UMA
VERGONHA PARA O MUNDO INTEIRO
A ocupação, colonização e
saque do Sahara Ocidental por Marrocos é uma vergonha para aquilo a que
convencionou chamar-se a comunidade internacional; uma vergonha ao nível do que
se passa na Palestina. O Sahara Ocidental não é apenas a última colónia em
África – embora saibamos que o colonialismo assumiu outras formas tanto ou mais
rapinantes; é um mostruário de comportamentos que violam as leis internacionais
e uma demonstração cruel da incapacidade da ONU para resolver os problemas
mundiais, telecomandada pelos descomunais interesses privados que usam em seu
proveito os poderes políticos e militares das grandes potências.
Na próxima terça-feira,
dia 28, o Conselho de Segurança da ONU vai votar mais uma vez a renovação do
mandato da missão para o Sahara Ocidental (Minurso) e, por incrível que pareça,
a questão mais relevante é decidir se este corpo terá ou não poderes para se
ocupar das violações dos direitos humanos nos territórios sob ocupação
marroquina. Um princípio básico como o respeito dos direitos humanos, essencial
nas cartas da ONU e que enche os discursos de todos os mandatários mundiais até
aos limites da verborreia mais enjoativa – porque perversa e hipócrita – é,
afinal, um objecto de vergonhosa barganha diplomática. Comportamento que
ilustra como as autoridades mundiais põem e dispõem das vidas de dezenas de
milhares de pessoas, colocando-as em competição com os interesses e influências
de uma monarquia corrupta e delinquente, conivente até com o fundamentalismo
terrorista, embora procure disfarçá-lo.
Nos últimos dias o rei
Mohammed VI não tem parado numa frenética viagem por África, prometendo dinheiro
e investimentos em países, incluindo aliados habituais, como a Guiné Conacry e
a Guiné Equatorial, para influenciarem a União Africana de modo neutralizar a
posição desta organização, favorável à introdução dos direitos humanos no
mandato da Minurso. Alvo privilegiado do rei é o Chade, devido à posição de
membro não permanente do Conselho de Segurança. O objectivo de Rabat é alterar
a seu favor a posição da Comissão de Paz e Segurança da União Africana e do seu
enviado à ONU, o ex-presidente moçambicano Joaquim Chissano, de modo a que
virem a cara às atrocidades e à rapina que Marrocos comete nos territórios
ocupados. Em linguagem modernaça, a isto chama-se lobbying ou lobismo; em termos
crus trata-se de chantagem e aliciamento, praticados ao som da mensagem de
marketing “Marrocos porta de entrada em África”.
Em quatro décadas a ONU
tem-se revelado incompetente para resolver a questão do Sahara Ocidental e de
organizar um referendo para que o povo dos territórios decida sobre o seu
futuro, incluindo a independência. Este tempo tem sido aproveitado por Marrocos
para colonizar e alterar demograficamente os territórios, à maneira israelita,
enquanto caminha de manobra dilatória em manobra dilatória para evitar um
recenseamento sério e objectivo. A dita comunidade internacional permite que
tudo isto se passe sob os seus olhos, e age a um nível tão básico como o de
ainda ter dúvidas sobre se os enviados da ONU podem ou não dar testemunho de
violações dos direitos humanos, corriqueiras e muitas vezes mortais no trágico
quotidiano do martirizado povo saharaui. Enquanto isto, a mui nobre e democrática
União Europeia tem acordos preferenciais com o reino ocupante de Marrocos, os
barcos dos seus Estados membros roubam as riquezas pesqueiras que deveriam ser
negociadas com os saharauis. Enquanto isto, grandes empresas de todo o mundo
multiplicam acordos com o governo de Marrocos para espoliar os bens do povo dos
territórios. Quando e se algum dia a ONU se ocupar a sério da resolução do
problema do Sahara Ocidental, provavelmente o povo deste território já pouco
terá de seu. Chama-se a isto política de facto consumado, a prova de que na
arena internacional o crime compensa.
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