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quinta-feira, 9 de abril de 2015


 
MOVEM-SE PEÇAS ESTRATÉGICAS NO MÉDIO ORIENTE

A Arábia Saudita prepara a invasão terrestre do Iémen e uma eventual anexação deste país; os Estados Unidos concluíram um acordo secreto com o Irão; em Israel, um pronunciamento militar palaciano revela que a tropa está a perder a paciência com Netanyahu. Movem-se peças estratégicas no Médio Oriente.

O acordo secreto estabelecido entre os Estados Unidos e o Irão, ao cabo de negociações iniciadas há dois anos em Omã e que agudizou a tensão entre Netanyahu e Obama a níveis nunca antes imaginados, confirma que o Irão há muito abandonou qualquer ideia de uso do nuclear para fins militares, o que está de acordo com o decreto religioso proclamado ainda por Khomeiny, em 1988, contra as armas de destruição massiva. Nos termos desse entendimento, que está por detrás das negociações 5+1 de Genebra, o Irão modera o tom em relação às instâncias internacionais, veda o acesso de sectores extremistas às áreas sensíveis do regime e conserva as influências adquiridas na Palestina, Líbano, Síria, Iraque e Bahrein desde que se comprometa a não expandir a revolução. Na prática, está em desenvolvimento uma partilha do Médio Oriente em zonas de influência directa do Irão e da Arábia Saudita, sob controlo do eixo Estados Unidos-Israel – isso desde que Netanyahu e a sua estratégia do Grande Israel do Nilo ao Eufrates sejam neutralizados.

A recente formação em Israel do grupo de pressão designado Commanders for Israel Security, juntando alguns dos mais sonantes nomes das forças armadas israelitas na reserva, confirma que a deriva sionista pelos antros da extrema-direita anexionista e expansionista causa preocupação nas forças armadas, onde se considera que a continuação desta política é susceptível de ameaçar a sobrevivência do próprio país. E quando o exército – corpo determinante do regime – pensa desta maneira Netanyahu não pode sentir-se tranquilo, daí algumas das suas recentes posições de força desafiando Obama e apostando tudo nos republicanos.

A Arábia Saudita, à cabeça da NATO regional alargada ao Sudão e a Marrocos, também conhecida como “coligação sunita”, prepara a invasão terrestre do Iémen depois dos bombardeamentos aéreos que vem realizando. A operação já tem nome, Decisive Storm (Tempestade Decisiva). A petroditadura saudita tem 100 mil homens prontos para a operação, a que se juntarão tropas egípcias, jordanas e paquistanesas, pelo menos. A ofensiva começará pela cidade setentrional de Saada e tem como objectivo liquidar o poder recentemente conquistado pelos huti xiitas, em coligação com os sunitas de índole urbana partidários do antigo presidente Al-Saleh. Riade quer evitar a secessão do país e por isso o objectivo principal é tomar o porto meridional de Adem, porta de escoamento de petróleo para as rotas do Índico e polo de referência da importante produção petrolífera do país. No quadro de partilha de zonas de influência, Washington não descarta a possibilidade de a Arábia Saudita anexar o Iémen.

O plano geral existe na cabeça dos estrategos da Administração Obama, ansiosos por criarem condições propícias à transferência de tropas do Médio para o Extremo Oriente, no quadro da estratégia de “Polo Asiático” tão querida da Casa Branca. No meio destas cogitações percebem-se, porém, muitas pontas soltas. Uma delas é o monstro do Estado Islâmico, que terá de ser “domesticado” pelo financiador, a Arábia Saudita; outra é a luta de poderes em Israel, cujos resultados não podem ser desligados da iminência de eleições presidenciais norte-americanas. Outra ponta solta, não menos relevante, é o facto de esta estratégia de partilha de influências entre o Irão e a Arábia Saudita ser engendrada à custa da Rússia. Moscovo, porém, tem muitos trunfos na manga e não irá facilitar os arranjos.

 

 

 

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