Recebendo homenagens do senador McCain, dos amigos americanos
As
informações estão em poder da Interpol. Deitar-lhe a mão nestes tempos em que
as leis e as fronteiras não são problema para assaltos a vidas, soberanias e
privacidades, seria apenas uma questão de, digamos, “vontade política”, não é
assim que costuma invocar-se? O seu paradeiro não é certamente segredo para a
miríade de serviços secretos que apregoam defender “o nosso modo de vida”: é a
Líbia, depois de tão bem democratizada pela NATO, onde ele exerce altos cargos
políticos e operacionais no governo dominante, o mesmo que invoca para si
próprio “o islamismo puro”.
Nome:
Abdelhakim Belhadj. A história da sua vida dava um filme daqueles bem a gosto
de Holywood, tanto mais que o seu currículo – em poder da Interpol, repito –
corresponde às imagens dos rambos de séries A, B ou C cujos feitos heróicos coincidem
com as vontades objectivas dos Estados Unidos e de Israel, países onde os fins
e os agentes escolhidos para os executar justificam quaisquer meios e o recurso
a psicopatas sanguinários.
Sabe a
Interpol que Abdelhakim Belhadj é, no presente, o chefe do Estado Islâmico, ou
ISIS ou Daesh, no Magrebe e que, operacionalmente, criou e orienta campos de
treino de mercenários assassinos na Líbia, concretamente em Derna, Syrte e
Sebrata, além de um escritório do ISIS em Djerba, na Tunísia.
Antes disto,
Belhadj chefiou os terroristas do Grupo Islâmico Combatente na Líbia (GICL),
que em 2007 mudou de nome para Al-Qaida, mais sintonizado com os tempos. Por
quatro vezes, entre 1995 e 1998, tentou assassinar Khadaffi a mando do MI6, os
serviços secretos ao serviço do terrorismo de Estado britânico. Perseguido na
Líbia mudou-se para o Afeganistão, onde se instalou e agiu ao lado de Ussama
bin-Laden, o qual dispensa apresentações.
Como a
polícia espanhola suspeita de que foi um dos mandantes do atentado ferroviário
em Madrid Atocha, em Março de 2004, foi detido logo a seguir na Malásia. Como
se percebe, não terá sido difícil identificá-lo e prendê-lo, porque meia dúzia
de dias e milhares de quilómetros mediaram entre crime e captura. Passou então maus
bocados numa prisão secreta da CIA para onde foi transferido e onde ficou
alojado para experimentar as famosas técnicas de tortura – “condicionamento de
comportamento”, chamam-lhe nos Estados Unidos – do professor Seligman, métodos
de cujas provas a CIA tentou desesperadamente impedir a divulgação.
Abdelhakim
Belhadj restabeleceu-se depressa: para ele não se seguiram penas eternas no
campo de concentração de Guantanamo, também ele eterno se a este Obama se
sucederem outros obamas, coisa mais do que provável. É verdade que ainda foi
extraditado para a Líbia, através de um acordo entre os Estados Unidos e o
regime de Khadaffi, onde voltou a ser torturado, dessa feita às mãos do MI6 que
antes servira. Nestas coisas, a CIA e a sua irmã MI6 são muito ciosas, separam as
águas, cada uma quer fazer a sua tarefa ainda que repetindo-se.
Khadaffi
libertou-o em 2010, no quadro de uma “reconciliação nacional”, e mal teve tempo
para se arrepender. Abdelhakim Belhadj viajou para o Qatar e no ano seguinte
estava à frente de grupos de mercenários que, ao lado e protegidos pelos
bombardeamentos da NATO – França e Reino Unido, principalmente – derrubaram e
assassinaram Khadaffi. Como recompensa pelos serviços prestados, e por
recomendação na NATO, o Conselho de Transição nomeou-o governador militar de
Tripoli, a capital.
Belhadj não
aqueceu o lugar. Ainda teve tempo, porém, para exigir e obter desculpas dos
Estados Unidos e do Reino Unido pelas sevícias sofridas noutros tempos, e o que
lá ia lá foi. Outras tarefas estratégicas o aguardavam. Partiu em finais de
2011 para a Síria, onde foi um dos principais fundadores do Exército Livre da
Síria, os famosos “moderados” tão queridos da senhora Clinton, da NATO, da
União Europeia - com destaque para a França - e dos regimes fundamentalistas do
Golfo, Arábia Saudita à cabeça. O objectivo era derrubar Assad, mas Assad
resiste e já lá vão mais de 250 mil mortos, milhões de refugiados e um país
destroçado, massacre cujas responsabilidades nenhum intervencionista ilegal e
ilegítimo assume.
Sempre sem
perder tempo, Abdelhakim Belhadj regressou à Líbia natal, onde fundou um
partido governante, a maneira que encontrou, num cenário de caos, para instalar
os terroristas islâmicos no poder em Tripoli.
Na qualidade
de figura de proa na Líbia, provavelmente já na posição de chefe do Estado
Islâmico no Magrebe, que a Interpol reconhece, Abdelhakim Belhadj foi recebido
em 2 de Maio de 2014 no Ministério dos Negócios Estrangeiros em Paris, tutelado
por Laurent Fabius, ministro de Hollande e também um incondicional amigo de
Israel.
Laurent Fabius, exactamente: que é ainda o
ministro dos Negócios Estrangeiros de Hollande nestes dias em que continuam a
sangrar as feridas abertas pelo assalto às vidas dos parisienses, ao que dizem
cometido pela organização de que Abdelhakim Belhadj é um dos chefes máximos.
As informações
sobre este terrorista-modelo dos nossos dias e o seu currículo estão nas mãos
da Interpol. “Estamos em guerra”, proclama o presidente Hollande com os acenos
concordantes do chefe da sua diplomacia. Vamos então esperar pelo que se segue,
para ver o que acontece.
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