A última tendência de campanha dos partidos do arco da
governação, certamente ditada pelos fumegantes brain storms produzidos por
reputados técnicos de marketing alugados temporariamente para o efeito, é a de
evitar fazer promessas aos eleitores. Para tal estratégia não seria preciso recorrer
a renomados profissionais da manipulação publicitária, qualquer um percebe que
os eleitores estão fartinhos de promessas, sabendo que invariavelmente vão
desembocar no território da mentira.
Pois agora não há promessas, e até se promete não fazer promessas
como suprassumo da transparência e da franqueza perante os donos do voto. A
moda agora é números, os meus números para lá, os teus números para cá, os meus
números são melhores e mais fiáveis que os teus, nada disso, os melhores e mais
realistas são os meus. Números esses, os meus e os teus, produzidos todos pelos
mesmos tecnocratas autores dos programas económicos do arco, devendo apenas
discutir-se se os meus são mais amigos do mercado que os teus ou vice-versa,
sendo certo que são todos muito neoliberais, nem de outra maneira poderia ser
porque depois como se iriam explicar os resultados aos draghis, merkels,
djesselboems, hollandes, camerons e obamas desta vida.
Enquanto se esgrimem números, os candidatos-governantes e
governantes-candidatos do arco falam em pessoas. Tem de ser: são pessoas que
votam, por uma vez de quatro em quatro anos também existem pessoas além dos
centros de batota financeira e das máquinas de transformar ossos e sangue humanos
em lucros. Para isso todos eles têm soluções, combinam números com pessoas,
conseguem rimar famílias com boas intensões no versejar monocórdico e sem alma
gritado em feiras e comícios de arregimentados – nisto (e noutras coisas) o
fantasma salazarento não se faz velho.
Pois bem, não façam promessas para não serem apanhados em
mentiras, a estratégia está queimada, qualquer papalvo a denuncia -
sentenciaram os técnicos de marketing. Há coisas, porém, que já nem o mais
pintado dos marketeers consegue disfarçar: a imagem de mentiroso do primeiro-ministro
em exercício. Dela já não se livra; quem o escolher é porque gosta de ser
enganado, uma escolha tão legítima como qualquer outra. O homem é mentiroso compulsivo,
vive disso e a aldrabice congénita acompanhá-lo-á até à tumba.
Não julguem que é o único do arco da governação. Não, não
estou a pensar no dr. Portas, manipulador e aldrabão com um talento que faz do
seu chefe um mentiroso reles, tipo bufo de escola.
Falo do dr. Costa, correndo o país de lés-a-lés não fazendo
promessas mas levando uma grande mentira na bagagem, embrulhada no papel
pardacento de um dos mais gritados dos seus números: o de que ao fim de um pretendido
consulado de quatro anos sob a sua regência a dívida portuguesa cairá dos
impagáveis 130% do PIB para outros impagáveis 117% - sem mencionar uma
hipotética renegociação, imagine-se. Deixo vénias ao blogue O País do Burro por
ter alertado para a enormidade da mentira do dr. Costa através de cálculos que
pessoalmente confirmei com algumas continhas de quarta classe, tirando as
respectivas provas dos nove. Para que a promessa do dr. Costa se cumpra é
preciso que a economia portuguesa suba entre 8 a 8,5% ao ano nos próximos
quatro anos – mais do que a chinesa, pois claro, mas esses estão em crise –
quando agora, muito timidamente e certamente manipulada por impulsos
eleitorais, mal passa de 1%.
Várias conclusões se podem tirar desta promessa do dr. Costa,
que não é promessa mas sim um número, e dos bons. Talvez ele seja um
milagreiro; talvez ele e os seus mentores apenas não saibam fazer contas –
seguindo as pisadas lendárias do dr. Soares; talvez ele tenha escondida na
manga uma austeridade que fará parecer os agentes da troika uns anjinhos
papudos, mas não o poderemos saber porque o dr. Costa foge das promessas como o
diabo da cruz; ou talvez o dr. Costa seja um grande mentiroso, rivalizando com
os companheiros de arco, o dr. Coelho e o dr. Portas, ficando tudo em família.
Confesso que não sei por qual destas hipóteses me decida.
Deixo-vos o final em aberto.
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