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terça-feira, 15 de setembro de 2015

O ARCO DOS TRAPACEIROS


 
A última tendência de campanha dos partidos do arco da governação, certamente ditada pelos fumegantes brain storms produzidos por reputados técnicos de marketing alugados temporariamente para o efeito, é a de evitar fazer promessas aos eleitores. Para tal estratégia não seria preciso recorrer a renomados profissionais da manipulação publicitária, qualquer um percebe que os eleitores estão fartinhos de promessas, sabendo que invariavelmente vão desembocar no território da mentira.
Pois agora não há promessas, e até se promete não fazer promessas como suprassumo da transparência e da franqueza perante os donos do voto. A moda agora é números, os meus números para lá, os teus números para cá, os meus números são melhores e mais fiáveis que os teus, nada disso, os melhores e mais realistas são os meus. Números esses, os meus e os teus, produzidos todos pelos mesmos tecnocratas autores dos programas económicos do arco, devendo apenas discutir-se se os meus são mais amigos do mercado que os teus ou vice-versa, sendo certo que são todos muito neoliberais, nem de outra maneira poderia ser porque depois como se iriam explicar os resultados aos draghis, merkels, djesselboems, hollandes, camerons e obamas desta vida.
Enquanto se esgrimem números, os candidatos-governantes e governantes-candidatos do arco falam em pessoas. Tem de ser: são pessoas que votam, por uma vez de quatro em quatro anos também existem pessoas além dos centros de batota financeira e das máquinas de transformar ossos e sangue humanos em lucros. Para isso todos eles têm soluções, combinam números com pessoas, conseguem rimar famílias com boas intensões no versejar monocórdico e sem alma gritado em feiras e comícios de arregimentados – nisto (e noutras coisas) o fantasma salazarento não se faz velho.
Pois bem, não façam promessas para não serem apanhados em mentiras, a estratégia está queimada, qualquer papalvo a denuncia - sentenciaram os técnicos de marketing. Há coisas, porém, que já nem o mais pintado dos marketeers consegue disfarçar: a imagem de mentiroso do primeiro-ministro em exercício. Dela já não se livra; quem o escolher é porque gosta de ser enganado, uma escolha tão legítima como qualquer outra. O homem é mentiroso compulsivo, vive disso e a aldrabice congénita acompanhá-lo-á até à tumba.
Não julguem que é o único do arco da governação. Não, não estou a pensar no dr. Portas, manipulador e aldrabão com um talento que faz do seu chefe um mentiroso reles, tipo bufo de escola.
Falo do dr. Costa, correndo o país de lés-a-lés não fazendo promessas mas levando uma grande mentira na bagagem, embrulhada no papel pardacento de um dos mais gritados dos seus números: o de que ao fim de um pretendido consulado de quatro anos sob a sua regência a dívida portuguesa cairá dos impagáveis 130% do PIB para outros impagáveis 117% - sem mencionar uma hipotética renegociação, imagine-se. Deixo vénias ao blogue O País do Burro por ter alertado para a enormidade da mentira do dr. Costa através de cálculos que pessoalmente confirmei com algumas continhas de quarta classe, tirando as respectivas provas dos nove. Para que a promessa do dr. Costa se cumpra é preciso que a economia portuguesa suba entre 8 a 8,5% ao ano nos próximos quatro anos – mais do que a chinesa, pois claro, mas esses estão em crise – quando agora, muito timidamente e certamente manipulada por impulsos eleitorais, mal passa de 1%.
Várias conclusões se podem tirar desta promessa do dr. Costa, que não é promessa mas sim um número, e dos bons. Talvez ele seja um milagreiro; talvez ele e os seus mentores apenas não saibam fazer contas – seguindo as pisadas lendárias do dr. Soares; talvez ele tenha escondida na manga uma austeridade que fará parecer os agentes da troika uns anjinhos papudos, mas não o poderemos saber porque o dr. Costa foge das promessas como o diabo da cruz; ou talvez o dr. Costa seja um grande mentiroso, rivalizando com os companheiros de arco, o dr. Coelho e o dr. Portas, ficando tudo em família.
Confesso que não sei por qual destas hipóteses me decida. Deixo-vos o final em aberto.
 

