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sábado, 22 de agosto de 2015

ATROCIDADE POLÍTICA


 
A mais grave das atrocidades políticas entre as que continuam a ser cometidas em Portugal, com a banalidade de quem bebe um copo de água, está a ficar soterrada sob o chorrilho de intrigas e boçalidades proferidas neste período pré-eleitoral, no qual a discussão se trava em reles tons futeboleiros.
Quando o deputado e candidato governamental Carlos Peixoto disse o que lhe vai na alma fascista, vertendo em palavras a essência da política do governo em relação aos reformados, pensionistas e idosos do país – emigrantes incluídos – as centrais de propaganda, atentas às inconveniências que podem perturbar o desejado andamento do circo eleitoral, chutaram rapidamente o assunto para a secção das fofocas.
No entanto, o que Carlos Peixoto disse, deitando as culpas do estado a que o país chegou para cima da “peste grisalha”, é um acto político relevante, grave e criminoso, que não pode cair no silêncio e no esquecimento. A declaração de Peixoto é todo um programa político governamental, é a exposição crua de uma mentalidade de governo, vale por mil discursos de ministros, milhões de arengas de deputados, biliões de promessas mentidas ao domicílio de cada eleitor.
“Peste grisalha” representa, no cenário político português, o mesmo que a “praga” de que o primeiro ministro britânico Cameron se queixa a propósito dos refugiados que pretendem encontrar na Europa o abrigo para as guerras levadas aos seus países por essa mesma Europa. São expressões de mentes segregacionistas, da mesma massa de que se fazem os exterminadores para quem cada ser humano é descartável e se reduz à expressão simples de um cifrão.
A “peste grisalha” a quem o candidato governamental Peixoto deseja que seja breve o caminho para os cemitérios ou para os fornos crematórios, é culpada de uma coisa, sim senhoras e senhores: a de ter conseguido que o país ainda exista apesar dos desmandos das cliques governamentais que o assaltaram. Essa “peste grisalha” ainda aturou décadas de vigência dos transtornos psicopatas fascistas, recebeu como bónus alguns meses do ar livre de Abril para, logo depois, voltar a ser perseguida pelo extenso bando de cleptocratas que, desde a chamada do FMI e o aprisionamento do socialismo na gaveta aos aios da senhora Merkel, mais não fez do que sugá-la. Essa “peste grisalha” assistiu à oferta de bens públicos e nacionalizados aos que sempre saquearam o país, à venda ao desbarato das riquezas e empresas que também lhe pertenciam; observou, com impotência absoluta, a desgraçada entrada na CEE e a criminosa invasão do euro que nos destruiu os campos, os mares e a indústria; e agora é obrigada a pagar parte de leão dos desvarios de uma dívida incobrável pela qual não é responsável, dívida essa que resulta de um regime em que a democracia apodreceu em forma de cleptocracia.
“Peste grisalha” é um autêntico programa de governo, repito. Vale por uma agenda real que se sobrepõe a toda a qualquer promessa dirigida aos portugueses menos jovens pelos candidatos do arco governamental. O conceito de “peste grisalha” é um dos que ficará depois de esfumados os ecos das romarias eleitorais de uma democracia virtual. O conceito de “peste grisalha” é uma atrocidade política, é certo, mas é a única declaração de princípios de quem não tem quaisquer outros princípios, palavra de ordem sagrada para os que pretendem continuar com as atrocidades governamentais.
As acusações à “peste grisalha” ficam até agora, por muito infames que sejam, como os únicos lampejos de verdade apresentados aos eleitores por todas as áreas que se dizem vocacionadas para governar, as mesmas para quem um euro é um euro e uma pessoa é um estorvo, a não ser que já se tenha rendido a beijar o chão pisado pelos donos disto tudo.
 

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