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domingo, 3 de abril de 2016

A EUROPA À MERCÊ DE UM PADRINHO DO TERRORISMO



É provável que ao estabelecerem o recente e vergonhoso acordo com o regime turco sobre os refugiados os dirigentes europeus não se tenham apercebido do longo e trágico alcance da sua medida oportunista. Ao colocarem-se ao dispor do poder de chantagem de Recep Tayyp Erdogan, o presidente da Turquia, deixaram não apenas a União Europeia, mas todo o continente, à mercê de um dos principais patronos do terrorismo islâmico, um ditador que vem seguindo metodicamente uma via de poder absoluto e cujas ondas de choque não serão contidas no interior das fronteiras do seu país.

Erdogan não é um político, é um homem que crê ter uma missão superior. “A democracia é um eléctrico que apanhamos para nos levar até onde queremos, e depois descemos”, disse há 20 anos este homem que chefia um regime de índole totalitária, em relação ao qual a NATO não manifesta qualquer reserva, antes pelo contrário. Agora que chegou à presidência turca, em eleições adulteradas e nas quais dispôs do incentivo de dois milhões de euros doados pela ditadura da Arábia Saudita, Erdogan já suprimiu da comunicação social as vozes incómodas e, do palácio branco das mil e uma noites que fez erguer, prepara-se para consolidar a ditadura islâmica interna e institucionalizar, sem quaisquer limites, a marginalização da minoria curda.

De Erdogan sabemos, por exemplo, que tem um convívio habitual e familiar com Yassin al-Qadi, o príncipe saudita conhecido, pela própria ONU, como o “banqueiro da al-Qaida”, ligação que chegou a ser denunciada pela justiça e a polícia turcas, o que custou o saneamento imediato de todos os envolvidos; sabemos que tem dado guarida à logística do terrorismo no Médio Oriente, “moderado” ou “radical”, assegurando condições para o treino, armamento e infiltração na Síria, ou o transbordo aéreo para outros países, da Líbia ao Iémen, de milhares de mercenários islamitas que tanto podem servir o “Exército Livre da Síria”, como a Al-Nusra, heterónimo da al-Qaida, como o Estado Islâmico e os seus heterónimos, conforme calha ou lhe convém; e também sabemos que a Turquia é o entreposto privilegiado, com envolvimento de navios fretados por Bilal, filho de Erdogan, do petróleo roubado pelo Estado Islâmico, sobretudo no Curdistão iraquiano, e de cujo contrabando tira proveito para financiar os seus massacres.

O que talvez muitos desconheçam sobre Erdogan é de onde vem o seu espírito de missão. Ele é oriundo da milícia Milli Gorus, a organização dos “lobos cinzentos” fascistas a que pertencia, por exemplo, Ali Agca, que tentou assassinar o Papa João Paulo II em 1981. Os supremacistas formados nessa milícia pan-turca consideram-se herdeiros dos hunos de Átila e do espírito duro e insensível do lobo das estepes da Ásia Central, características de uma raça pura e superior que adoptou os Islamismo como instrumento de expansão e afirmação. Entre esta maneira de pensar e o arianismo de Hitler descubra as diferenças.

O espírito pan-turco tem-se manifestado regularmente na História do país pelos massacres de não-turcos, como os cometidos pelo sultão Abdulhamid II, no final do século XIX, e pelos “jovens turcos” – apesar do seu carácter secular – contra os arménios e outras comunidades de cristãos, entre 1915 e 1923. Erdogan crê chegado o seu momento, e o alvo preferencial são agora os curdos.

Foi a este homem, aliás com as costas sempre bem protegidas pela NATO, que os dirigentes da União Europeia entregaram a Europa em troca da contenção dos refugiados e do seu repatriamento à força, violando essas coisas anacrónicas como são o direito internacional e os direitos humanos. Erdogan exigiu a Bruxelas três mil milhões de euros por ano para conter os refugiados da guerra da Síria, mantendo o poder discricionário de lhes abrir ou fechar as fronteiras europeias quando lhe interessa, e a verba foi garantida. Os chefes europeus asseguraram-lhe ainda que vão acelerar a integração turca na União e suprimiram os vistos de circulação com a Turquia. Os operacionais da al-Qaida ou do Estado Islâmico passam, deste modo, a mover-se muito mais facilmente, por exemplo, entre o Oriente e Bruxelas, ou Paris, ou qualquer recanto europeu.

Aliás nota-se que o regime turco dispõe já de um agudo poder premonitório sobre acontecimentos trágicos na Europa. O diário Star, órgão oficial do erdoganismo, encheu a capa com a manchete “A Bélgica Estado terrorista” na manhã de 22 de Março, isto é, em simultâneo com os atentados de Bruxelas. A acusação do jornal baseia-se no facto de a Bélgica acolher comunidades curdas e autorizar as suas manifestações contra a opressão turca.

Enquanto impõe a austeridade feroz contra os povos europeus, a União Europeia passa a entregar três mil milhões de euros por ano ao fascista Erdogan, a fundo perdido e sem garantias. Juncker, Donald Tusk e os chefes dos governos da União não podem garantir-nos, a partir de agora, que esses três mil milhões não sirvam para financiar atentados cometidos pelos protegidos de Erdogan, chamem-se Estado Islâmico, al-Qaida ou “moderados”, algures, a qualquer momento, em qualquer lugar da Europa.

Pelo que somos forçados a concluir que a famosa “guerra contra o terrorismo” nos principais Estados europeus serve, em primeiro lugar, para impor, paulatinamente, uma sociedade policial.

 

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