A NATO “está prestes a intervir na Líbia”, anuncia o
secretário-geral da organização, Jens Stoltenberg. Segundo uma resenha obtida
de várias fontes, a acção já começou: mil britânicos dos serviços de operações
especiais estão no terreno; Londres reforçou com 10 Tornados e seis Typhoon o
seu dispositivo aéreo em Chipre; comandos da Navy Seal dos Estados Unidos
chegaram também à Líbia. Prevê-se que um total de seis mil marines
norte-americanos e tropas de vários países europeus (da União Europeia)
participem na operação, que envolve carros de assalto, artilharia pesada,
aviação e forças navais. A NATO regressa oficialmente à Líbia, país que deixou
em destroços, cinco anos e 120 mil mortos depois.
Há poucos dias, em 8 de Janeiro, o AfriCom, comando das
forças norte-americanas em África, expôs o seu “plano quinquenal” de
intervenção manifestando-se pronto para “afrontar as ameaças crescentes
provenientes do continente africano”. Entre os objectivos está o de “concentrar
esforços no Estado falhado da Líbia, contendo a instabilidade no país”.
Descodificando:
A NATO volta a intervir na Líbia, país que desmantelou há
cinco anos “para instaurar a democracia”, agora, na verdade, para retomar o
controlo dos campos petrolíferos que, um após outro, têm caído nas mãos da
organização terrorista Estado Islâmico, ou Isis, ou Daesh, mercenários que no
Magrebe, segundo a Interpol, são comandados pelo líbio Abdel Hakim Belhadj. Os
extremistas ditos “islâmicos” encaminham-se agora de Syrte em direcção à maior
refinaria do Norte de África, a de Marse-el-Brega.
Ao contrário do que aconteceu em 2011, a NATO ocupa-se agora
também da guerra terrestre, e não é difícil perceber porquê: em primeiro lugar,
os seus aliados de há meia década, os grupos terroristas que convergiram no
Estado Islâmico, são agora seus rivais no controlo sobre as riquezas
petrolíferas líbias, as maiores reservas de África; em segundo lugar, tratando-se
de instalações petrolíferas não há que confiar em absoluto na “cirurgia” dos
bombardeamentos aéreos, é preciso dar o corpo ao manifesto recorrendo a rambos
de várias especialidades.
Petróleo é sempre petróleo e se em 2011 a NATO e os
terroristas tomaram Tripoli graças a operações nas quais foram sacrificadas as
vidas de mais de cem mil civis, agora é preciso recuperar as refinarias com os
menores danos materiais possíveis, de preferência intactas, isentas de custos
de restauração.
Formalmente a operação da NATO vai desenrolar-se sob comando
italiano, a potência colonial tradicional da Líbia. Na prática decorrerá sob a
cadeia de comando da NATO e controlo norte-americano. A aliança terá à sua
disposição todas as bases e estruturas italianas, principalmente as de Vicenza
e Nápoles, onde funcionará o centro de operações sob comando de um almirante
dos Estados Unidos subordinado ao supremo comando aliado na Europa, também em
mãos norte-americanas.
“Chegámos, vimos e ele morreu”, exclamou em risada aberta a
cesarina Hillary Clinton, candidata presidencial então em funções de secretária
de Estado de Obama, em 2011, depois do assassínio de Muammar Khadaffi. Uns
tempos antes, o mesmo Khadaffi, em conversa telefónica com o primeiro-ministro
britânico, Tony Blair, agora divulgada, preveniu que “se eu for derrubado será
a jihad (“guerra santa”) na Líbia”, ou seja, o terror e o caos. Em 2011 quando
os terroristas islâmicos tomaram o poder em Tripoli sob a protecção da NATO, a
aliança nomeou comandante militar da capital o atrás citado Abdelhakim Belhadj,
actualmente o chefe do Estado Islâmico no Magrebe e que há menos de dois anos
foi recebido em Paris no Ministério dirigido por Laurent Fabius. Isto é, a NATO
além de prevenida fez com que se cumprisse o vaticínio catastrófico do defunto.
A guerra da NATO regressa oficialmente à Líbia, onde nunca
deixou de estar em cinco anos. Bem vistas as coisas, o Estado “falhado” líbio é
apenas um pretexto e poderá continuar à espera, pois tem-se mantido assim desde
que a Aliança Atlântica meteu as mãos no país. E a democracia já nem faz parte
do discurso oficial.
É apenas terror, seja qual for o lado do conflito. É apenas
petróleo.
Quero dizer-lhe não só por este mas por todos os outros, que o admiro, muito obrigado.
ResponderEliminarjá somos dois
ResponderEliminarManuel Fonseca