MOVEM-SE PEÇAS
ESTRATÉGICAS NO MÉDIO ORIENTE
A Arábia
Saudita prepara a invasão terrestre do Iémen e uma eventual anexação deste
país; os Estados Unidos concluíram um acordo secreto com o Irão; em Israel, um
pronunciamento militar palaciano revela que a tropa está a perder a paciência
com Netanyahu. Movem-se peças estratégicas no Médio Oriente.
O acordo
secreto estabelecido entre os Estados Unidos e o Irão, ao cabo de negociações
iniciadas há dois anos em Omã e que agudizou a tensão entre Netanyahu e Obama a
níveis nunca antes imaginados, confirma que o Irão há muito abandonou qualquer
ideia de uso do nuclear para fins militares, o que está de acordo com o decreto
religioso proclamado ainda por Khomeiny, em 1988, contra as armas de destruição
massiva. Nos termos desse entendimento, que está por detrás das negociações 5+1
de Genebra, o Irão modera o tom em relação às instâncias internacionais, veda o
acesso de sectores extremistas às áreas sensíveis do regime e conserva as
influências adquiridas na Palestina, Líbano, Síria, Iraque e Bahrein desde que
se comprometa a não expandir a revolução. Na prática, está em desenvolvimento
uma partilha do Médio Oriente em zonas de influência directa do Irão e da
Arábia Saudita, sob controlo do eixo Estados Unidos-Israel – isso desde que
Netanyahu e a sua estratégia do Grande Israel do Nilo ao Eufrates sejam
neutralizados.
A recente
formação em Israel do grupo de pressão designado Commanders for Israel
Security, juntando alguns dos mais sonantes nomes das forças armadas israelitas
na reserva, confirma que a deriva sionista pelos antros da extrema-direita
anexionista e expansionista causa preocupação nas forças armadas, onde se
considera que a continuação desta política é susceptível de ameaçar a
sobrevivência do próprio país. E quando o exército – corpo determinante do
regime – pensa desta maneira Netanyahu não pode sentir-se tranquilo, daí
algumas das suas recentes posições de força desafiando Obama e apostando tudo
nos republicanos.
A Arábia
Saudita, à cabeça da NATO regional alargada ao Sudão e a Marrocos, também
conhecida como “coligação sunita”, prepara a invasão terrestre do Iémen depois
dos bombardeamentos aéreos que vem realizando. A operação já tem nome, Decisive
Storm (Tempestade Decisiva). A petroditadura saudita tem 100 mil homens prontos
para a operação, a que se juntarão tropas egípcias, jordanas e paquistanesas,
pelo menos. A ofensiva começará pela cidade setentrional de Saada e tem como
objectivo liquidar o poder recentemente conquistado pelos huti xiitas, em
coligação com os sunitas de índole urbana partidários do antigo presidente
Al-Saleh. Riade quer evitar a secessão do país e por isso o objectivo principal
é tomar o porto meridional de Adem, porta de escoamento de petróleo para as
rotas do Índico e polo de referência da importante produção petrolífera do
país. No quadro de partilha de zonas de influência, Washington não descarta a
possibilidade de a Arábia Saudita anexar o Iémen.
O plano geral
existe na cabeça dos estrategos da Administração Obama, ansiosos por criarem
condições propícias à transferência de tropas do Médio para o Extremo Oriente,
no quadro da estratégia de “Polo Asiático” tão querida da Casa Branca. No meio
destas cogitações percebem-se, porém, muitas pontas soltas. Uma delas é o
monstro do Estado Islâmico, que terá de ser “domesticado” pelo financiador, a
Arábia Saudita; outra é a luta de poderes em Israel, cujos resultados não podem
ser desligados da iminência de eleições presidenciais norte-americanas. Outra
ponta solta, não menos relevante, é o facto de esta estratégia de partilha de
influências entre o Irão e a Arábia Saudita ser engendrada à custa da Rússia.
Moscovo, porém, tem muitos trunfos na manga e não irá facilitar os arranjos.
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