O G7, que já foi G8 e volta a ser G7 quando isso é da
conveniência de quem o inventou, é um encontro das “grandes democracias” para
fazerem o balanço de como se comportam todos os outros, democracias ou não, que
recebem elogios, raros e sempre verbais, e sobretudo reprimendas, severas,
contundentes, dolorosas. O G7 é, por assim dizer, um tribunal da democracia,
que aplica leis que não são válidas para os seus membros porque, ungidos pela
própria essência da democracia, estão acima de qualquer suspeita e controlo.
Desta feita as vítimas escolhidas para se sentarem no banco
dos réus foram a Rússia – despromovida do favor que em tempos lhe facultaram de
haver G8 em vez de G7 – a Grécia e a Síria. Previsível, como tudo o que é
controlado pelos donos absolutos da democracia. Dantes havia também o Irão, mas
isso agora é outra história, ou pelo menos assim se pensa, como se verá a
partir do fim deste mês. Houve ainda uns segundos, suficientes creio, para que
ficasse registada em acta a preocupação destes sete magníficos com o estado
miserável em que se encontra o ambiente do planeta terra. Podemos ficar
descansados: o tempo utilizado foi pouco mas aproveitado até ao milésimo de
segundo: o G7 prometeu fazer tudo o que estiver ao seu alcance para aliviar o
mundo dos efeitos do excesso de carbono na atmosfera através de acções que
serão evidentes já amanhã, isto é, em 2050.
Mais urgente, muito mais urgente, como se compreende, é por
o dedo no nariz da Rússia, aplicando-lhe novas sanções pelo que se passa na
Ucrânia, onde o excelentíssimo tribunal dos sete ordenou que democracia e
fascismo são uma e a mesma coisa e ai de quem desobedece. Novas sanções a
Moscovo e “aprofundar” o desenvolvimento da Ucrânia, isto é, estabilizar a
acção da junta nazi são, no entender dos sete, as soluções que tudo irão
resolver. Até a senhora Merkel, de um país onde a economia sofre assinaláveis
convulsões devido à ressaca das sanções a Moscovo, acha que sim, esse é o
caminho e afinal as escudas que os espiões da NSA fazem aos seus telefonemas
são lógicas porque os Estados Unidos e a Alemanha são “amigos inseparáveis” e
os amigos nada têm a esconder.
Também a Grécia vai ter de entrar nos eixos, ameaça o G7. Já
chega de o governo Tsipras andar a tentar fintar a troika, os mercados
financeiros, todos aqueles que engordam com os sacrifícios de morte impostos
aos gregos. A dívida é para pagar, a austeridade é para levar até às últimas
consequências, os donos da democracia estão a perder a paciência com estas
rebeldias anacrónicas de querer que os povos não sejam aquilo que estão
condenados a ser: paus mandados do mercado e do seu tribunal da democracia, o
G7.
A cimeira do G7 revelou também a impaciência dos seus
membros por chegarem a mais uma reunião e, apesar de todas as suas ordens, o
impertinente Bachar Assad continuar a ser presidente da Síria, com a agravante
de ter sido reeleito pelos seus concidadãos. Por isso os sete decidiram
reforçar a ajuda aos terroristas “moderados”, que por sua vez canalizarão esses
apoios para quem de direito, o Estado Islâmico e a Al Qaida, inimigos públicos,
amigos privados. Ou seja, o G7 insiste na receita de sempre, a que desfez em
cacos o Médio Oriente, para que os cacos se desfaçam em caquinhos e então os
senhores da região, democracias autênticas e puras como são as de Israel e
Arábia Saudita, em concerto com o regenerado Irão e os Estados Unidos, possam
impor a ordem, uma nova ordem.
E pronto, o G7 fez o que tinha a fazer, chegou a hora do
retrato de família, provavelmente animado pelo presidente da Comissão Europeia,
que leva muito a sério o seu papel de clown político e cerimonialista. O
tribunal das democracias reuniu-se, o diktat ficou escrito, que o cumpra quem
tem de cumprir, porque as sanções e as guerras são o caminho certo e certeiro
para a paz. Assim vai o mundo.
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