A Wolkswagen e, ao que parece, a BMW, a Audi, a Seat,
oficinas um pouco por todo o mundo, em Portugal também, e mais o que adiante
talvez se venha a entrever, aplicam sistemas para esconder as suas operações
poluentes; o que não é mais do que uma imitação do comportamento dos governos
das grandes potências mundiais que todos os anos, sob o chapéu da ONU, fingem
discutir os meios de salvar o planeta para que este continue a degradar-se
irremediavelmente; grandes impérios da construção civil, como a Vinci e a
Bouygues, estão mais uma vez a contas com processos de corrupção e atentados
contra o ambiente, desta feita na ilha de Reunião, uma colónia de França; a
NATO e os gigantes da produção de armamentos organizam guerras e manobras,
fazem e desfazem governos para que o negócio da morte continue a reluzir; em
Portugal sabe-se que as polícias secretas transmitem informações classificadas
a empresas privadas; a procissão das tramas e tramóias em torno da figura de um
ex-primeiro ministro ainda nem saíram do adro da pouca-vergonha; o primeiro-ministro
em exercício engasga-se e mente quando confrontado, por simples eleitores, com
os resultados das suas malfeitorias e falsifica números com a destreza de um
mágico fracassado.
São apenas alguns exemplos, ao correr do teclado. Chegam
para demonstrar, senhoras e senhores, que não vivemos em democracia, mas sim em
burlocracia. Isto é, somos governados, em regime nacional e global, por um
bando de burlões. Quando escrevo burlões não está em causa somente o
comportamento governamental mas também, e sobretudo, o dos verdadeiros donos
disto tudo, as wolkswagens e bmws, as vincis e companhia que mandam nos
políticos e são, nem mais nem menos, que os senhores do regime.
A Vinci, por exemplo, a quem entregaram os aeroportos e a
navegação aérea em Portugal, numa rifa risonha de compadres qualificada como “grande
negócio”, é a mesma entidade que assalta os transeuntes das autoestradas do
centro e sul de França com portagens escabrosas, também a mesma entidade que
passa e embolsa as multas de trânsito nas ruas de Bruxelas, substituindo-se à
administração pública. Funciona como um Estado multinacional ganancioso viciado
no lucro, ocupando o lugar de Estados que deveriam pertencer aos cidadãos,
consumando aquele que é o sonho de qualquer encartado capitalista neoliberal: a
privatização absoluta do Estado.
Se dedicarmos algumas linhas a analisar o comportamento das
entidades citadas, e também das que estão subentendidas através da certeza de
que tais práticas não são excepções, mas a regra, concluiremos, sem surpresa,
que tal é a cultura vigente, a mentalidade regimental, a sociedade em que
vivemos. Tão enraizada e sedimentada que até o Papa, imagine-se, o Papa, fica a
pregar aos peixinhos.
Ao instalar o kit fraudulento que mente sobre as emissões
tóxicas para a atmosfera e os pulmões dos indefesos cidadãos, a Wolkswagen candidata-se
às mais gratificantes medalhas do empreendedorismo, da competitividade, da
modernidade e da argúcia concorrencial, apenas ao alcance de quem serve como
deve ser o mercado livre. A burla e o mercado livre são a imagem da simbiose
perfeita; e as entidades que mais se aproximarem desta fusão mais perto estarão
da empresa ideal, do governo de excelência.
Transmitir informações reservadas, obtidas sabe-se lá por
que métodos, a empresas privadas, ou montar sistemas que disfarçam o
envenenamento do ambiente são atitudes que animam a verdadeira concorrência,
que asseguram posições de topo nos rankings da produtividade, que garantem as
mais relevantes cotas de mercado, que recompensam os inconformados devotos do
empreendedorismo, enfim, são as imagens reluzentes da realidade imposta aos
cidadãos, que de vez em quando votam para que haja um simulacro de democracia e
tudo continue na mesma… Até ao dia das surpresas, façamos por isso. Entretanto
os cidadãos, bem comportados, fazem separações de lixos, andam de bicicleta
para poupar o ambiente e vomitam austeridade enquanto os donos disto tudo, com
uma dimensão que nos faz parecer míseras bactérias perante cruéis dinossauros,
sujam por atacado e a seu belo prazer numa guerra pela nobre coroa do ladrão
mais apto, mais ganancioso e especulador, merecedor das mordomias e vénias do
regime.
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