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domingo, 7 de junho de 2015

LINHA DE MONTAGEM TERRORISTA


Oficiais e armas norte-americanas chegaram à base militar da NATO de Incirlik, na Turquia, e a uma pequena base na Jordânia durante o mês de Maio para que se iniciem a selecção e o treino da “nova geração” de mercenários do Exército Sírio da Liberdade, a entidade que os Estados Unidos e aliados inventaram para derrubar o presidente sírio, Bachar Assad, e que tem servido como uma das pontes para alimentar a Al Qaida e o Estado Islâmico.
O argumento invocado pelos autores desta estratégia, segundo a qual a operação se destina a combater em simultâneo o exército regular sírio e o Estado Islâmico, tem provocado sorrisos e dichotes no Quartel-General da NATO em Bruxelas. Como pode um grupo inventado do nada, e cuja ligação à Síria não passou originalmente de alguns dissidentes comprados por meia dúzia de patacos entre membros do exército sírio, pode ambicionar uma guerra em duas frentes e contra adversários tão poderosos como as tropas de Damasco e o Estado Islâmico (EI)?
A verdade é outra. A CIA e afins continuam apegadas à estratégia de criar e alimentar redes terroristas cuja utilização vai variando conforme os objectivos em determinado momento e circunstâncias. Nas vésperas da assinatura de um acordo entre os Estados Unidos e o Irão tornou-se claro que o Estado Islâmico, organização cujo comportamento é de pura selvajaria e de cruel banditismo, integra o processo acordado entre Washington e Teerão, com o envolvimento de sectores israelitas, de partilha do Médio Oriente em esferas de influência. O “califado” islâmico proclamado pelo Estado Islâmico em partes contíguas dos territórios da Síria e do Iraque, juntamente com a possível criação de um Estado curdo no Curdistão Iraquiano, fazem parte desta operação de partilha, pelo que o argumento norte-americano de que a “nova geração” dos “moderados” sírios irá combater o EI é pura ficção, uma deliberada mentira.
Círculos de espionagem afectos às estruturas da NATO asseguram que os Estados Unidos estão a preparar um “rigoroso processo de selecção” dos mercenários de “nova geração” de modo a que não sigam as pisadas dos anteriores, isto é, irem engrossar os bandos da Al Qaida e do EI. Para isso prevê-se que os candidatos sejam filtrados através de informações existentes na miríade de bases de dados da espionagem norte-americana criadas pelas acções da NSA através de todo o mundo, tal como foram denunciadas por Edward Snowden. A Turquia e a Arábia Saudita, por sua vez, pretendem ter voz activa nessa selecção, o que deitaria imediatamente por terra, se elas existissem, as intenções da CIA de não recrutar gente muito chegada às teses do radicalismo islâmico.
Na prática, o que está a acontecer – como sempre – a coberto das operações de treino de “combatentes da liberdade” nas bases da NATO na Turquia e em instalações do mesmo tipo na Jordânia, é a criação de bandos terroristas que irão engrossar os já existentes e que alimentam cada vez mais situações de conflito em zonas críticas do globo. Criar grupos terroristas é, no fundo, a essência da chamada guerra contra o terrorismo.
As aberrações são de tal ordem que, no meio delas, se perdeu nos escombros do tão esquartejado direito internacional este princípio básico e ostensivamente caído em desuso: com que legitimidade alguns países se arrogam o direito de fundar grupos armados com o objectivo declarado de ir derrubar um governo de um Estado soberano? Para que conste, as eleições que sufragaram o chefe de Estado da Síria foram bastante mais livres e democráticas que as organizadas pelos Estados Unidos e aliados em países como a Ucrânia, o Iraque e o Afeganistão.
Arrasar o direito internacional invocando o direito internacional é, ao fim e ao cabo, mais um elemento da estratégia dominante de alimentar o terrorismo a coberto de combater o terrorismo, de violar os direitos humanos em nome do respeito pelos direitos humanos.


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