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domingo, 6 de setembro de 2015

NA VIA DA FRAUDE ELEITORAL



Em Portugal, aquilo a que chamam campanha eleitoral degenerou em fraude eleitoral enquanto a Comissão Nacional de Eleições faz papel de morta para condizer com o estado da democracia.
Fraude eleitoral, sim, senhoras e senhores. Não apenas por causa do magno “debate”, “O Debate”, como lhe chamam, uma gigantesca burla mediática em que se associam os maiores impérios censórios da nação numa desavergonhada operação de propaganda do chamado “arco da governação”. Chamar-lhe “O Debate” é um insulto à inteligência dos portugueses, porque não passa de uma luta encarniçada de galos pelo poleiro que o sistema lhes reservou por suposta inerência, esgrimindo com promessas mentirosas e êxitos virtuais para que tudo continue na mesma, a bem do “mercado” e das suas viciosas necessidades de engorda.
Fraude eleitoral, sim, senhoras e senhores. Uma consequência natural do estado de podridão a que chegaram os órgãos de soberania da nação, entretidos com tricas entre castas que vivem do saque dos bens, dos medos e angústias dos cidadãos, gigolos de um processo mediático-judiciário em que os tempos e os espaços daquilo a que chamam justiça contaminam tudo o que deveria ser a concentração da atenção nos reais problemas dos portugueses, em que os “sound bites” vomitados pelos estrategos de marketing publicitário temporariamente contratados pelas “máquinas partidárias” ditam aquilo que vai ser repetido até à exaustão pelos criados ao serviço dos impérios da propaganda.
Isto não é uma campanha eleitoral, senhoras e senhores. Isto é uma monstruosa lavagem ao cérebro com um requinte que nem Orwell imaginaria, ele que previa a atribuição a porcos de actividades que, afinal, foram entregues aos sacerdotes tecnocratas da modernidade, a cavalo nas mais delirantes tecnologias – para acabarem prosaicamente a entrevistar entregadores de pizas.
As leis eleitorais ditam que todas as entidades que apresentam candidatos ao Parlamento, partidos ou coligações, devem ser objectos de um tratamento igualitário, de modo a que os cidadãos tenham conhecimento de todas as propostas para o futuro do país e possam decidir de acordo com as suas consciências assim esclarecidas. Que se danem as leis! O que à partida ficou estabelecido é que existem dois candidatos a sério, que a opção dos eleitores é apenas entre “este” ou “aquele”, sendo que “este” e “aquele” matam o tempo entre jogos de palavras para depois, como sempre, acabarem no colo um do outro ora arrulhando ora arrufando consoante as conveniências, para que o rebanho siga ordeiro a sua via-sacra triste, penosa, sem horizonte nem fim à vista. Os outros candidatos existem, que remédio, para que se cumpra a democracia, mas não vale a pena gastar cera com tão ruins defuntos
O aparelho de propaganda, que substitui com visíveis vantagens e uma eficácia exponencial os lápis azuis dos velhos coronéis, alimenta o festim rapinante entretendo os eleitores com o que fazem ou deveriam fazer “este” e “aquele” até à hora do voto. Para isso existe “O Debate”, transmitido directamente e em cadeia, como uma velha jornada futeboleira, pelas principais estações de televisão. Os outros, os debates organizados para que se finja cumprir a lei eleitoral, vão para os canais das segunda e terceira divisões televisivas, a que nem todos têm acesso, trocando-se assim uma audiência de milhões, tornada obrigatória e sem concorrência, por sessões facultativas ou proibidas dedicadas a alguns milhares – e para quem é bacalhau basta, dirão os enfatuados herdeiros dos coronéis.
Entretanto tempera-se tudo com estatísticas e sondagens vertidas à medida “deste”, “daquele” ou dos dois, para que em vez da vida das pessoas se discutam virtualidades numéricas que demonstram uma coisa e a sua contrária, consoante a perspectiva de que são olhadas ou interpretadas pelos doutores da propaganda.
A fraude eleitoral, em suma, é a maneira de dizer aos eleitores que os problemas da vida que é a sua não são aqueles que eles sentem na pele, na carne e no sangue, mas sim aquilo de que falam “este” e “aquele” e lhes é mostrado por aquelas caixas falantes e coloridas que irremediavelmente os hipnotizam.
A campanha eleitoral em Portugal não é alegre, esclarecedora, sequer uma campanha. É uma burla oficial.

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