pub

terça-feira, 14 de abril de 2015


 
 
UMA CHACINA “HUMANITÁRIA” DE 5 MILHÕES

Cálculos elaborados com base em modelos científicos aceites pela ONU, governos e organizações não-governamentais permitem apurar que o número de mortos provocados pela chamada guerra contra o terrorismo é, no mínimo, de cinco milhões, entre eles seguramente mais de um milhão de crianças.

Não estamos a falar dos resultados de uma desparasitação de baratas, melgas ou percevejos, de uma desratização, sequer de uma epidemia provocada por um vírus ou bactéria desconhecidos. Trata-se de seres humanos, isto é, de uma chacina praticada em seres humanos e em nome dos mais altos valores humanos.

Os cálculos dizem respeito apenas aos resultados das invasões do Iraque e do Afeganistão, acrescidos das extensões ou “danos colaterais” no Paquistão.

A organização Physicians for Social Responsability (PSR), que integra personalidades destacadas do campo da saúde pública, entre os quais laureados com o Nobel da Paz, apurou que os conflitos do Iraque e do Afeganistão provocaram, desde 2001, pelo menos 1,3 milhões de mortos - um milhão no Iraque, 220 mil no Afeganistão e 80 mil no Paquistão – números “que podem chegar aos dois milhões”. Antes que algumas boas consciências se inquietem, registe-se que a PSR não nasceu algures no tempo da União Soviética, nem resulta de uma maquinação do terrível Putin. Tem sede nos Estados Unidos da América e algumas das suas figuras mais destacadas integram o Centro Médico da Universidade da Califórnia, em S. Francisco.

A Physicians for Social Responsability reconhece que os dados que possui em relação ao Afeganistão estão ainda muito longe da realidade. No entanto, o professor australiano Gydeon Polya considera, a partir dos elementos sobre mortalidade da Divisão de População da ONU, que o número de mortes evitáveis no Afeganistão desde 2001, ano em que se iniciou a invasão da NATO, é da ordem dos 3 milhões, incluindo 900 mil crianças.

No Iraque, porém, a guerra não se iniciou em 2003 com George Bush filho. A primeira operação militar contra o país começou em 1990, a mando de George Bush pai, e provocou pelo menos 200 mil mortos directos, na sua maioria civis. É este o número apurado por Beth Daponte, demógrafa do Gabinete de Recenseamento do governo dos Estados Unidos. Os dados devem ser fiáveis, uma vez que o estudo foi censurado pelas autoridades norte-americanas.

Como se sabe, a matança não ficou por aqui. À guerra sucederam o embargo e as sanções atingindo a importação de produtos de primeira necessidade. E por causa de quê? Das terríveis armas de extermínio massivo em poder de Saddam Hussein, que nunca apareceram e suscitaram a segunda invasão. Números divulgados pela ONU, e nunca postos em causa, avaliam em 1,7 milhões as vidas ceifadas pelo embargo, entre as quais as de um elevadíssimo número de crianças, vítimas da falta de medicamentos.

Ora a guerra contra o terrorismo não se cinge a estes países. Há os casos dramáticos da Líbia, da Síria, do Mali, da República Centro Africana, da Ucrânia, da Palestina, do Iémen, do Egipto. Sem contar as atrocidades cometidas pelo Estado Islâmico e pela Al Qaida, entidades cujos patronos são bem conhecidos… Caso haja dúvidas consulte-se o general Wesley Clark.

Cinco milhões? Certamente mais, muito mais. Há quem lhe chame, note-se, “guerra humanitária”. Erradicou-se o terrorismo? Não, o fenómeno continua em crescimento. Instaurou-se a democracia nos países invadidos? Não. Reina a paz nessas nações? Não; pelo contrário, a guerra eterniza-se e vivem o caos da desagregação.

Quanto aos responsáveis, além de continuarem impunes são quem manda no mundo. Em nome da liberdade, da democracia e dos direitos humanos.

Sem comentários:

Enviar um comentário