HOLLANDE
E O TERRORISMO SAUDITA
A notícia circula no Quartel-General da NATO em
Bruxelas sem quaisquer precauções especiais em torno do seu secretismo. Estes
assuntos passaram a ser de lana caprina desde que se tornou óbvio que a França,
seja sob Sarkozy seja sob o socialista Hollande, é o maior parceiro dos Estados
Unidos da América nos trabalhos sujos da Aliança através do mundo, muito para
lá das águas atlânticas em geral, quanto mais do Atlântico Norte. Lá onde quer
que esteja, o velho general De Gaulle soprará ira em todas as direcções, mas de
nada lhe valerá.
A França, é certo, não tem militares no terreno
participando nas operações da coligação contra o Iémen; nem os seus aviões
intervêm nas chacinas de dezenas de milhares de civis já cometidas pela Arábia
Saudita, com aval implícito do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Mas a participação francesa é, digamos, limpa e muito
mais valiosa: fornece as informações decisivas, termo aliás apropriado uma vez
que a operação foi baptizada “Tempestade Decisiva”. O Palácio do Eliseu
instruiu, isto é, sua excelência o presidente Hollande ordenou aos serviços
militares de espionagem (Direction du Renseignement Militaire, DRM) e aos
serviços de espionagem externa (DGSE) que coloquem as imagens de alta qualidade
dos seus satélites Pleaides e Helios à disposição da turba militar saudita e
aliados. Trata-se, de acordo com informação absolutamente garantida, de imagens
com fidelidade de altíssimo nível em áreas inferiores a um metro, as quais
deverão ser entregues aos destinatários acompanhadas das respectivas análises
feitas pelos especialistas dos dois departamentos. Em linguagem comum, serviço
chave na mão.
Nestas coisas do empreendedorismo, da competitividade e
da guerra, ou não andasse tudo junto, sabe-se que uma mão lava a outra, outra
maneira de dizer que não há almoços grátis. A contrapartida a que a Arábia
Saudita e aliados ficam mais ou menos obrigados em troca dos relevantes apoios
franceses à chacina iemenita é a de posteriormente comprarem os serviços
facultados pelos espiões do democrático e socialista presidente Hollande, caso
fiquem satisfeitos. Ou não se tratasse a selvática ditadura saudita de uma
aliada imprescindível do mundo livre, um garante da nossa civilização, do nosso
modo de vida, apesar de uns conhecidos pecadilhos terroristas chamados ISIS e
Al Qaida, ao pé dos quais os crimes no Iémen são peanuts.
Nos círculos da NATO em Bruxelas comenta-se que já em
2009, aí segundo ordens emanadas por sua excelência o presidente Sarlozy, os
espiões franceses estiveram ao serviço de exercícios de fogos reais sauditas
contra civis no Iémen, mas fornecendo imagens de menor qualidade que as de
agora. Compreende-se, a tecnologia evolui e não há melhor feira internacional
do que a guerra para a vender.
Saibam ainda que Paris tem muitas razões para se
orgulhar destes feitos. A qualidade do seu serviço é de tal ordem que serve
para compensar o aborrecimento que os guerreiros sauditas vinham tendo com as
imagens fornecidas pelos equivalentes departamentos norte-americanos, de
qualidade muito inferior, logo insatisfatória para clientes tão exigentes.
Assim sendo, o negócio da venda dos serviços ora em
demonstração far-se-á, quiçá com assinatura pública a realizar durante mais uma
viagem de beija-mão do presidente Hollande ao patriarca em exercício da família
Saud, proprietária da Arábia Saudita. É certo que o acordo custa umas dezenas
de milhares de vidas humanas, mas quem se incomoda com isso, não passa de ralé
iemenita, por certo inimiga da nossa civilização.
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