Em Portugal, aquilo a que chamam campanha eleitoral
degenerou em fraude eleitoral enquanto a Comissão Nacional de Eleições faz
papel de morta para condizer com o estado da democracia.
Fraude eleitoral, sim, senhoras e senhores. Não apenas por
causa do magno “debate”, “O Debate”, como lhe chamam, uma gigantesca burla
mediática em que se associam os maiores impérios censórios da nação numa
desavergonhada operação de propaganda do chamado “arco da governação”. Chamar-lhe
“O Debate” é um insulto à inteligência dos portugueses, porque não passa de uma
luta encarniçada de galos pelo poleiro que o sistema lhes reservou por suposta
inerência, esgrimindo com promessas mentirosas e êxitos virtuais para que tudo
continue na mesma, a bem do “mercado” e das suas viciosas necessidades de
engorda.
Fraude eleitoral, sim, senhoras e senhores. Uma consequência
natural do estado de podridão a que chegaram os órgãos de soberania da nação,
entretidos com tricas entre castas que vivem do saque dos bens, dos medos e
angústias dos cidadãos, gigolos de um processo mediático-judiciário em que os
tempos e os espaços daquilo a que chamam justiça contaminam tudo o que deveria
ser a concentração da atenção nos reais problemas dos portugueses, em que os “sound
bites” vomitados pelos estrategos de marketing publicitário temporariamente
contratados pelas “máquinas partidárias” ditam aquilo que vai ser repetido até
à exaustão pelos criados ao serviço dos impérios da propaganda.
Isto não é uma campanha eleitoral, senhoras e senhores. Isto
é uma monstruosa lavagem ao cérebro com um requinte que nem Orwell imaginaria,
ele que previa a atribuição a porcos de actividades que, afinal, foram
entregues aos sacerdotes tecnocratas da modernidade, a cavalo nas mais
delirantes tecnologias – para acabarem prosaicamente a entrevistar entregadores
de pizas.
As leis eleitorais ditam que todas as entidades que
apresentam candidatos ao Parlamento, partidos ou coligações, devem ser objectos
de um tratamento igualitário, de modo a que os cidadãos tenham conhecimento de
todas as propostas para o futuro do país e possam decidir de acordo com as suas
consciências assim esclarecidas. Que se danem as leis! O que à partida ficou
estabelecido é que existem dois candidatos a sério, que a opção dos eleitores é
apenas entre “este” ou “aquele”, sendo que “este” e “aquele” matam o tempo
entre jogos de palavras para depois, como sempre, acabarem no colo um do outro
ora arrulhando ora arrufando consoante as conveniências, para que o rebanho
siga ordeiro a sua via-sacra triste, penosa, sem horizonte nem fim à vista. Os
outros candidatos existem, que remédio, para que se cumpra a democracia, mas
não vale a pena gastar cera com tão ruins defuntos
O aparelho de propaganda, que substitui com visíveis
vantagens e uma eficácia exponencial os lápis azuis dos velhos coronéis, alimenta
o festim rapinante entretendo os eleitores com o que fazem ou deveriam fazer “este”
e “aquele” até à hora do voto. Para isso existe “O Debate”, transmitido
directamente e em cadeia, como uma velha jornada futeboleira, pelas principais
estações de televisão. Os outros, os debates organizados para que se finja
cumprir a lei eleitoral, vão para os canais das segunda e terceira divisões
televisivas, a que nem todos têm acesso, trocando-se assim uma audiência de
milhões, tornada obrigatória e sem concorrência, por sessões facultativas ou
proibidas dedicadas a alguns milhares – e para quem é bacalhau basta, dirão os
enfatuados herdeiros dos coronéis.
Entretanto tempera-se tudo com estatísticas e sondagens vertidas à
medida “deste”, “daquele” ou dos dois, para que em vez da vida das pessoas se
discutam virtualidades numéricas que demonstram uma coisa e a sua contrária,
consoante a perspectiva de que são olhadas ou interpretadas pelos doutores da
propaganda.
A fraude eleitoral, em suma, é a maneira de dizer aos
eleitores que os problemas da vida que é a sua não são aqueles que eles sentem
na pele, na carne e no sangue, mas sim aquilo de que falam “este” e “aquele” e
lhes é mostrado por aquelas caixas falantes e coloridas que irremediavelmente os
hipnotizam.
A campanha eleitoral em Portugal não é alegre,
esclarecedora, sequer uma campanha. É uma burla oficial.
carlos.figueiredo38@gmail.com
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