domingo, 13 de setembro de 2015

UMA BANDEIRA VIRTUAL



A ONU vai hastear a bandeira da Palestina entre as dos membros da organização em frente ao palácio de vídeo em Nova Iorque, por decisão da Assembleia Geral. Acontecimento histórico, dizem uns; decisão tardia, argumentam outros; movimento simbólico, asseguram uns tantos; faz-se justiça, consideram mais alguns.
A verdade é que todos e nenhum têm razão. A iniciativa é tudo isso, histórica, tardia, simbólica, justa, mas nada altera. A decisão da Assembleia Geral, como muitas aprovadas por este órgão que deveria representar a vontade dos povos do mundo, é ineficaz – mais do que isso, inútil.
Será importante, sem dúvida, para os palestinianos e todos os que com eles se solidarizam na luta pelos seus inalienáveis direitos, ver a bandeira da Palestina reflectida nos vidros do palácio que deveria representar o respeito pela vontade e os direitos de todos os cidadãos da Terra. Mais importante seria, porém, que a presença dessa bandeira correspondesse à concretização absoluta e sem ambiguidades de um Estado da Palestina - um Estado viável, é claro - um conceito que a ONU aprovou há 77 anos em decisão inscrita no direito internacional e a cujo cumprimento se tem furtado durante as quase oito décadas transcorridas.
Os palestinianos revêem-se, orgulhosos, nessa bandeira. Acreditam que talvez a nova realidade, simbólica e formal, possa acelerar a instauração do Estado viável que lhes é devido pela chamada comunidade internacional, mas isso não determina que alguma coisa mude. A bandeira é virtual e tudo indica que continue a sê-lo por muitos e maus tempos.
Porque a ONU é uma farsa. Quase sempre o foi, mas o quadro tem-se degradado para patamares inconcebíveis, sobretudo desde que há um quarto de século acabou a bipolaridade como sistema não convencionado, mas real, de funcionamento das coisas internacionais.
Observando como este caso da bandeira da Palestina simboliza a degeneração da ONU em relação aos seus princípios fundadores avulta, desde logo, o facto de a Assembleia Geral, o órgão de estatuto mais democrático da instituição, não mandar nada. Vota e pronto; depois nada acontece, porque os países supostamente mais democratas de todos – a democracia da força em vez da força da democracia -, os membros permanentes do Conselho de Segurança, que se barricam atrás de normas por si estabelecidas para proveito próprio, mandam e desmandam em tudo o que acontece ou há-de acontecer no mundo.
Assim sucede, uma vez mais, por detrás da decisão sobre a bandeira da Palestina. Os Estados Unidos da América votaram contra – enquanto dizem que são a favor de um Estado da Palestina, ironia das ironias – porque para que tal aconteça é preciso levar a bom porto o “processo de paz” que eles e o seu “inseparável aliado” Israel patrocinam e ao mesmo tempo sabotam. Um processo de paz cuja invocação é caricata, mas cujo conceito serve para que se vá consumando a ocupação israelita de toda a Palestina, invalidando a criação do tal Estado – viável, repete-se, porque nenhuma outra coisa será admissível, muito menos uma caricatura - cuja bandeira virtual irá agora ondular em frente à sede da ONU. Anoto que o governo português se absteve nesta matéria, isto é, tomou a posição dos cobardes num assunto com tal gravidade, como quem se refugia num canto para não incomodar seus amos: a Alemanha, que também se absteve; e os Estados Unidos, que chefiam os anglo-saxónicos e seus apêndices secundando a sanha terrorista de Israel.
Pela ordem natural – e aberrante – das coisas, quando a bandeira da Palestina for hasteada em Manhattan o povo de Gaza continuará a tentar sobreviver no campo de concentração em que o território foi transformado pelo regime de Israel, com beneplácito das principais potências da ONU; o muro que confina o povo da Palestina a bantustões miseráveis, isolados, verdadeiros campos de morte lenta, estará ainda mais sólido e longo; milhares de palestinianos continuarão a penar nas prisões israelitas, vítimas de actos arbitrários e cruéis que violam quaisquer compêndios de direito, mesmo os coligidos pelos mais sórdidos regimes; os colonatos sionistas estarão, ainda e sempre, absorvendo metro a metro o território da Palestina, numa ocupação para já irreversível que desmonta qualquer “processo de paz”; uma nova cerca ou muro já em construção – estão na moda – tornará estanque a transição de seres humanos entre a Palestina ocupada e a Jordânia; os militares israelitas continuarão a fazer o que muito bem lhes apetece contra os indefesos palestinianos; as deportações prosseguirão. A Nakba, a catástrofe do povo da Palestina, segue o seu caminho sinistro.
Uma bandeira, por muito orgulhosa e legítima que seja, não elimina nada disto. Porque tudo isto faz dela uma bandeira justa e insubstituível, mas ainda virtual.
 

