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terça-feira, 16 de junho de 2015

ILARIA ALPI E A SUÁSTICA NO RELVADO


Passam 21 anos e alguns meses entre o assassínio da jornalista italiana Ilaria Alpi e do seu câmera Milan Hrovatin na Somália e o aparecimento de uma cruz suástica desenhada no relvado de um estádio croata para um jogo à porta fechada, punição devida à singela explicação de que “os adeptos croatas entoam cânticos racistas”.
O que tem uma coisa a ver com a outra? Nada, pensarão os consumidores militantes de telejornais; que ideia absurda, exclamarão alguns grandes editores, que provavelmente não sabem quem foi a sua corajosa colega Ilaria Alpi.
Ora uma coisa tem a ver com a outra, e muito, porque faz parte da ordem natural das coisas no mundo que nos governa.
O nazismo na sua versão croata, agora o “neo-ustachismo”, está vivo e recomenda-se. É a ideologia do “pai fundador” da “Croácia moderna” - garboso membro União Europeia, pois claro - Franjo Tudjman, que tem na actual presidenta, Kalinda Grabar Kitarovic, uma digna sucessora. Outrora com a Alemanha de Hitler, hoje com a Alemanha de Merkel, a Croácia, ora uma província económica alemã, sofre de uma vocação supremacista dentro dos Balcãs. Os neo-ustachis estão para a Croácia como os banderistas para a Ucrânia, são os herdeiros dos colaboradores de Hitler chegados ao poder. A senhora Kalinda Grabar Kitarovic saltou para a presidência croata a partir do cargo de secretária geral adjunta da NATO e pode dizer-se que é unha e carne com a senhora Victoria Nuland, a subsecretária de Estado norte-americana que foi a operacional golpista na Ucrânia. Por isso, quando a presidente croata, numa indignação ridícula, diz que manda investigar o aparecimento de uma suástica num relvado croata para um jogo com a Itália a notícia seria para rir se tal desplante não tivesse a gravidade que tem.
Nada é mais simbólico que a exibição do nazismo croata num jogo logo com a Itália.
Ilaria Alpi, jornalista italiana, foi assassinada na Somália com o seu câmera Milan Hrovatin (por sinal de origem croata) em 20 de Março de 1994. Um corajoso documentário de Luigi Grimaldi visível na Rai 3, demonstra que os jornalistas foram assassinados pela CIA, em colaboração com a Gladio, seita terrorista nazi dentro da NATO, e com os serviços secretos italianos, por terem descoberto que a Somália era um entreposto de passagem de armas norte-americanas para a Croácia, então sustentada pela NATO na guerra para destruir a Jugoslávia. Uma guerra da qual o neo-ustachi Franjo Tudjman emergiu para a presidência do novo país. Segundo Ilaria Alpi, a CIA usava barcos da empresa Schifco, que a Itália oferecera oficialmente para desenvolvimento da pesca na Somália. Esta frota, segundo as investigações de Ilaria Alpi, era também usada para despejar resíduos tóxicos radioactivos nas águas somalis. Na altura, recorda-se, estava em curso a primeira “guerra humanitária” promovida pela NATO e os Estados Unidos, a que se seguiram Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria… Sempre em nome dos direitos humanos e da missão de salvar vidas. A justiça e os parlamentares italianos descobriram um único culpado pela morte de Ilaria Alpi, um cidadão somali que os pais da jornalista asseguram estar inocente.
Por falar em Síria, a Croácia é agora um dos países que, além de fornecer armas aos nazis ucranianos, contribui para abastecer os mercenários do tipo Al Qaida e Estado Islâmico que alimentam a guerra civil síria a soldo da NATO, Estados Unidos e amigos, pois quem havia de ser? A Croácia presidida por uma neo-ustachi devolve hoje, através da Turquia, os favores que há 20 anos lhe foram prestados, como demonstrou a jornalista Ilaria Alpi, sendo por isso silenciada.
Porque em silêncio e para silenciar quem descobre incomodidades deste tipo existe o Team 6, um super secreto sistema norte-americano de comandos denunciado pelo New York Times que pratica pelo mundo fora, onde quer que o poder global o exija, a chamada “queima de arquivo” através de assassínios selectivos.
A relação entre uma suástica num relvado croata e o assassínio de Ilaria Alpi faz todo o sentido. São sinais do mundo que temos.

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