O início das operações militares antiterroristas das forças
da Organização do Tratado de Segurança Colectiva (OTSC), de que a Rússia é a
mais importante potência, em território da Síria representa, sem dúvida, um
movimento novo e de grande importância no combate às organizações mercenárias
que se reclamam do islamismo.
Em termos meramente teóricos poderia escrever-se que só
agora começou a verdadeira guerra contra o terrorismo na Síria, e provavelmente
também no Iraque; o que tem acontecido até ao momento, pelas mãos dos Estados
Unidos e dos principais membros da União Europeia, não passa de um simulacro de
combate, à mistura com a proliferação de guerras e alianças com terroristas,
culminando na destruição de nações e na hecatombe dos refugiados.
Porém, a resposta de Washington, Paris e Londres aos
primeiros bombardeamentos russos contra campos terroristas na Síria revela intrigante
inquietação com a situação dos bandos de mercenários. Em vez de saudarem a
iniciativa de Moscovo, os porta-vozes norte-americano, britânico e francês que
se pronunciaram até agora lamentam que, afinal, ao contrário do que
alegadamente dissera o Sr. Putin, os bombardeiros russos não atingem apenas o
Estado Islâmico. Pois não: infligiram pesados danos a outros grupos e grupinhos
terroristas que partilham o mesmo terreno, designadamente a Frente Al-Nusra e o
Exército Livre Sírio. Al-Nusra é a designação da Al-Qaida na Síria; o Exército
Livre Sírio é o menino bonito das potências ocidentais, os chamados “moderados”
que, conforme reconhecem dirigentes norte-americanos e da União Europeia, têm funcionado
como entreposto no tráfico de armas fornecidas pelo Ocidente ao Estado
Islâmico.
De modo que se coloca neste momento uma grande interrogação:
de que lado estão os Estados Unidos, a França e o Reino Unido, e a Alemanha
também? A favor ou contra grupos como a Al Qaida e Estado Islâmico? Por detrás
dos primeiros pronunciamentos dos dirigentes ocidentais depois dos ataques
russos, o que espreita é uma real inquietação com o novo quadro: a de que, a
partir de agora, não mais será possível fazer confusão entre quem está a favor
ou contra o terrorismo. Por exemplo, fica decretado o fim da falácia alimentada
por Washington – e pela NATO, como é óbvio - de que as iniciativas atlantistas
na região visam combater ao mesmo tempo o regime sírio e os bandos terroristas.
A única vítima, claro, tem sido Damasco.
A confissão deste incómodo está no facto de as potências
ocidentais acusarem a Rússia de fazer os bombardeamentos na Síria para defender
“a ditadura de Bachar Assad”. Mais uma falsidade: a Rússia não está a defender
Assad mas a proteger-se a si mesma. Há muito que o Estado Islâmico e outras
Al-Qaidas se estão a organizar para, em aliança com o Qatar, a Turquia e
centrais nazis europeias, desestabilizar e minar a Rússia, sobretudo a partir
da Ucrânia. Foi na Ucrânia, em Ternopol, que nasceu em 2007 a “Frente-Anti-imperialista”
contra a Rússia, mistura de grupos nazis e terroristas islâmicos cujos
dirigentes são recebidos com grandes honras pelo presidente Erdogan na Turquia.
Como resultado desse patrocínio da Turquia fundamentalista (membro da NATO,
como se sabe), está a instalar-se em Kherson, também na Ucrânia, a Brigada
Muçulmana Internacional, cujo objectivo é a desestabilização da Rússia a pretexto
da Crimeia e apoiando o terrorismo islamita no Cáucaso, especialmente na
Chechénia. Não é segredo que militares norte-americanos e a NATO apoiam e
treinam em território ucraniano todas as organizações que proclamem a intenção
de combater a Rússia.
A Rússia não está na Síria, e prestes a intervir também no
Iraque, para defender os governos destes países mas para combater o terrorismo,
com autorização dos seus governos e sob cobertura das decisões aprovadas na ONU
contra o terrorismo – legalidade que nem sempre tem preocupado os que agora
preocupados estão com a iniciativa russa.
Uma coisa parece certa: se as forças da OTCS (Rússia,
Bielorrússia, Arménia, Casaquistão, Tajiquistão e Quirguistão) e os poderes
militares dos principais países da NATO se juntarem contra o terrorismo, o
Estado Islâmico, as Al-Qaidas e afins não terão vida fácil, provavelmente não
conseguirão transferir-se para outros lados, talvez percebam finalmente que,
sem os habituais tutores entre “os infiéis”, nem sobreviverão.
Parece ter chegado a hora da verdade na tão falada “guerra
contra o terrorismo”. É o momento de o Sr. Obama se definir: ou luta de facto
contra o terrorismo ou continua a ser seu cúmplice, no mínimo através de uma
guerra que tem sido de faz-de-conta. Talvez a chegada deste momento da verdade
seja aquilo que o Sr. Obama não consegue perdoar ao Sr. Putin. As coisas
estavam a correr tão bem…
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