O sr.
Sherman está “preocupado”. Ele que abandonou o seu bem-sucedido escritório de
advogados em Boston, que descurou as reuniões do Conselho do Memorial do
Holocausto para fazer um tranquilo período de repouso sabático na Embaixada dos
Estados Unidos da América em Portugal, onde seria suposto nada ter que o
incomodasse, agora encontrou razões para se inquietar. É verdade que antes de
se instalar passou uns olhares despreocupados pelas aventuras do chefe da CIA,
Frank Carlucci, quando destacado como embaixador neste “jardim à beira mar
plantado”. Mas como, desde então, tudo entrou nos eixos e caducaram as intensas
mas fugazes razões que sobressaltaram o império, Portugal voltou a ser o redil
manso e obediente sempre que as simpáticas ovelhinhas ouvem ordens em inglês ou
qualquer coisa parecida.
Contudo, de
repente e quando nada o fazia prever, o sr. Sherman confessa-se preocupado, e
di-lo bem alto, em rádios e jornais com muito boas referências e preferências
na sua terra, para que tais inquietações cheguem ao homem do palácio de Belém
antes de tomar uma decisão sobre o próximo governo. Ele – o homem do palácio de
Belém – que teve a ousadia de receber uma torrente de sábios doutores,
engenheiros e economistas pensando as mesmas coisas e não encontrou hora para
acolher também o sr. Sherman.
O sr.
Sherman, porém, nem precisa de ir a Belém para se fazer ouvir. Está “preocupado”
porque o PS, entidade que até agora nunca dera motivos para preocupações a Sherman
e antecessores, foi capaz de fazer acordos de incidência governamental com “ferozes
inimigos da NATO”, coisa que é ainda pior que ser terroristas porque estes,
como ficou bem explicado nos Balcãs, na Líbia, e não deixa dúvidas na Síria,
são pragmáticos quanto baste para fazer serviços, por sinal bem sujos e
sangrentos, em aliança com os senhores da Aliança Atlântica. Uma mão lava a
outra.
O sr.
Sherman ressalva, não haja mal-entendidos, que “respeita as escolhas políticas
dos portugueses”, porque são assim os verdadeiros democratas como ele que,
sendo conselheiro do Museu do Holocausto é, ao mesmo tempo, cúmplice ideológico
de atrocidades cometidas em Gaza, da tortura e assassínio de garotos e
adolescentes que são moeda corrente nas prisões e hospitais de Israel.
O sr.
embaixador Sherman adverte de Sete Rios, em todas as direcções, que o
comportamento do PS “levanta a questão sobre se o compromisso de Portugal, como
membro fundador (da NATO), é firme como sempre foi”. Porque, como dizia seu
pai, “diz-me quem são os teus amigos dir-te-ei quem és” e os socialistas “fizeram
uma aliança amigável com dois partidos anti-NATO”.
Sabemos, como
atrás ficou escrito, que o sr. Sherman “respeita as escolhas políticas dos
portugueses”. Pelo menos, subentende-se, enquanto forem as escolhas que a NATO
pretende. E se por acaso, um dia, as “escolhas legítimas dos portugueses” não
agradarem à NATO o que acontecerá? O sr. Sherman chamará a NATO para devolver
as “escolhas” à devida ordem? Quem assim nos alerta com as suas “preocupações”
nosso amigo é?
O sr.
Sherman deve saber – ou deverá ter quem o informe – que apesar de Portugal ser
membro fundador da NATO os portugueses nunca foram consultados sobre isso, isto
é, nunca puderam escolher. Até porque quando Portugal participou na fundação da
NATO era governado por um tal Oliveira Salazar que se sucedeu a si mesmo,
mandato após mandato, sem que os portugueses alguma vez o tivessem escolhido,
tal como acontece com fazer ou não parte da NATO. A relação de Portugal com a
NATO, tal como a submissão dos portugueses a Salazar, nunca teve a ver com
democracia. Com essa situação, porém, não manifesta o sr. Sherman qualquer
incómodo.
Durante anos
a fio, durante as últimas décadas não se ouviu um pio da Embaixada dos Estados
Unidos em Lisboa. A Oeste nada de novo, para o império tudo corria sobre rodas.
De repente, eis que parece surgir uma ovelha tresmalhada e logo ficámos a
conhecer quem ocupa o lugar que há 40 anos foi de Carlucci, chefe da CIA. O
mastim do império não dorme, nunca dorme. Mas tal como o embaixador dos Estados
Unidos, também os portugueses sabem citar provérbios universais, por exemplo o
que diz que os cães ladram e a caravana passa. Assim queiram os portugueses
honrar as suas escolhas legítimas, incomodem ou não o sr. Sherman e seus amos.
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