CHEGOU A
HORA DE ESPIAR OS ESPIÕES
A Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos da América (NSA) e
suas congéneres do mundo global da espionagem, delação e provocação lançam este
mês novos mecanismos de caça às chamadas “ameaças internas”, isto é, um sistema
de espionagem dos espiões para evitar casos como o de Edward Snowden, muito
longe ainda de estar digerido.
Mais uma vez, e como era de esperar, a mensagem retirada pelos
espiões-mor da comunidade da devassa privilegia o ataque ao mensageiro e não às
verdadeiras razões do problema. Não passava pela cabeça dos patronos do sistema
mundial de bufaria que as ordens dadas aos seus funcionários para chafurdarem
em tudo o que seja a vida pessoal e profissional dos outros pudessem provocar
problemas de consciência do tipo dos que atingiram Snowden. De facto, eles mediam
os seus funcionários pelas suas bitolas de falta de princípios e, pelos vistos,
o tiro saiu-lhes pela culatra. Daí que tenham decidido arranjar um plano B:
espiar os espiões – com a vantagem acrescida de criar um novo e muito rentável
ramo de negócio.
O sistema que a NSA e as suas congéneres lançam este mês designa-se SCITE
– Scientific Advances to Continuous Insider Threat Evaluation, um processo que
pretende desencadear uma avaliação contínua das chamadas “ameaças internas”. Em
termos gerais, trata-se da monitorização contínua dos comportamentos dos
funcionários que operam as redes e terminais de computadores envolvidos na
devassa mundial denunciada por Edward Snowden. O SCITE não é mais, portanto, do
que uma nova rede de espionagem, agora para espiar os espiões, criada para uso
próprio da comunidade norte-americana de inteligência, uma vez que esta não
confia nos sistemas existentes no mercado. A NSA considera que os sistemas
disponíveis multiplicam “respostas positivas” sobre comportamentos suspeitos,
gerando uma grande quantidade de dados que é preciso filtrar, no fundo o
objectivo central do SCITE.
O aperfeiçoamento de softwares para caçar espiões está a revelar-se
altamente lucrativo, de tal modo que algumas empresas especializadas optaram
por esta vertente por ser muito mais prometedora que os tradicionais ramos dos
dados financeiros e dos seguros de saúde. Uma das empresas muito bem colocadas
na montagem do SCITE designa-se Securonix e tem como vedeta do seu gabinete de
consultores o super-espião John Chris Inglis, que foi até meados do ano passado
o número 2 da NSA e principal responsável das investigações do caso Snowden.
Todos estes movimentos e objectivos não deixem dúvidas sobre uma
realidade: por muito que os políticos e as instâncias de protecções de dados
proclamem e denunciem, a comunidade universal da espionagem mantém-se surda,
muda e indiferente, prosseguindo a sua sanha de devassa da vida de todos nós.
Para que se saiba e registe, não é apenas a alta finança que controla a
política. O sistema mundial de espionagem, em última análise velando para que o
mercado seja absolutamente senhor de todos nós, tem nas mãos todos os
cordelinhos da política.
A pergunta simples é: que podemos nós, simples cidadãos, fazer perante
este monstro?
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