Todos temos muito viva na memória a tragédia do atentado
contra o semanário satírico francês Charlie Hebdo, a emoção internacional que
provocou, os milhões que se declararam ser também Charlie Hebdo e também alguns
episódios bizarros, como o facto de os dirigentes mundiais, entre eles o
criminoso de guerra Benjamin Netanyahu, terem formado uma cabeça clandestina de
manifestação em torno de François Hollande numa rua parisiense fechada e
afastada do epicentro da manifestação de solidariedade com as vítimas (foto).
Também houve os que desconfiaram, desde o início, das
explicações oficiais do atentado, revelando até que o assassino detido, Amedi
Coulibaly, era seguido desde 2009 pelos serviços secretos franceses e
conseguiu, “malgré tout”, praticar o crime. Sobre os incrédulos recaiu
imediatamente a chancela da “teoria da conspiração”.
Pois esses incrédulos desde a primeira hora continuam à
espera de uma clarificação das ocorrências, e têm razões para manter as
reservas sobre as explicações oficiais, desconfianças agora acrescidas.
Desconfianças acrescidas porque o ministro francês do
Interior, Bernard Cazeneuve, uma das mais tenebrosas figuras da Administração
Hollande dita “socialista”, impôs o “segredo de Defesa” para que os juízes de
Lille não possam investigar as relações entre o atentado e o fornecedor das
armas com que foi praticado, um indivíduo de nome Claude Hermant, antigo membro
do “serviço de ordem” dos fascistas da Frente Nacional, nazi convicto e, acima
de tudo, um credenciado informador da Polícia Nacional francesa. Do mesmo modo
que os juízes de Paris, muito provavelmente por ordens do mesmo Cazeneuve, não
deram seguimento aos pedidos de informação da Europol, a polícia europeia,
sobre as ligações entre Coulabaly, o terrorista, e Hermant, o importador e
fornecedor das armas.
Segundo os juízes de Paris, as investigações sobre o
atentado contra o Charlie Hebdo e os negócios de tráfico de armas praticados
por Claude Hermant “são estanques”, e como tal deverão continuar. Assim foi
explicado aos juízes de Lille para que não apurem o evidente envolvimento do
informador da polícia Claude Hermant no atentado contra o Charlie Hebdo, em
nome do “segredo de Defesa” imposto pela Administração Hollande através de
Bernard Cazeneuve.
Os factos que vieram a público, no entanto, são mesmo
relevantes. A Polícia Nacional confirmou que Claude Hermant é, de facto e há
longo tempo, um informador da corporação. Hermant, por seu lado, é o
proprietário da Seth Outdoor, empresa de tráfico de armas e de treino de
banditismo sob a cobertura de actividades de paintball. As duas espingardas de
assalto Kalachnikov e as quatro pistolas semi-automáticas Tokarev usadas no
Charlie Hebdo, compradas pela Seth Outdoor a fornecedores eslovacos, foram por
esta empresa encaminhadas para Amedy Coulabaly e respectivos comparsas. Esta
prova foi considerada suficiente pelos juízes de Lille para investigarem as ligações
entre o informador da polícia e os terroristas, mas então funcionou o travão de
Cazeneuve através do “segredo de Defesa” e da “estanquicidade” virtual das duas
pistas.
O que tem a Administração Hollande a esconder através do
“segredo de Defesa”? Receará que as informações surgidas logo a seguir ao
atentado sobre o envolvimento dos serviços secretos franceses se tornem
evidentes?
Por este caminho jamais haverá uma explicação credível para
o que aconteceu no Charlie Hebdo em 7 de Janeiro de 2015. Jamais será
respeitada a memória das vítimas desta chacina terrorista. Todos quantos foram
e não foram Charlie Hebdo nessas horas de emoção e repulsa continuarão a ser
enganados pela propaganda oficial e pretextos avulsos, entre os quais o
“segredo de Defesa”. As provas reais serão chutadas para os subterrâneos das
teorias da conspiração; as mentiras governamentais tornar-se-ão verdades
oficiais. O terrorismo, como se percebe também neste episódio, tem muitas
caras.
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