O senhor Mariano Rajoy é o franquismo sem Franco, é um
herdeiro mal polido dos golpistas de 36, a mistura tenebrosa de Escrivá de
Balaguer com Milton Friedman, um fantasma errante do Vale de Los Caídos que
continua a assombrar os espanhóis, um rasto fedorento da Santa Inquisição.
É sabido que os fascismos ibéricos souberam prontamente
cobrir-se com os mantos do pluralismo político de maneira a recuperarem as
condições para restaurarem as essências dos velhos poderes em versões
modernizadas, imitações cada vez menos fiéis da democracia. Como se não tivesse
havido uma revolução em Portugal ou uma “transição” em Espanha. Não é difícil identificar
onde se acoitaram as mentalidades fascistoides em Portugal e em Espanha. Sendo que
neste país, por não ter havido um corte revolucionário, o Partido Popular nem
precisou de se travestir de “centrista” ou até de “social-democrata”;
bastou-lhe sinalizar que era de “direita democrática” para os franquistas nele
pousarem os olhos e se acomodarem.
Agora, como sinal dos tempos em que se torna cada vez menos
necessário invocar a democracia porque esta e a “liberdade do mercado” se
tornaram sinónimos, o senhor Rajoy e o seu PP nem se dão ao trabalho de
disfarçar a veia onde lhes corre o sangue do autoritarismo, assim activada
porque os sinais de que a vontade popular e o Partido Popular são como azeite e
água, não se misturam, são cada vez mais evidentes.
O senhor Mariano Rajoy, feito poder que pretende eternizar-se
a par de uma monarquia corrupta que é ilegítima há pelo menos 80 anos e, quiçá,
como o próprio Generalíssimo, aproveita o seu poder parlamentar para se armar
com leis que minam o poder democrático. A mais recente, entrada em vigor a 1 de
Julho, é a que inclui medidas para garantir a “segurança do Estado” – esse Estado
reduzido ao desempenho penoso das funções que os senhores privados e a igreja
não desejam, por não serem negócios lucrativos – e que, pelo seu conteúdo,
ficou popularmente conhecida como “lei da mordaça”.
“Mordaça” porque inibe os cidadãos de expressarem publicamente
as suas opiniões sobre os comportamentos das entidades policiais. Em boa
verdade é mais do que uma “lei da mordaça” – é um hino ao Estado policial. Uma
mulher que publicou no Facebook uma fotografia de uma viatura policial
estacionada abusivamente num lugar para deficientes foi multada em 800 euros;
um historiador teve problemas com as autoridades por ter declarado, no uso do
seu direito de crítica e de liberdade de expressão, que serviços policiais se
comportaram como “uma casta de desocupados”. Nos termos da nova lei é proibido
convocar manifestações através das redes sociais – foi assim que nasceu o
movimento Podemos – e fazer concentrações junto de lugares públicos, como o
Parlamento e as instalações de poder local. E ai de quem publicar fotografias
de agentes policiais em acção!
Apesar dos incentivos à eternização no governo que tem
recebido como recompensa pela submissão aos credores e aos gangs da especulação
financeira, mau grado a muralha de autoritarismo atrás da qual se tem
barricado, o senhor Rajoy, mestres e lacaios têm pela frente povos de um país a
quem ainda devem uma República, a quem continuam a pretender negar a plena
afirmação dos seus direitos nacionais, povos cansados de desemprego, de
arbitrariedade, de manipulação e dos medos cultivados para os acorrentar.
Pense-se nesta “lei da mordaça”, nas tentativas de restauração
de um Estado policial, comparem-se com a ira crescente dos povos de Espanha e não
será difícil deduzir que os sinais dados pelo governo neofranquista são mais de
desespero que de força.
Os povos de Espanha estão longe de se conformarem frente a
estes franquistas tão mal disfarçados que nem o bigode lhes falta.
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