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

MOMENTO HISTÓRICO DE MISTIFICAÇÃO


 
Um dos figurantes da noite d’”O Debate” assegurou, empolgado, que estávamos a viver um momento histórico e não serei eu que irei retirar-lhe a razão. Foi histórico, sim senhoras e senhores, aquele “Debate”, porque além de ter sido a maior operação de propaganda situacionista que Portugal viveu – e não é dizer pouco num país que sofreu quase meio século sob um regime fascista – também foi bastante esclarecedor para os cidadãos com os olhos abertos: revelou-se o mais consistente exemplo da mistificação a que chegou a democracia portuguesa como subproduto do conceito de democracia vigente na União Europeia.
Em boa verdade, os figurantes e os actores pareciam ter chegado de outro planeta, quiçá de Marte, numa confirmação do advento ainda há pouco proclamado pelo dr. Costa sobre a iminente arribação de marcianos. Esclarecer não era o objectivo, como se percebeu através da penosa série de perguntas retóricas e dos monólogos a corresponder-lhes, para que no fim triunfasse, como triunfou, o todo-poderoso arco da governação, porque outro resultado não seria possível, o 1 era igual ao X e ambos igualíssimos ao 2, nunca foi tão fácil acertar no Totobola. Todos os cinco em cena corresponderam ao que deles se esperava como micro universo do sistema político-propagandístico que destina a vida dos portugueses, a exemplo dos outros que controlam as vidas dos 27 povos da União. E o desfecho também não surpreendeu, porque “O Debate” não foi montado para que dele nascesse a luz mas antes alastrasse a confusão, de modo a transformar a escolha eleitoral num duelo entre dois clubes, à maneira de uma refrega futebolística.
O lado mais importante do “Debate”, e daí a importância histórica desta mega operação propagandística do chamado arco da governação, é o que está para além dele. Creio que é essencial reflectir sobre isso.
O momento d’”O Debate” não foi escolhido por acaso. Travou-se a cerca de um mês antes da data das eleições, ainda no exterior da campanha eleitoral, e não em cima da votação, por uma razão muito simples: marcar a agenda e os temas da campanha. Do mesmo modo que a magna manobra foi organizada de maneira a convencer os eleitores que não há escolha para lá destes dois figurões e respectivas famílias políticas – família política, para ser mais preciso – ficaram também estabelecidos os tons e os temas da campanha. Disso se encarregam os dois ilustres senhores e, sobretudo, a corte de analistas, comentadores e especuladores oficiais do regime, os quais irão espremer o “Debate” e respectivas nuances, inflexões e sound-bites criando a confusão e o ruído necessários para que não se faça política, mas sim lavagem cerebral.
Os que ainda conseguem lembrar-se de qualquer coisa que tenha acontecido n’”O Debate” sabem muito bem que por ele não passaram, por exemplo, a Educação, as trapaças do Tratado Orçamental, os beija-mãos à senhora Merkel; da Saúde deitaram-se uns pozinhos para os olhos, da Justiça cruzes credo, t’arrenego, Agricultura, Indústria e Pescas que é delas – em boa verdade não deve falar-se de coisas que foram devastadas pelas duas tão aconchegadas famílias. Para o desemprego e a segurança social guardaram-se as piruetas estatísticas, investimento público nem pensar porque é público, logo ofensivo do mercado. Quanto à troika, parece que a tão famosa “ajuda” foi renegada agora que se aproxima a hora de as vítimas da austeridade terem uma palavra a dizer, porque afinal ninguém a chamou. O dr. Coelho diz que foi o eng. Sócrates; e o dr. Costa, que não consegue sequer pronunciar o nome do eng. Sócrates, se calhar ao tempo trabalhava apenas como porteiro no Largo do Rato.
Enfim, a campanha oficial vai ser um desdobramento d’”O Debate” em doses sucessivas, de maneira a que as propostas elaboradas por outras forças políticas que não as do arco da governação sejam esmagadas por um tenebroso aparelho de mistificação que se entretém a fingir que discute o passado por não ter a coragem e a frontalidade de assumir que pretende mais do mesmo para o futuro do país: austeridade, submissão, desigualdade, arbitrariedade, miséria, emigração.
“O Debate” foi histórico, sem dúvida. Demonstrou como os impérios da propaganda travestidos de comunicação – com os respectivos tentáculos multinacionais e imperiais – protegem os seus agentes na política, de maneira a que os momentos potencialmente incómodos, como é o caso de umas eleições gerais, sejam ultrapassados sem danos e até com proveitos acrescidos.
 

