O alemão Martin Schulz é o presidente do Parlamento Europeu,
por sinal o único órgão da União Europeia verdadeiramente eleito. Como tal,
deveria sentir responsabilidades acrescidas no respeito pelos cidadãos dos
países da confraria, um importante contingente de 500 milhões de contribuintes
e pagadores de dívidas alheias.
Como Martin Schulz é um “social-democrata”, também há quem
lhe chame “socialista”, serve frequentemente de bandeira aos seus companheiros
de grupo em comícios eleitorais, como recentemente aconteceu em Portugal, onde
normalmente se esconde que os “socialistas e democratas” do Parlamento Europeu
são tão responsáveis como os conservadores na formação de maiorias que
aprovaram as mais gravosas malfeitorias económicas e financeiras contra os
cidadãos, por exemplo troikas, tratado orçamental, semestre europeu,
germanização da moeda, entre muitas outras. Se o leitor tem dúvidas sobre o que
acaba de ser escrito basta-lhe consultar os resultados das votações desses
assuntos em plenário.
Do alto do seu cadeirão, Martin Schultz decidiu agora qualificar como uma “bizarria” a renovação da aliança entre o Syriza e os Gregos Independentes para governar a Grécia. Diz ele que não deveria o Syriza, “como partido de esquerda, aliar-se com um partido de extrema-direita”. Quem o ouve não o leva preso. Até parece um homem de esquerda a falar, assim tão preocupado com a imagem daqueles que apressadamente considera agora irmãos ideológicos depois de ter participado na operação terrorista que levou Alexis Tsipras a capitular perante a máquina incineradora da finança mundial manobrada pelos órgãos da União Europeia, Parlamento Europeu incluído.
Até pode ser que a citada aliança na Grécia seja uma “bizarria”,
embora muito mais bizarro seja, salvo melhor opinião, o modo como Tsipras se
rendeu aos credores, dispondo-se a tudo para manter o país no euro – isto é, na
via da austeridade e da sangria dos gregos, mais ou menos light, a ver vamos.
O mais bizarro de tudo é que seja Schultz a dizê-lo. O homem
que pertence à coligação alemã, chefiada por Merkel, a qual transformou a
Grécia num protectorado submetido sem respeito nem dignidade, é muito pouco
recomendável para criticar supostas bizarrias dos outros; o homem que considera
democrático o governo fascista da Ucrânia tem pouca legitimidade para condenar
alianças de outros com a suposta “extrema-direita”; o homem que, ao lado da patroa
Merkel, tem acicatado os da troika a torturarem sem limites o povo da Grécia
deveria medir as palavras quando emite sentenças sobre a maneira como os
escolhidos pelos gregos se organizam; o homem que, como presidente do
Parlamento Europeu ou simples dirigente “social-democrata”, não pronunciou uma
palavra nem mexeu uma palha para evitar as guerras que dizimam milhões de
pessoas e estão na origem da dramática onda de refugiados que procura a Europa,
deveria pensar muito mais que duas vezes antes de aludir às supostas “bizarrias”
de outros; o homem que assiste imóvel, logo cúmplice, a práticas de governos
europeus, como o húngaro e o croata, inspiradas na sinistra figura do seu
compatriota de antanho chamado Adolf Hitler, deveria ter a noção da gravidade
do que diz quando se arvora em conselheiro da democracia como quem dá uns
tabefes numa criança que fez uma diabrura.
Bizarro, bizarro mesmo é uma figura como Martin Schulz ser
presidente do Parlamento Europeu. Em boa verdade, muito mais bizarra que tudo
isso é a própria união Europeia.
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