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quinta-feira, 7 de maio de 2015


 
HOLLANDE E O TERRORISMO SAUDITA
A notícia circula no Quartel-General da NATO em Bruxelas sem quaisquer precauções especiais em torno do seu secretismo. Estes assuntos passaram a ser de lana caprina desde que se tornou óbvio que a França, seja sob Sarkozy seja sob o socialista Hollande, é o maior parceiro dos Estados Unidos da América nos trabalhos sujos da Aliança através do mundo, muito para lá das águas atlânticas em geral, quanto mais do Atlântico Norte. Lá onde quer que esteja, o velho general De Gaulle soprará ira em todas as direcções, mas de nada lhe valerá.
A França, é certo, não tem militares no terreno participando nas operações da coligação contra o Iémen; nem os seus aviões intervêm nas chacinas de dezenas de milhares de civis já cometidas pela Arábia Saudita, com aval implícito do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Mas a participação francesa é, digamos, limpa e muito mais valiosa: fornece as informações decisivas, termo aliás apropriado uma vez que a operação foi baptizada “Tempestade Decisiva”. O Palácio do Eliseu instruiu, isto é, sua excelência o presidente Hollande ordenou aos serviços militares de espionagem (Direction du Renseignement Militaire, DRM) e aos serviços de espionagem externa (DGSE) que coloquem as imagens de alta qualidade dos seus satélites Pleaides e Helios à disposição da turba militar saudita e aliados. Trata-se, de acordo com informação absolutamente garantida, de imagens com fidelidade de altíssimo nível em áreas inferiores a um metro, as quais deverão ser entregues aos destinatários acompanhadas das respectivas análises feitas pelos especialistas dos dois departamentos. Em linguagem comum, serviço chave na mão.
Nestas coisas do empreendedorismo, da competitividade e da guerra, ou não andasse tudo junto, sabe-se que uma mão lava a outra, outra maneira de dizer que não há almoços grátis. A contrapartida a que a Arábia Saudita e aliados ficam mais ou menos obrigados em troca dos relevantes apoios franceses à chacina iemenita é a de posteriormente comprarem os serviços facultados pelos espiões do democrático e socialista presidente Hollande, caso fiquem satisfeitos. Ou não se tratasse a selvática ditadura saudita de uma aliada imprescindível do mundo livre, um garante da nossa civilização, do nosso modo de vida, apesar de uns conhecidos pecadilhos terroristas chamados ISIS e Al Qaida, ao pé dos quais os crimes no Iémen são peanuts.
Nos círculos da NATO em Bruxelas comenta-se que já em 2009, aí segundo ordens emanadas por sua excelência o presidente Sarlozy, os espiões franceses estiveram ao serviço de exercícios de fogos reais sauditas contra civis no Iémen, mas fornecendo imagens de menor qualidade que as de agora. Compreende-se, a tecnologia evolui e não há melhor feira internacional do que a guerra para a vender.
Saibam ainda que Paris tem muitas razões para se orgulhar destes feitos. A qualidade do seu serviço é de tal ordem que serve para compensar o aborrecimento que os guerreiros sauditas vinham tendo com as imagens fornecidas pelos equivalentes departamentos norte-americanos, de qualidade muito inferior, logo insatisfatória para clientes tão exigentes.
Assim sendo, o negócio da venda dos serviços ora em demonstração far-se-á, quiçá com assinatura pública a realizar durante mais uma viagem de beija-mão do presidente Hollande ao patriarca em exercício da família Saud, proprietária da Arábia Saudita. É certo que o acordo custa umas dezenas de milhares de vidas humanas, mas quem se incomoda com isso, não passa de ralé iemenita, por certo inimiga da nossa civilização.
 
 

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