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sexta-feira, 10 de abril de 2015



UM BOM EXEMPLO GREGO A SEGUIR

O Parlamento grego parece ter finalmente uma maioria com a coragem suficiente para encarar de frente duas situações históricas brutalmente lesivas do país, de maneira a encontrar as recompensas que são devidas a todos os gregos.

Ao contrário do revisionismo histórico que grassa pelo leste da Europa e através dos republicanos dos Estados Unidos da América, empenhados em restaurar as versões nazis dos acontecimentos das décadas de trinta e quarenta do século passado, a Grécia, através do seu Parlamento, procura pura e simplesmente recuperar aquilo que crê ser-lhe devido.

A estratégia adoptada parte da criação de duas comissões parlamentares extraordinárias: uma para obter da Alemanha o pagamento das indemnizações de guerra que são devidas à Grécia pelos prejuízos e os saques do tesouro cometidos durante a ocupação nazi de 1941-1944; e outra, sem dúvida com bastantes afinidades, que procura fazer luz sobre o processo que conduziu ao amontoar da dívida grega nas últimas décadas e culminou na colonização do país pela troika, imposta nos últimos seis anos. Consideram o Parlamento e o Governo grego que o êxito destas duas diligências libertarão o povo do país das amarras que lhe foram impostas mais recentemente através do suplício da austeridade, também sofrido por outros povos da União Europeia.

Os cálculos do Parlamento grego sobre as dívidas nazis a Atenas revelam que estas verbas chegariam para liquidar todos os compromissos financeiros da Grécia com a União Europeia e ainda sobraria dinheiro. Conhecendo a barbárie nazi e a devastação que as tropas alemãs praticaram nos bens públicos, privados e individuais dos gregos, a que devem somar-se “empréstimos” sem juros saídos do tesouro de Atenas para os cofres de Hitler, não será difícil acreditar nas razões invocadas pela comissão parlamentar e pelo governo de Tsipras.

O que diz a isto a parte alemã? Que tudo não passa de um comportamento “estúpido” da Grécia, nas palavras do ministro da Economia, Sigmar Gabriel, por sinal o chefe social-democrata (para os que ainda têm dúvidas…). Chama-se a isto alta política, discutir ideias e argumentos? Ou não passa de arrogância pura, a versão moderna, neoliberal e economicista do tique militarista que guiou o imperialismo de Hitler há três quartos de século?

Em boa verdade, as duas frentes de acção do Parlamento grego fundem-se numa só, porque é impossível separar a mentalidade expansionista alemã que levou ao desmantelamento da Grécia pela guerra da arrogante, fria, metódica e implacável destruição do mesmo país através da austeridade. O objectivo é único: sugar países e povos em proveito próprio, não do próprio povo, como se sabe, mas de interesses sem pátria que se acoitam cobardemente na invocação dos direitos humanos para os violar sem qualquer pudor.

É do interesse dos povos de todo o mundo que as comissões parlamentares gregas tenham êxito nas suas tarefas, porque não é apenas do expansionismo alemão que se trata; é o imperialismo financeiro global (com o seu braço armado, a NATO) que está em causa. Esse imperialismo que se acha no direito de acoimar de “estúpidos” os que invocam direitos.

Mesmo sem esperar pelos resultados das diligências gregas, o tiro de partida está dado. Em Portugal, por exemplo, seria da máxima importância que o próximo Parlamento tivesse também a coragem de criar uma comissão para inventariar tim-tim-por-tim-tim todo o processo da dívida, dos PEC’s, da troika, da austeridade, em suma. É uma questão de dignidade.

 

 

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