terça-feira, 8 de setembro de 2015

UMA ATERRADORA TRAMA DE CRISES


 
Desde que se tornou pasto da tenebrosa máquina de manipulação em que se transformou a comunicação social dominante, a chamada “crise dos refugiados” está a ser deliberadamente desfocada do seu centro nevrálgico, a questão humanitária, mediante o recurso aos artifícios habituais onde se movem os pescadores de águas turvas, os oportunistas de grosso calibre e, sobretudo, os barões político-militares para quem o mundo é um vasto tabuleiro de guerras e rentáveis oportunidades.
Nas últimas horas, aviões de guerra franceses e britânicos, os mesmos ou gémeos dos que há três anos deixaram a Líbia no caos, começaram a sobrevoar a Síria com o objectivo proclamado de combater simultaneamente o regime de Bachar Assad e o Estado Islâmico, coisa em que ninguém acredita, nem os próprios. A prová-lo está o caricato anúncio de um exercício de tiro britânico já realizado em território sírio para liquidar terroristas que, imagine-se, projectavam abater essa nobre dama que é a rainha de Inglaterra. Em suma, à boleia da “crise dos refugiados”, a NATO entrou directamente na guerra contra a Síria, como os mais falcões dos atlantistas há tanto desejavam.
Descodifiquemos os factos. Depois de o presidente francês Hollande ter declarado que acolher todos os refugiados seria “fazer a vontade ao Estado Islâmico”, aviões franceses e ingleses, logo da NATO (por inerência) entraram em acção num país soberano, sem mandato da ONU nem autorização do governo legítimo, para intimidarem não apenas esse governo como (alegadamente) um grupo que o combate, neste caso o Estado Islâmico, protegido e criado por países aliados de França e do Reino Unido como são Israel e os Estados Unidos da América. Continuando a descodificação, lembro que esse mesmo Estado Islâmico não é mais do que uma consequência directa do desmantelamento do Iraque, da Líbia e da guerra civil síria. Prosseguindo ainda a descodificação, recordo que países como o Qatar e a Arábia Saudita, tão aliados de França, do Reino Unido e da NATO como são os Estados Unidos e Israel, desempenham papéis preponderantes nas situações de caos que geraram a avalanche de refugiados na Europa, sendo que nenhuma dessas monarquias torcionárias do Golfo está disposta a acolher um único refugiado que seja.
Apesar de a teia ser complexa, não é impossível detectar que a actual crise dos refugiados tem o dedo dos Estados Unidos da América e da NATO, como reconhecem, aliás, os serviços de informações militares da Áustria, pelo que, assim sendo, não será novidade para qualquer país da União Europeia.
Porém, não se vejam apenas desvantagens europeias neste fluxo de seres humanos desesperados, fugindo a guerras fomentadas também por potências europeias. Ouçamos o senhor Ultich Grillo, todo-poderoso patrão dos patrões alemães, à cabeça da Federação da Indústria (BDI). “Como país próspero e também pelo amor cristão ao próximo a Alemanha deve permitir-se acolher refugiados”, declarou. Tal como está a acontecer, e logo a um ritmo que permite prodigalizar enfáticos e universais elogios à senhora Merkel. “Devido à nossa evolução demográfica”, acrescenta o senhor Grillo, “asseguramos o crescimento económico e a nossa prosperidade graças à imigração”. Descodificando – será que é mesmo preciso? – desgraçados maduros para aceitar trabalho escravo como quem entra no paraíso são como pão para a boca para os barões da indústria alemã e pangermânica, como outrora foram tão úteis os degredados em campos de concentração.
Assim sendo, nestes dias observamos países que criaram guerras e desmantelaram nações, dando origem a uma vaga de refugiados para a Europa - compartimentando este continente entre cercas e muros com tonalidades concentracionárias -, partirem para novas fases das mesmas guerras, agora sob o pretexto de travarem o movimento de fuga combatendo grupos terroristas que são seus cúmplices e em cuja criação e desenvolvimento participaram. São assim, senhoras e senhores, os dirigentes políticos, militares e económicos que nos governam. Mentirosos irresponsáveis ao serviço de patrões e interesses que ganharão sempre com a tragédia de milhões de seres humanos, sejam quais forem os desfechos das sucessivas crises.
 
