O presidente do Banco Central Europeu participou na
primeira reunião do novo Conselho de Estado da República Portuguesa.
Tal aberração pareceu normal à
comunicação social oficial, que há muito perdeu as referências da soberania e
cujo sentido crítico está limitado a qualquer beliscadura que seja dada na
União Europeia e correlativos. Foi possível, até, detectar uma pontinha de
orgulho por alguém tão revelante como o senhor Draghi ter descido do seu
pedestal para aceitar dirigir-se a Belém.
O que aconteceu, porém, foi um
gravíssimo acto de humilhação dos portugueses sob os próprios narizes, uma
ingerência grosseira nos órgãos de soberania da República franqueada pelo “mais
alto magistrado da nação” – não era assim que se dizia nos tempos da
“democracia orgânica” dos padrinhos do actual chefe de Estado?
Zé Mário Branco, na sua
“chulinha” desencantada, aquela em que “o mês de Novembro de vingou”, diria a
propósito de mais este triste episódio, que “houve aqui alguém que se enganou”.
Mas não: o equívoco é aparente e nada tem de inocente. O fabricante de factos
políticos na TV catapultado para presidente da República continua a sua saga de
manobrismo que lhe corre nas veias, e daqui em diante será sempre a refinar.
Mario Draghi, um tecnocrata ao
serviço do regime de austeridade, veio a Lisboa com a missão de ilibar o
governo anterior de todas as malfeitorias que fez aos portugueses, excedendo
até Bruxelas nos atentados sociais cometidos; e dizer ao actual governo,
aproveitando a porta aberta pelo presidente da República, “estou de olho em
vós”, isto é, não caiam na tentação de emendar o caminho que vem de trás.
Foi esta a baixa manobra
política organizada pelo presidente da República, em condições de absoluto
desrespeito pela soberania de Portugal.
Mario Draghi é um dirigente
não-eleito de uma instituição europeia que gere a moeda única dentro dos
cânones não-democráticos e ao serviço de uma só potência da União, e que vêm da
sua génese. Ninguém perguntou aos portugueses, por exemplo, se queriam a moeda
única, se aceitavam os critérios de convergência e demais ingerências que não
passam de instrumentos da austeridade.
Acresce que o não-eleito
Draghi pertence à dinastia do terrorismo financeiro praticado pelo Goldman
Sachs, a tal instituição que provocou a última crise e cujo presidente diz
fazer “o papel de Deus na Terra” – pelos vistos a institucionalização da
austeridade como regime político.
Draghi não foi um grumete do
Goldan Sachs: desempenhou funções de vice-presidente e de director executivo,
por sinal numa época em que a empresa martelava as contas públicas na Grécia
que estão na origem do terrorismo social que continua a ser imposto ao povo
grego, em parte por acção do Banco Central Europeu, presidido agora pelo mesmo
Draghi.
Pelas mãos do chefe de Estado,
foi este dirigente do submundo opaco das manobras da grande finança
internacional que veio dar mais do que simples palpites na reunião inaugural do
novo Conselho de Estado da República Portuguesa.
O carácter aberrante do
acontecimento passou praticamente em claro aos portugueses, ao que parece
entorpecidos de embevecimento com a actividade frenética do afamado
politólogo-futurólogo transferido de Queluz para Belém.
O próprio governo, que em dois
tempos levou uma rasteira sem bola, parece que nada sentiu.
Mas quem quiser perceber que
perceba: o presidente da República Portuguesa tem agenda própria, orientada
pela hora de Bruxelas, susceptível de funcionar como manobra capciosa para
extravasar os seus poderes constitucionais – e não em benefício dos
portugueses. O manobrismo político é um vício incurável.
É isso!
ResponderEliminar100% de acordo. é um prenúncio assustador!
ResponderEliminarHelena Rato
UMA ACTIVIDADE ECONÓMICA DE ALTO RISCO para os contribuintes: a actividade bancária (ex: BPN, BES, BANIF,...).
ResponderEliminar.
Sendo a actividade bancária uma actividade económica de alto risco para os contribuintes, o Regulador (Banco de Portugal) deverá ser obrigado a apresentar periodicamente um relatório detalhado aos contribuintes.
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Uma opinião um tanto ou quanto semelhante à minha:
Banalidades - jornal Correio da Manhã (antes da privatização da trasportadora aérea):
- o presidente da TAP disse: "caímos numa situação que é o acompanhar do dia a dia da operação e reportar qualquer coisinha que aconteça".
- comentário do Banalidades: "é pena que, por exemplo, não tenha acontecido o mesmo no BES".
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P.S.
http://fimcidadaniainfantil.blogspot.pt/
http://concorrenciaaserio.blogspot.pt/