O presidente dos Estados Unidos da América, o
democrata Barack Obama, organizou e acolheu em Washington, durante esta semana,
uma cimeira dos ditadores reunidos numa mafia militar e agressiva disfarçada
sob a inofensiva designação de Conselho de Cooperação do Golfo. Organização
essa que mais não é do que uma tropa de choque ao serviço da política expansionista
da NATO em situações específicas do Médio Oriente, vide os casos do Bahrein, da
Líbia, da Síria.
O desejo do presidente dos Estados Unidos da América, a
potência mundial que organiza mais guerras para distribuir a democracia, teve
de encontrar os chefes da Arábia Saudita, Bahrein, Koweit, Omã, Qatar e
Emirados Árabes Unidos foi tanto que ignorou a desfeita que os padrinhos sauditas
lhe fizeram. O rei não se deslocou e enviou os seus ministros do Interior e dos
Negócios Estrangeiros em sinal de desprezo pelo facto de Obama estar a negociar
com o Irão um acordo sobre a questão nuclear. Como se percebe por este assunto,
as convergências entre o regime terrorista da Arábia Saudita e Israel são cada
vez mais evidentes e nem sequer poupam Obama, principal aliado comum.
Pois Obama organizou a cimeira desta boa e
recomendável gente para quê? Para lhes pedir que respeitem os direitos humanos
nos seus países? Para evitarem, por exemplo, situações digamos, incómodas, como
a de os carrascos sauditas estarem a chicotear publicamente um blogger por
exercer a liberdade de expressão ao mesmo tempo que Riade se fazia representar
a altíssimo nível na manifestação em Paris contra os atentados no Charlie
Hebdo? Para solicitar explicações aos representantes sauditas sobre a
lamentável coincidência de 15 dos 19 acusados de sequestro dos aviões do 11 de
Setembro de 2001 terem partido da Arábia Saudita? Para recomendar ao chefe do
Qatar, e também aos outros convidados, que acabem com o trabalho escravo dos
imigrantes nos seus países? E, já agora, para sugerir que as tropas sauditas se
retirem do Bahrein, onde entraram em 2011 para esmagar em sangue a “primavera
árabe” e se esqueceram de sair? Para instar os seus hóspedes a deixaram de
montar e financiar grupos terroristas (do treino trata ele), cujos expoentes
máximos são hoje o Estado Islâmico e a Al Qaida? Para lembrar ao Conselho de
Cooperação do Golfo que deve evitar as chacinas de inocentes no Iémen, no
Iraque, na Líbia, na Síria? Para solicitar a tão prodigiosos machões o incómodo
de concederem direitos às mulheres dos seus países?
Na verdade, ao que consta, alguns desses assuntos estiveram
na agenda durante os dois dias de aturados e extenuantes trabalhos, embora
abordados numa perspectiva da convergência de interesses, pondo de lado as
críticas, sempre tão destrutivas quando se trata de ditaduras.
Privilegiaram-se, pois, os pontos em comum para que a atmosfera fosse
construtiva, como o soberano saudita desejaria, por certo, apesar da ausência.
Sabe-se também que o presidente dos Estados Unidos da
América chamou a fina flor das petroditaduras mundiais para lhes garantir que
qualquer que seja o acordo a estabelecer com o Irão ele nunca prejudicará os
interesses dos seus países, nem os bons negócios bilaterais e multilaterais
existentes. Ou seja, nos próximos quatro anos a ditadura saudita poderá comprar
pelo menos tantas armas norte-americanas como no quadriénio findo, negócio que
envolveu uma conta calada de 90 mil milhões de dólares. Ao dar esta garantia,
Obama solicitou aos visitantes que tenham cuidado para que a situação no Iémen
não promova uma alteração dos mapas do Médio Oriente, a não ser que tudo possa
enquadrar-se nas alterações que nos últimos anos, e ao compasso de várias
guerras, os Estados Unidos e Israel estão a conduzir para que o Médio Oriente
tenha um novo mapa. Uma carta capaz de acabar com os anacronismos mas
salvaguarde a proveitosa e jamais questionável convergência de interesses entre
Washington, o regime israelita e esse farol da democracia nas arábias que é o
Conselho de Cooperação do Golfo.
Bom artigo...
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