Oficiais e armas norte-americanas chegaram à base militar da
NATO de Incirlik, na Turquia, e a uma pequena base na Jordânia durante o mês de
Maio para que se iniciem a selecção e o treino da “nova geração” de mercenários
do Exército Sírio da Liberdade, a entidade que os Estados Unidos e aliados
inventaram para derrubar o presidente sírio, Bachar Assad, e que tem servido
como uma das pontes para alimentar a Al Qaida e o Estado Islâmico.
O argumento invocado pelos autores desta estratégia, segundo
a qual a operação se destina a combater em simultâneo o exército regular sírio
e o Estado Islâmico, tem provocado sorrisos e dichotes no Quartel-General da
NATO em Bruxelas. Como pode um grupo inventado do nada, e cuja ligação à Síria
não passou originalmente de alguns dissidentes comprados por meia dúzia de
patacos entre membros do exército sírio, pode ambicionar uma guerra em duas
frentes e contra adversários tão poderosos como as tropas de Damasco e o Estado
Islâmico (EI)?
A verdade é outra. A CIA e afins continuam apegadas à
estratégia de criar e alimentar redes terroristas cuja utilização vai variando
conforme os objectivos em determinado momento e circunstâncias. Nas vésperas da
assinatura de um acordo entre os Estados Unidos e o Irão tornou-se claro que o
Estado Islâmico, organização cujo comportamento é de pura selvajaria e de cruel
banditismo, integra o processo acordado entre Washington e Teerão, com o
envolvimento de sectores israelitas, de partilha do Médio Oriente em esferas de
influência. O “califado” islâmico proclamado pelo Estado Islâmico em partes
contíguas dos territórios da Síria e do Iraque, juntamente com a possível
criação de um Estado curdo no Curdistão Iraquiano, fazem parte desta operação
de partilha, pelo que o argumento norte-americano de que a “nova geração” dos
“moderados” sírios irá combater o EI é pura ficção, uma deliberada mentira.
Círculos de espionagem afectos às estruturas da NATO
asseguram que os Estados Unidos estão a preparar um “rigoroso processo de
selecção” dos mercenários de “nova geração” de modo a que não sigam as pisadas
dos anteriores, isto é, irem engrossar os bandos da Al Qaida e do EI. Para isso
prevê-se que os candidatos sejam filtrados através de informações existentes na
miríade de bases de dados da espionagem norte-americana criadas pelas acções da
NSA através de todo o mundo, tal como foram denunciadas por Edward Snowden. A
Turquia e a Arábia Saudita, por sua vez, pretendem ter voz activa nessa
selecção, o que deitaria imediatamente por terra, se elas existissem, as
intenções da CIA de não recrutar gente muito chegada às teses do radicalismo
islâmico.
Na prática, o que está a acontecer – como sempre – a coberto
das operações de treino de “combatentes da liberdade” nas bases da NATO na
Turquia e em instalações do mesmo tipo na Jordânia, é a criação de bandos
terroristas que irão engrossar os já existentes e que alimentam cada vez mais
situações de conflito em zonas críticas do globo. Criar grupos terroristas é,
no fundo, a essência da chamada guerra contra o terrorismo.
As aberrações são de tal ordem que, no meio delas, se perdeu
nos escombros do tão esquartejado direito internacional este princípio básico e
ostensivamente caído em desuso: com que legitimidade alguns países se arrogam o
direito de fundar grupos armados com o objectivo declarado de ir derrubar um
governo de um Estado soberano? Para que conste, as eleições que sufragaram o
chefe de Estado da Síria foram bastante mais livres e democráticas que as
organizadas pelos Estados Unidos e aliados em países como a Ucrânia, o Iraque e
o Afeganistão.
Arrasar o direito internacional invocando o direito
internacional é, ao fim e ao cabo, mais um elemento da estratégia dominante de
alimentar o terrorismo a coberto de combater o terrorismo, de violar os
direitos humanos em nome do respeito pelos direitos humanos.
E OS MARXISTAS KURDOS QUE SE DESFAZEM EM AGRADECIMENTOS A OBAMA?
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