A mais grave das atrocidades políticas entre as que
continuam a ser cometidas em Portugal, com a banalidade de quem bebe um copo de
água, está a ficar soterrada sob o chorrilho de intrigas e boçalidades
proferidas neste período pré-eleitoral, no qual a discussão se trava em reles
tons futeboleiros.
Quando o deputado e candidato governamental Carlos Peixoto
disse o que lhe vai na alma fascista, vertendo em palavras a essência da
política do governo em relação aos reformados, pensionistas e idosos do país –
emigrantes incluídos – as centrais de propaganda, atentas às inconveniências
que podem perturbar o desejado andamento do circo eleitoral, chutaram
rapidamente o assunto para a secção das fofocas.
No entanto, o que Carlos Peixoto disse, deitando as culpas
do estado a que o país chegou para cima da “peste grisalha”, é um acto político
relevante, grave e criminoso, que não pode cair no silêncio e no esquecimento.
A declaração de Peixoto é todo um programa político governamental, é a
exposição crua de uma mentalidade de governo, vale por mil discursos de ministros,
milhões de arengas de deputados, biliões de promessas mentidas ao domicílio de
cada eleitor.
“Peste grisalha” representa, no cenário político português,
o mesmo que a “praga” de que o primeiro ministro britânico Cameron se queixa a
propósito dos refugiados que pretendem encontrar na Europa o abrigo para as
guerras levadas aos seus países por essa mesma Europa. São expressões de mentes
segregacionistas, da mesma massa de que se fazem os exterminadores para quem
cada ser humano é descartável e se reduz à expressão simples de um cifrão.
A “peste grisalha” a quem o candidato governamental Peixoto
deseja que seja breve o caminho para os cemitérios ou para os fornos
crematórios, é culpada de uma coisa, sim senhoras e senhores: a de ter
conseguido que o país ainda exista apesar dos desmandos das cliques
governamentais que o assaltaram. Essa “peste grisalha” ainda aturou décadas de
vigência dos transtornos psicopatas fascistas, recebeu como bónus alguns meses do
ar livre de Abril para, logo depois, voltar a ser perseguida pelo extenso bando
de cleptocratas que, desde a chamada do FMI e o aprisionamento do socialismo na
gaveta aos aios da senhora Merkel, mais não fez do que sugá-la. Essa “peste
grisalha” assistiu à oferta de bens públicos e nacionalizados aos que sempre
saquearam o país, à venda ao desbarato das riquezas e empresas que também lhe
pertenciam; observou, com impotência absoluta, a desgraçada entrada na CEE e a
criminosa invasão do euro que nos destruiu os campos, os mares e a indústria; e
agora é obrigada a pagar parte de leão dos desvarios de uma dívida incobrável
pela qual não é responsável, dívida essa que resulta de um regime em que a
democracia apodreceu em forma de cleptocracia.
“Peste grisalha” é um autêntico programa de governo, repito.
Vale por uma agenda real que se sobrepõe a toda a qualquer promessa dirigida
aos portugueses menos jovens pelos candidatos do arco governamental. O conceito
de “peste grisalha” é um dos que ficará depois de esfumados os ecos das
romarias eleitorais de uma democracia virtual. O conceito de “peste grisalha” é
uma atrocidade política, é certo, mas é a única declaração de princípios de
quem não tem quaisquer outros princípios, palavra de ordem sagrada para os que
pretendem continuar com as atrocidades governamentais.
As acusações à “peste grisalha” ficam até agora, por muito
infames que sejam, como os únicos lampejos de verdade apresentados aos
eleitores por todas as áreas que se dizem vocacionadas para governar, as mesmas
para quem um euro é um euro e uma pessoa é um estorvo, a não ser que já se
tenha rendido a beijar o chão pisado pelos donos disto tudo.
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