Os acontecimentos violentos em território alemão iniciados
na noite de Ano Novo, principalmente nas cidades de Colónia e Hamburgo, estão
envolvidos em contradições e deficiências de informação, que não parecem
acidentais, contribuindo para agravar os sentimentos xenófobos e os
comportamentos anti refugiados manobrados por grupos racistas e de
extrema-direita.
Até ao momento há cerca 150 queixas formais de mulheres que
dizem ser vítimas de agressões sexuais – violações em alguns casos – praticadas
junto à estação ferroviária de Colónia, na cidade portuária de Hamburgo e
também, de maneira mais isolada, em Bielefeld, Berlim, Estugarda e outras
cidades, por indivíduos embriagados, actuando aparentemente em grupo, durante
os festejos da passagem de ano. De acordo com as versões conhecidas, os
criminosos agiram a coberto da escuridão aproveitando a confusão e o terror
provocados através do lançamento de petardos.
Passados dez dias, as autoridades policiais continuam a ser
parcas e indefinidas no esclarecimento dos factos. Tanto quanto se sabe, a
única versão existente é a de que os agressores foram indivíduos do sexo
masculino com “aparência árabe ou norte africana”. O ministro da Justiça, Heiko
Maas, fala em “nova forma de criminalidade organizada”, não explicando em que
dados assenta tal informação, do mesmo modo que a chanceler, Angela Merkel, garante
que “não se trata de casos isolados”. O ministro do Interior, Ralf Jagger,
constatou que o “movimento” foi organizado através das redes sociais.
Neste cenário, aproveitado agora através de múltiplas acções
de mobilização e “esclarecimento” promovidas pelo partido nazi Alternativa para
a Alemanha (AfD) e o movimento islamófobo Pegida, os partidos do governo e o
próprio executivo prepararam medidas legislativas para facilitar o processo de
expulsão de estrangeiros condenados por actividades criminosas e o cumprimento
das penas de prisão dos eventuais condenados em cadeias dos países de origem,
proposta esta do vice-chanceler Sigmar Gabriel, chefe do Partido Social
Democrata.
Tais declarações e medidas surgem na sequência de factos que
não foram esclarecidos e que tiveram como desenvolvimentos, para já, a demissão
do chefe da polícia de Colónia.
Alguns jornais sublinham que a descrição de “aparência árabe
ou norte africana” para identificar os participantes na “onda de violência” é
suficiente para desencadear um clima de perseguição xenófoba aos imigrantes e
uma travagem da chamada “política de portas abertas” criada pela Srª Merkel em
relação aos refugiados. Ao que se sabe, há mais de um milhão de refugiados pretendendo
ser acolhidos na Alemanha numa altura em que, segundo as entidades patronais,
as necessidades da economia do país em mão-de-obra não qualificada são bastante
inferiores.
Além disso, outros factos suscitam dúvidas na opinião
pública. Os acontecimentos ocorreram na noite de 31 de Dezembro e só no dia 4,
segunda-feira, a polícia e a comunicação social falaram da “onda de violência
na noite de Ano Novo em Colónia e Hamburgo”. Em plena época da “informação em
directo”, a sociedade alemã manteve-se no desconhecimento de factos
gravíssimos durante todo um fim-de-semana prolongado. A tal ponto que a cadeia
de TV ZDF se sentiu na obrigação de pedir desculpas aos espectadores por tal
fracasso informativo.
No entanto, os relatórios policiais da noite de Ano Novo não
registaram nada de anormal. Uma nota da polícia de Colónia divulgada no dia 1
dá conta de que a passagem de ano decorreu em “ambiente alegre, com celebrações
na sua maior parte pacíficas”.
Testemunhas presentes junto à estação de Colónia revelaram à
comunicação social que durante os festejos alguns indivíduos se excederam,
obrigando a polícia a intervir a e conduzi-los para o interior da estação.
Pouco depois os autores de distúrbios estavam de volta aos locais de onde foram
retirados.
Logo que as notícias começaram a correr, a partir de dia 4,
bandos organizados do AfD e do Pegida iniciaram as acções de rua contra
imigrantes e refugiados, fazendo crer que os factos são consequência directa
dos estrangeiros em território alemão, agravados pela entrada dos refugiados.
De acordo coma polícia, dos 32 indivíduos investigados por
terem alegadas responsabilidades nos acontecimentos, 22 são refugiados – entre eles
9 argelinos e 8 marroquinos. Não há notícias de sírios envolvidos, a não ser a referência
de um jornal a um detido que terá gritado, exibindo documentos: “sou sírio, têm
de me tratar bem porque estou a convite da Srª Merkel”.
As acções de rua nazis e do Pegida prosseguem
quotidianamente, provocando alguns confrontos com manifestantes antifascistas
que denunciam o aproveitamento que está a ser feito a propósito de
acontecimentos mal esclarecidos.
As autoridades policiais e políticas, porém, continuam reticentes
em revelar em pormenor o que se passou na noite de 31 de Dezembro; no entanto,
generaliza-se a opinião de que, fruto destes acontecimentos mal explicados,
está a esbater-se rapidamente na Alemanha o espírito de boa vontade no
acolhimento aos refugiados que se verificou durante o Outono perante a
indisfarçada ira das poderosas comunidades racistas e xenófobas germânicas.
Obrigada mais uma vez pela possibilidade de informação alternativa. esta noticia dada pelas televisões já me tinha parecido estranha e agora confirmei essa impressão. Acho tão bizarro que estrangeiros em situação extremamente periclitante se tivessem atrevido a fazer o que dizem que eles fizeram.
ResponderEliminarJá todos nos esquecemos do incendio do Reistag (não sei se é assim que se escreve) mas com nazis envolvidos no assunto todas as hipóteses mesmos as mais estranhas são de considerar.