte-se o general Wesley Clark.
Cinco milhões? Certamente
mais, muito mais. Há quem lhe chame, note-se, “guerra humanitária”.
Erradicou-se o terrorismo? Não, o fenómeno continua em crescimento.
Instaurou-se a democracia nos países invadidos? Não. Reina a paz nessas nações?
Não; pelo contrário, a guerra eterniza-se e vivem o caos da desagregação.
Quanto aos responsáveis,
além de continuarem impunes são quem manda no mundo. Em nome da liberdade, da
democracia e dos direitos humanos.
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