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quarta-feira, 23 de setembro de 2015

A VINGANÇA DAS ARITMÉTICAS


 
O primeiro ministro de Portugal em exercício provocou os deuses das aritméticas e estes, secos, frios, saturados de manipulações, descarregaram-lhe em cima uma hecatombe de estatísticas que dir-se-iam combinadas para lhe tornar a última semana de campanha uma dolorosa via-sacra.
Malditos números!, terá bramado aquele a quem se aplica, como um fato feito por medida, a grande verdade de que a mentira tem as pernas curtas. Tudo começou, aliás, com um acto de esperteza saloia, a que alguns depois chamaram “lapso”, do dito chefe do governo, por certo excessivamente confiante na sabujice da comunicação social do regime, a mesma que lhe oferece diariamente sondagens de 40% desmentindo-se a si mesmas sob a capa esburacada do “empate técnico”. Ufanou-se o sujeito de que os cofres da Nação rebentam pelas costuras, de tal modo que iria remeter para o prestimoso FMI uma remessa de 5400 milhões de euros de amortizações antecipadas da benévola “ajuda” que a instituição nos prodigalizou. Afinal não tardou a saber-se que a entrega de tão volumoso tesouro não se deveu a novo gesto de agrado aos credores, tão da natureza do chefe do governo, mas sim a uma obrigação vencida perante os celebérrimos mercados, ainda para mais – o que depois veio a ser explicado como se de uma terrível malfeitoria se tratasse - decorrente de um empréstimo contraído há 10 anos “pelos socialistas”. Do mesmo modo que daqui a 10 anos, se ainda houver Nação, alguém terá de desembolsar alforges e alforges de dinheiro por conta dos sucessivos empréstimos contraídos pelo governo em funções – e que são, aliás, saudados como benesses dos mesmos mercados, rendidos ao bom comportamento governamental. Enfim, modos de ver as coisas.
O certo é que das catacumbas da comunicação regimental alguém se atreveu a explicar que o rei ia nu, neste caso o primeiro-ministro, ao corrigir o “lapso” governamental, denunciando que a amortização era uma obrigação, não um gesto prometedor insinuando aos eleitores que vêm aí tempos de vacas gordas se ao leme continuarem os mesmos.
Estavam as coisas nesse pé quando a hecatombe estatística desabou, e agora nem Santa Bárbara e muito menos São Bento chegam para acudir ao fulano.
Então não é que a dívida pública saltou já este Verão para 290 mil milhões de euros (não se esqueçam que a troika veio para nos “ajudar” a reduzi-la), continuando a crescer a um ritmo de 1300 milhões por mês?
E o défice? Então não é que em vez dos redondinhos 2,7% que o primeiro-ministro prometeu a Bruxelas como garantia da sua vassalagem, já vai em 4,2% e, no fim do ano, desafiará quaisquer rigores através de uns comprometedores 7,2%? Ora vejam, os algarismos até são os mesmos, um 2 e um 7, e não é que alguém os inverteu em desfavor do primeiro-ministro, só pelo prazer sádico de lhe estragar a campanha? Porém, que ninguém se alarme, garantiu a senhora ministra das contas marteladas. Os números são assim, maus de facto, mas não têm efeitos práticos, parecem ser virtuais, a culpa é do Novo Banco e de não ter sido rifado a tempo das eleições, nada que não se resolva logo a seguir desde que os contribuintes paguem tudo enquanto os tentam convencer de que nada pagam
Isto no meio dos tráficos estatísticos com os desempregados e respectivas famílias e das miradas liquidatárias lançadas contra a segurança social, redundando tudo numa tragicomédia interpretada por burlescos canastrões para quem as pessoas são meros instrumentos, ora úteis ora descartáveis, à mercê das suas ambições.
Olhando esta triste e deprimente peça a partir da plateia, será que alguém ainda tem dúvidas sobre o que nos está reservado pelas performances do primeiro-ministro em exercício e dos seus comparsas ungidos pela excelsa e democrática pertença ao “arco da governação”?
 
 

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