Portugal continua
a esbracejar numa esterqueira. A choldra estrangeirada e submissa, que despreza
as pessoas e se considera proprietária do poder, está viva e actuante
cozinhando novo golpe para travar as ameaças latentes ao seu autoritarismo.
Olhe-se o
chefe do Estado, um agente dos mercados financeiros internacionais usurpando um
cargo de soberania republicana e popular, apadrinhando o quebra-cabeças de
recadinhos e ameaças entre Bruxelas e Lisboa para que o regime de austeridade,
sistema único adoptado pelo terrorismo neoliberal, se mantenha como se nada
tivesse acontecido, isto é, pretendendo reduzir os resultados eleitorais a pó.
Um chefe do
Estado que mexe cordelinhos estratégicos da Nação há mais de 30 anos, como padrinho
de uma facção política herdeira da mentalidade salazarenta e que pôs o que
restava do 25 de Abril sob os rolos compressores dos mercados manobradores
daquilo a que chamam União Europeia, desmantelando a economia entregando-a a
banqueiros gananciosos e corruptos, a interesses tutelados pelos casinos da
finança internacional e a sistemas monopolistas privados disfarçados de
empresários “de sucesso”. Pois a 130 dias apenas de terminar o mandato, o chefe
do Estado não hesitou em dar posse a um governo austeritário que, em princípio,
não poderá governar porque, de acordo com as mais elementares regras
democráticas, não tem maioria parlamentar para o fazer. Manobra essa que, segundo
a realidade disponível aos olhos dos portugueses, apenas servirá para
prejudicar ainda mais a economia portuguesa, protelando por não sei quanto
tempo mais a entrada em funções de um governo com legitimidade para governar.
Ou seja, o senhor professor economista que usurpa a Presidência da República
não hesita, deste modo, em continuar a atolar a economia de Portugal e os
portugueses, o que sempre fez enquanto pregava exactamente o contrário.
A não ser
que…
A não ser
que o senhor saiba coisas que à populaça não comunica, as quais lhe prometem
vida longa a um governo que, nos termos das mais elementares normas
democráticas, é um nado-morto.
Aqui
chegados resta-nos especular, coisa sempre um pouco traiçoeira mas que adquire
legitimidade como processo de advertência e autodefesa perante um provável
golpe em marcha.
Lembremos
que o chefe do Estado, numa das suas várias intervenções pós-eleitorais,
indigitou o chefe da coligação mais votada – e não do partido mais votado – para
formar um governo ao qual faltam nove lugares parlamentares para ter
legitimidade governante. Nas linhas e entrelinhas das declarações proferidas
sobre a decisão, e entre apelos aos mercados para que aterrorizem os
portugueses, o chefe do Estado lançou convites abusivos e intriguistas aos
deputados do partido mais votado para que se revoltem contra as iniciativas do
secretário-geral e da direcção do partido no sentido de formarem um governo
anti-austeridade com maioria parlamentar e, além disso, esmagadora sustentação
popular. Isto é, temendo ser incapaz de reconstruir o famigerado “bloco central”,
versão light de partido único, o agente dos mercados em comissão de serviço na
Presidência da República Portuguesa arvorou-se em manipulador do cenário político
e alcoviteiro de querelas partidárias.
Talvez o
senhor, porém, estivesse não apenas armado de intenções cisionistas, mas também
na posse de dados até agora dispersos no pântano infecto em que o poder
lusitano esbraceja.
É que no dia
em que o governo nado-morto tomou posse e foi anunciada a irreversibilidade do
processo de acordo de incidência governativa entre o PS, o Bloco de Esquerda e
o PCP, do lado do PS consta que um tal Francisco Assis está disposto a
servir-se do “direito de tendência” – como sempre uma tendência para a direita –
para se opor ao entendimento entre o seu partido e partidos à esquerda.
Pergunta-se: será que o “direito de tendência” de Assis irá tão longe como arrebanhar
deputados do PS aritmeticamente necessários para viabilizar o governo
nado-morto, gémeo do que arrasou Portugal e avassalou os portugueses com a
miséria e a emigração para cumprir as ordens dos credores? Será que entre o
chefe do Estado, os serviçais de agiotas Passos e Portas e o citado Assis terá
havido um acordo secreto austeritário para que a choldra governante possa
continuar a burlar a democracia e a torturar os portugueses? Sem o
colaboracionismo de Assis ou outro que tal, o governo empossado não se
aguentará com uma moção de rejeição, quanto mais com três.
Vamos crer
que a democracia continue a despertar em Portugal e que um governo ilegítimo nascido
morto jaz morto e arrefece. E, contudo, Assis mexe-se; ou seja, há uma
conspiração em marcha para ressuscitar o cadáver.
Sem comentários:
Enviar um comentário