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quinta-feira, 23 de abril de 2015


 
UMA VERGONHA PARA O MUNDO INTEIRO

A ocupação, colonização e saque do Sahara Ocidental por Marrocos é uma vergonha para aquilo a que convencionou chamar-se a comunidade internacional; uma vergonha ao nível do que se passa na Palestina. O Sahara Ocidental não é apenas a última colónia em África – embora saibamos que o colonialismo assumiu outras formas tanto ou mais rapinantes; é um mostruário de comportamentos que violam as leis internacionais e uma demonstração cruel da incapacidade da ONU para resolver os problemas mundiais, telecomandada pelos descomunais interesses privados que usam em seu proveito os poderes políticos e militares das grandes potências.

Na próxima terça-feira, dia 28, o Conselho de Segurança da ONU vai votar mais uma vez a renovação do mandato da missão para o Sahara Ocidental (Minurso) e, por incrível que pareça, a questão mais relevante é decidir se este corpo terá ou não poderes para se ocupar das violações dos direitos humanos nos territórios sob ocupação marroquina. Um princípio básico como o respeito dos direitos humanos, essencial nas cartas da ONU e que enche os discursos de todos os mandatários mundiais até aos limites da verborreia mais enjoativa – porque perversa e hipócrita – é, afinal, um objecto de vergonhosa barganha diplomática. Comportamento que ilustra como as autoridades mundiais põem e dispõem das vidas de dezenas de milhares de pessoas, colocando-as em competição com os interesses e influências de uma monarquia corrupta e delinquente, conivente até com o fundamentalismo terrorista, embora procure disfarçá-lo.

Nos últimos dias o rei Mohammed VI não tem parado numa frenética viagem por África, prometendo dinheiro e investimentos em países, incluindo aliados habituais, como a Guiné Conacry e a Guiné Equatorial, para influenciarem a União Africana de modo neutralizar a posição desta organização, favorável à introdução dos direitos humanos no mandato da Minurso. Alvo privilegiado do rei é o Chade, devido à posição de membro não permanente do Conselho de Segurança. O objectivo de Rabat é alterar a seu favor a posição da Comissão de Paz e Segurança da União Africana e do seu enviado à ONU, o ex-presidente moçambicano Joaquim Chissano, de modo a que virem a cara às atrocidades e à rapina que Marrocos comete nos territórios ocupados. Em linguagem modernaça, a isto chama-se lobbying ou lobismo; em termos crus trata-se de chantagem e aliciamento, praticados ao som da mensagem de marketing “Marrocos porta de entrada em África”.

Em quatro décadas a ONU tem-se revelado incompetente para resolver a questão do Sahara Ocidental e de organizar um referendo para que o povo dos territórios decida sobre o seu futuro, incluindo a independência. Este tempo tem sido aproveitado por Marrocos para colonizar e alterar demograficamente os territórios, à maneira israelita, enquanto caminha de manobra dilatória em manobra dilatória para evitar um recenseamento sério e objectivo. A dita comunidade internacional permite que tudo isto se passe sob os seus olhos, e age a um nível tão básico como o de ainda ter dúvidas sobre se os enviados da ONU podem ou não dar testemunho de violações dos direitos humanos, corriqueiras e muitas vezes mortais no trágico quotidiano do martirizado povo saharaui. Enquanto isto, a mui nobre e democrática União Europeia tem acordos preferenciais com o reino ocupante de Marrocos, os barcos dos seus Estados membros roubam as riquezas pesqueiras que deveriam ser negociadas com os saharauis. Enquanto isto, grandes empresas de todo o mundo multiplicam acordos com o governo de Marrocos para espoliar os bens do povo dos territórios. Quando e se algum dia a ONU se ocupar a sério da resolução do problema do Sahara Ocidental, provavelmente o povo deste território já pouco terá de seu. Chama-se a isto política de facto consumado, a prova de que na arena internacional o crime compensa.

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