O novo governo da Polónia, que a púdica linguagem politicamente
correcta dos meios de “referência” qualifica como “ultraconservador”, decidiu
abrir o ano “curando o país de algumas doenças” através da instauração da
censura oficial nos meios de comunicação públicos. Bruxelas anuncia que vai
pensar e debater o assunto para depois, eventualmente, tomar uma decisão, que
daqui a não se sabe quanto tempo poderá culminar na suspensão do direito de
voto do país – ou seja, tal como na Hungria, a resposta não dará em nada, os
intuitos censórios vencerão.
O Partido Direito e Justiça (PIS) que governa a Polónia há algumas
semanas, aproveitando o caminho que foi aberto pela cruel política económica da
extrema-direita neoliberal, é, em português comum, um partido fascista entre os
muitos que vão tomando posições governamentais e próximas disso através de toda
a Europa. É um partido semelhante ao Fidesz de Viktor Orban, na Hungria, dito
ultranacionalista ou ultraconservador e que, para encurtar definições e
traduzir a realidade, é simplesmente fascista. Tal como os seus aliados Jobbik,
que praticam o terrorismo através de grupos de assalto organizados à imagem e
semelhança das SA de Hitler.
O partido governante da Polónia, é certo, não implanta a
censura criando uma equipa de coronéis armados de lápis azuis à maneira do
antigamente, por exemplo em Portugal. O método é mais polido, assente em leis
aprovadas pelas instituições no poder: transforma os meios de comunicação
públicos, que são sociedades de direito comercial controladas pelo Estado, em
instituições “culturais” gerida pelo Conselho Nacional dos Media, a criar. “Será
o primeiro passo para curar o país de algumas doenças”, adverte Jaroslav
Kaczinsky, o chefe do partido.
Uma dessas doenças, explicada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros,
Witold Waszcykowski, tem como sintoma o facto de a sociedade polaca caminhar no
sentido “marxista” de “uma nova mistura de raças, um mundo de ciclistas e vegetarianos
que só se interessa por energias renováveis e se opõe a todas as religiões, o
que não tem a ver com as raízes polacas tradicionais”.
A União Europeia reage prometendo que a 13 de Janeiro
iniciará o debate sobre a aplicação do “mecanismo do Estado Direito” a esta “suposta
violação” pela Polónia, mas conhecendo o que se passou perante a implantação
dos mecanismos da ditadura húngara, nada irá acontecer.
O Partido Direito e Justiça declara-se “eurocéptico”, mas
cumpre papéis estratégicos que se tornaram fundamentais para a União Europeia
no formato actual: é um aliado fulcral da política alemã, é um dos gendarmes
que assegura a manutenção do regime fascista na Ucrânia, é um ponta de lança
insubstituível nas acções de provocação à Rússia, governa uma grande potência
determinante na transposição dos centros de decisão da União Europeia para
Leste, sustenta as políticas agressivas e de tendência igualmente neofascistas dos
países do Báltico e da Eslováquia. É significativo que o actual presidente do
Conselho Europeu seja Donald Tusk, ex-primeiro ministro polaco e um dos maiores
responsáveis para criação de condições que permitiram a subida dos fascistas ao
poder no seu país.
Enquanto muitos políticos europeus debatem hoje a maneira de
travar o passo à ascensão fascista de Marine Le Pen em França, o fascismo
implanta-se sem restrições no Leste da Europa, a região onde tem raízes mais
profundas e que não foram extirpadas durante os 70 anos que já passaram sobre o
fim da última grande guerra.
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