 

domingo, 6 de setembro de 2015

NA VIA DA FRAUDE ELEITORAL



Em Portugal, aquilo a que chamam campanha eleitoral degenerou em fraude eleitoral enquanto a Comissão Nacional de Eleições faz papel de morta para condizer com o estado da democracia.
Fraude eleitoral, sim, senhoras e senhores. Não apenas por causa do magno “debate”, “O Debate”, como lhe chamam, uma gigantesca burla mediática em que se associam os maiores impérios censórios da nação numa desavergonhada operação de propaganda do chamado “arco da governação”. Chamar-lhe “O Debate” é um insulto à inteligência dos portugueses, porque não passa de uma luta encarniçada de galos pelo poleiro que o sistema lhes reservou por suposta inerência, esgrimindo com promessas mentirosas e êxitos virtuais para que tudo continue na mesma, a bem do “mercado” e das suas viciosas necessidades de engorda.
Fraude eleitoral, sim, senhoras e senhores. Uma consequência natural do estado de podridão a que chegaram os órgãos de soberania da nação, entretidos com tricas entre castas que vivem do saque dos bens, dos medos e angústias dos cidadãos, gigolos de um processo mediático-judiciário em que os tempos e os espaços daquilo a que chamam justiça contaminam tudo o que deveria ser a concentração da atenção nos reais problemas dos portugueses, em que os “sound bites” vomitados pelos estrategos de marketing publicitário temporariamente contratados pelas “máquinas partidárias” ditam aquilo que vai ser repetido até à exaustão pelos criados ao serviço dos impérios da propaganda.
Isto não é uma campanha eleitoral, senhoras e senhores. Isto é uma monstruosa lavagem ao cérebro com um requinte que nem Orwell imaginaria, ele que previa a atribuição a porcos de actividades que, afinal, foram entregues aos sacerdotes tecnocratas da modernidade, a cavalo nas mais delirantes tecnologias – para acabarem prosaicamente a entrevistar entregadores de pizas.
As leis eleitorais ditam que todas as entidades que apresentam candidatos ao Parlamento, partidos ou coligações, devem ser objectos de um tratamento igualitário, de modo a que os cidadãos tenham conhecimento de todas as propostas para o futuro do país e possam decidir de acordo com as suas consciências assim esclarecidas. Que se danem as leis! O que à partida ficou estabelecido é que existem dois candidatos a sério, que a opção dos eleitores é apenas entre “este” ou “aquele”, sendo que “este” e “aquele” matam o tempo entre jogos de palavras para depois, como sempre, acabarem no colo um do outro ora arrulhando ora arrufando consoante as conveniências, para que o rebanho siga ordeiro a sua via-sacra triste, penosa, sem horizonte nem fim à vista. Os outros candidatos existem, que remédio, para que se cumpra a democracia, mas não vale a pena gastar cera com tão ruins defuntos
O aparelho de propaganda, que substitui com visíveis vantagens e uma eficácia exponencial os lápis azuis dos velhos coronéis, alimenta o festim rapinante entretendo os eleitores com o que fazem ou deveriam fazer “este” e “aquele” até à hora do voto. Para isso existe “O Debate”, transmitido directamente e em cadeia, como uma velha jornada futeboleira, pelas principais estações de televisão. Os outros, os debates organizados para que se finja cumprir a lei eleitoral, vão para os canais das segunda e terceira divisões televisivas, a que nem todos têm acesso, trocando-se assim uma audiência de milhões, tornada obrigatória e sem concorrência, por sessões facultativas ou proibidas dedicadas a alguns milhares – e para quem é bacalhau basta, dirão os enfatuados herdeiros dos coronéis.
Entretanto tempera-se tudo com estatísticas e sondagens vertidas à medida “deste”, “daquele” ou dos dois, para que em vez da vida das pessoas se discutam virtualidades numéricas que demonstram uma coisa e a sua contrária, consoante a perspectiva de que são olhadas ou interpretadas pelos doutores da propaganda.
A fraude eleitoral, em suma, é a maneira de dizer aos eleitores que os problemas da vida que é a sua não são aqueles que eles sentem na pele, na carne e no sangue, mas sim aquilo de que falam “este” e “aquele” e lhes é mostrado por aquelas caixas falantes e coloridas que irremediavelmente os hipnotizam.
A campanha eleitoral em Portugal não é alegre, esclarecedora, sequer uma campanha. É uma burla oficial.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

