NATO e Hungria vão tratar dos refugiados
A polícia de choque global, também conhecida por NATO, está
numa fase das mais trauliteiras da sua história, superando os próprios e mais
sinistros recordes, além de alargar o raio de acção em presença, eficácia,
mobilidade e número de efectivos. Dos jogos de guerra no flanco sul, em áreas de
intervenção às vezes também conhecidas pelas designações de Portugal, Espanha e
Itália, agora considerados ainda mais importantes devido à “crise dos
refugiados”, à proliferação de quartéis-generais em redor das fronteiras
russas, ao reforço dos contingentes operacionais na Turquia ditado pelas
operações russas contra os mais activos grupos terroristas, à multiplicação por
três dos meios da “força de resposta” – A NATO nunca ataca, limita-se a
responder – os gendarmes atlantistas não descansam na missão suprema, dir-se-ia
divina, de preservar a democracia formatada pela ditadura financeira.
Numa comunicação feita há poucas horas, o social-democrata
norueguês Jens Stoltenberg, destacado em funções de secretário-geral da aliança
expansionista, anunciou que os efectivos da “força de resposta” vão ser
aumentados para 40 mil apenas um ano depois de, em Gales, os expoentes
doutrinários os terem fixado em 13 mil. O que mudou em menos de 365 dias
exigindo esta ampliação exponencial? Stoltenberg respondeu por metade: o
aparecimento da “crise dos refugiados”, decorrente das convulsões a sul “do nosso
flanco sul”. Quanto à outra metade, o secretário-geral foi omisso, mas nem
precisou de ser explícito. A Rússia é a Rússia e agora não lhe bastava ter a querida
“democratização” da Ucrânia debaixo de olho como se atreveu a ir combater o
terrorismo no Médio Oriente, esse mesmo terrorismo que a NATO enfrenta
heroicamente – e com tanta eficácia que os resultados da “primavera árabe” são
os que estão à vista de todos.
No quadro da nova situação provocada pela “crise dos
refugiados”, uma tragédia humanitária que para os governos dos membros da NATO
é assunto a tratar manu militari, a
aliança decidiu criar mais dois quartéis-generais em países para lá da antiga “cortina
de ferro”. Tratando-se de refugiados, a NATO não poderia ter escolhido melhor a
localização das duas novas estruturas operacionais: a Hungria e a Eslováquia,
onde dois governos fascistas tratam como terroristas os que fogem da guerra em
luta pela sobrevivência. A intimidade da NATO com o fascismo não é de fresca
data, não se evidencia apenas na Ucrânia, na Hungria, em Estados do Báltico.
Ela foi inscrita no seu código genético ao ter como fundador – logo como grande
defensor da democracia – o Portugal salazarento. Por isso, quando um nazi como
Anton Gerashenko, conselheiro do ministério do Interior de Kiev, apela ao
Estado Islâmico para combater os russos seja no Cáucaso seja no Médio Oriente,
em nome da democracia e da sharia
(vertente política da ortodoxia islâmica), mais não faz do que respeitar o
espírito de missão dos tutores atlantistas. O mesmo Gerashenko que, poucos
segundos depois da queda sobre a Ucrânia do avião que fazia o voo MH17,
anunciou que fora derrubado por um míssil russo. Uma sentença que ficou como
versão oficial, em que ninguém acredita mas prevalece, quanto mais não seja
porque é a da NATO e o que a NATO diz não se discute.
Para os que não estar a par do afã expansionista – e defensivo,
claro – da NATO lembro que os quartéis-generais na Eslováquia e na Hungria vêm
juntar-se aos que já funcionam na Bulgária, na Estónia, na Letónia, na
Lituânia, na Polónia e na Roménia, sem contar com o servilismo do governo de
Kiev, o qual integra a aliança sem lhe pertencer. O cerco à Rússia é evidente,
comprovando-se assim que a NATO é uma instituição de cariz absolutamente defensivo
através do respeito estrito por aquela máxima que não é apenas futebolística: a
melhor defesa é o ataque.
Por isso, uma nota também sobre os exemplos mais recentes
das acções defensivas da NATO e respectivas consequências. Foi em actos de
defesa pura que a NATO atacou o Afeganistão, o Iraque, a Líbia e que
desencadeou a guerra civil na Síria, tal como esfrangalhara a Jugoslávia. Então,
quando o secretário-geral Stoltenberg se queixa da “crise dos refugiados” como
resultante das “convulsões” no sul do “nosso flanco sul”, saibam todos que a
NATO nada tem a ver com isso, apenas alarga a sua presença e reforça a sua
eficácia para se defender do maldito e insidioso terrorismo, o qual a NATO
nunca treinou e financiou, nem nunca foi, como agora também não é, seu aliado
na Líbia, no Iraque, no Afeganistão, na Síria, na Bósnia-Herzegovina, no Kosovo…
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