O RETORNO DA MORDAÇA FRANQUISTA


 
O senhor Mariano Rajoy é o franquismo sem Franco, é um herdeiro mal polido dos golpistas de 36, a mistura tenebrosa de Escrivá de Balaguer com Milton Friedman, um fantasma errante do Vale de Los Caídos que continua a assombrar os espanhóis, um rasto fedorento da Santa Inquisição.
É sabido que os fascismos ibéricos souberam prontamente cobrir-se com os mantos do pluralismo político de maneira a recuperarem as condições para restaurarem as essências dos velhos poderes em versões modernizadas, imitações cada vez menos fiéis da democracia. Como se não tivesse havido uma revolução em Portugal ou uma “transição” em Espanha. Não é difícil identificar onde se acoitaram as mentalidades fascistoides em Portugal e em Espanha. Sendo que neste país, por não ter havido um corte revolucionário, o Partido Popular nem precisou de se travestir de “centrista” ou até de “social-democrata”; bastou-lhe sinalizar que era de “direita democrática” para os franquistas nele pousarem os olhos e se acomodarem.
Agora, como sinal dos tempos em que se torna cada vez menos necessário invocar a democracia porque esta e a “liberdade do mercado” se tornaram sinónimos, o senhor Rajoy e o seu PP nem se dão ao trabalho de disfarçar a veia onde lhes corre o sangue do autoritarismo, assim activada porque os sinais de que a vontade popular e o Partido Popular são como azeite e água, não se misturam, são cada vez mais evidentes.
O senhor Mariano Rajoy, feito poder que pretende eternizar-se a par de uma monarquia corrupta que é ilegítima há pelo menos 80 anos e, quiçá, como o próprio Generalíssimo, aproveita o seu poder parlamentar para se armar com leis que minam o poder democrático. A mais recente, entrada em vigor a 1 de Julho, é a que inclui medidas para garantir a “segurança do Estado” – esse Estado reduzido ao desempenho penoso das funções que os senhores privados e a igreja não desejam, por não serem negócios lucrativos – e que, pelo seu conteúdo, ficou popularmente conhecida como “lei da mordaça”.
“Mordaça” porque inibe os cidadãos de expressarem publicamente as suas opiniões sobre os comportamentos das entidades policiais. Em boa verdade é mais do que uma “lei da mordaça” – é um hino ao Estado policial. Uma mulher que publicou no Facebook uma fotografia de uma viatura policial estacionada abusivamente num lugar para deficientes foi multada em 800 euros; um historiador teve problemas com as autoridades por ter declarado, no uso do seu direito de crítica e de liberdade de expressão, que serviços policiais se comportaram como “uma casta de desocupados”. Nos termos da nova lei é proibido convocar manifestações através das redes sociais – foi assim que nasceu o movimento Podemos – e fazer concentrações junto de lugares públicos, como o Parlamento e as instalações de poder local. E ai de quem publicar fotografias de agentes policiais em acção!
Apesar dos incentivos à eternização no governo que tem recebido como recompensa pela submissão aos credores e aos gangs da especulação financeira, mau grado a muralha de autoritarismo atrás da qual se tem barricado, o senhor Rajoy, mestres e lacaios têm pela frente povos de um país a quem ainda devem uma República, a quem continuam a pretender negar a plena afirmação dos seus direitos nacionais, povos cansados de desemprego, de arbitrariedade, de manipulação e dos medos cultivados para os acorrentar.
Pense-se nesta “lei da mordaça”, nas tentativas de restauração de um Estado policial, comparem-se com a ira crescente dos povos de Espanha e não será difícil deduzir que os sinais dados pelo governo neofranquista são mais de desespero que de força.
Os povos de Espanha estão longe de se conformarem frente a estes franquistas tão mal disfarçados que nem o bigode lhes falta.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

INTRODUÇÃO À TEORIA DO CAOS


 

É provável que nenhum dirigente da União Europeia ou de Estados membros tenha alguma vez ouvido falar da “teoria do caos”, lançada e burilada no pós-guerra pelo filósofo Leo Strauss, da elite política judia e do establishment dos Estados Unidos, continuada até hoje pelos seus discípulos - e financiada pelo Pentágono. Raros são também os jornalistas que a integram nas suas investigações e análises, sujeitando-se a ser imediatamente rotulados como seguidores lunáticos das chamadas teorias da conspiração.
Em poucas palavras, a “teoria do caos” de Strauss estabelece que a melhor maneira de os Estados Unidos da América impedirem a criação de países ou blocos rivais e beneficiarem de matérias primas baratas e com acesso desregulado é através da instauração de situações de caos governamental e social em diferentes países e regiões, de maneira a que Washington delas possa tirar proveito praticamente exclusivo. Para Leo Strauss, a criação de situações de caos favoráveis aos Estados Unidos deveria ser um fim, nunca um meio.
A “teoria do caos” de Strauss teve desenvolvimentos no início dos anos noventa do século passado, quando Washington tratou de fazer vingar a unipolaridade disfarçada de multipolaridade a seguir ao desmembramento da União Soviética. Por iniciativa de George Bush pai nasceu então a “teoria Wolfowitz”, que deve o nome a Paul Volfowitz, discípulo de Strauss, igualmente membro da elite judia norte-americana, arquitecto da política externa de George Bush filho e da invasão do Iraque. Também foi presidente do Banco Mundial. Regressou à sombra depois de conhecidos os escândalos através dos quais rateava cargos públicos entre os amigos neoconservadores, familiares e namoradas.
Em poucas palavras, a “teoria Wolfowitz – ainda secreta mas parcialmente revelada pelo New York Times e pelo Washington Post em Março de 1992 – estabelece que a supremacia global norte-americana exige o controlo militar, político e económico sobre a União Europeia, para que esta não se torne uma potência capaz de rivalizar com os Estados Unidos. Aliada sim, mas nunca em plano igualitário.
Suponhamos então que a teoria de Strauss e a sua sucessora delineada por Wolfowitz não passam de delirantes teorias da conspiração. Suponhamos até que o seu gestor financiado pelo Pentágono, Andy Marshall, não se reformou apenas no ano passado, já com 92 anos, e nunca existiu. Nem foi nomeado em 1973 – sucedendo a Leo Strauss, por morte deste – por Richard Nixon e confirmado por todos os presidentes até Obama.
Ignoremos então esses supostos delírios e olhemos para a Europa, em especial para a União Europeia e respectivo percurso desde o início dos anos noventa do século passado. Reflictamos sobre as consequências do mergulho suicida no neoliberalismo, da submissão à NATO como braço operacional do Pentágono, do envolvimento em guerras desencadeadas pelos Estados Unidos, desde o Afeganistão à Síria e à Líbia, onde aliás as principais aventuras militares foram confiadas à França de Sarkozy/Hollande e ao Reino Unido de Cameron. Observemos o que está a acontecer na Europa, sobretudo na União Europeia, com a tragédia dos refugiados resultante dessas guerras.
Não será disparatado concluir que a hecatombe humanitária, política e económica dos refugiados resulta das situações de caos criadas no Afeganistão, no Iraque, na Somália, na Líbia, no Mali, na Nigéria, na Síria, no Iémen. Antes destas guerras com a marca do Pentágono, arrastando os mais importantes países da NATO em condições de subalternidade, o problema dos refugiados na Europa não atingira nunca uma dimensão sequer próxima da que agora se regista.
A Europa está há longos anos mergulhada numa crise disparada a partir dos Estados Unidos e que se alimenta a si mesma pelos erros sucessivos cometidos pela União Europeia ao pretender ser um espelho do modelo do lado de lá do Atlântico, mas sem voz própria militar e económica. Crise essa que se agrava através da submissão reforçada com o acordo de comércio livre (TTIP) e, sobretudo, com o problema dos refugiados decorrente das situações de caos que estão para lavar e durar nas zonas e países atrás citados. A gravidade da crise dos refugiados é o veículo que transporta o caos para o interior das fronteiras europeias, potenciado de maneira desagregadora pelo recrudescimento do terrorismo nazi-fascista.
A “teoria do caos” será uma miragem, mas o caos real vai provocando os efeitos desejados pelo complexo militar, político, económico e financeiro que domina o mundo sob as bandeiras dos Estados Unidos e da NATO.